TAM: recuperação judicial será o triste fim da icônica companhia aérea?
A subsidiária brasileira da Latam bem que tentou escapar do destino de sua controladora chilena, que entrou em recuperação judicial no fim de maio, mas não conseguiu. Nesta quinta-feira (9), a unidade brasileira se juntou à matriz, e pediu proteção do Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos.
Mais do que confirmar os profundos impactos econômicos da pandemia de coronavírus, o caso pode representar o fim de uma das mais icônicas companhias aéreas brasileiras, a TAM.
É verdade que a marca, oficialmente, não existe desde 2012, mas, basta ter um pouco mais de milhagem no mundo das viagens aéreas para ouvir alguém dizer ainda hoje, com toda a naturalidade, voou pela TAM nas férias.
E, convenhamos, a Latam é a junção das marcas Lan e TAM, as companhias que se uniram em agosto de 2010 para criar a maior companhia aérea da América Latina.
Fundada em 1961 como Táxi Aéreo Marília por um grupo de dez pilotos, a empresa iniciou suas operações com o transporte de cargas e passageiros entre os Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso.
Seis anos depois, a companhia foi comprada pelo empresário Orlando Ometto, que mudou seu foco para o transporte de malotes e a sede para a capital paulista.
Comandante Rolim
Em 1971, o personagem que transformaria a TAM numa potência nacional entrou em cena: Rolim Amaro, que havia trabalhado como piloto da companhia, em seus primeiros anos, e retornava então, a convite de Ometto, como sócio minoritário, com 33% do capital.
Em 1972, o comandante Rolim, como foi chamado até sua morte, em 2001, assume o controle da empresa e inicia sua transformação. Nos anos seguintes, o empresário projetou a TAM como um modelo de excelência no atendimento aos passageiros e na pontualidade dos voos.
Um dos motivos era o seu exigente público-alvo: homens e mulheres de negócios, que não poderiam perder viagens ou compromissos de trabalho.
Os mimos de Rolim aos clientes ficaram famosos, como o tapete vermelho para o embarque na aeronave, o piano na sala VIP e ele próprio cumprimentando a todos no portão de embarque.
Em 2001, a TAM assumiu a liderança do mercado brasileiro de aviação, na esteira das frequentes dificuldades do setor, que levaram à falência uma série de companhias veteranas, como a Vasp, Transbrasil e Varig.
Após a morte de Rolim, seus filhos assumiram o comando da TAM e costuraram a fusão com a chilena Lan, controlada pela família Cueto, em 2010.
Fusão
Na época, a brasileira se ressentia da grande crise financeira iniciada com o estouro da bolha imobiliária americana, em 2008, que foi apontada, então, como o pior momento da economia mundial, desde a quebra da Bolsa de Nova York em 1929.
Para cumprir a lei brasileira que, na época, restringia a participação de estrangeiros a 20% do capital de companhias aéreas, os Amaro permaneceram no controle da TAM, e a fusão ocorreu com a criação a holding Latam.
Embora a fatia de cada sócio na holding não tenha sido divulgada, a imprensa apurou, na ocasião, que os chilenos deteriam cerca de 71%, e os brasileiros, 29%.
Hoje, contudo, a família Amaro tem uma influência bem menor no comando dos negócios, com apenas 2% do capital da Latam. Os Cueto seguem como os maiores acionistas, com 21,5%, mas convivem com outros sócios poderosos, como a Delta Air Lines (20%) e a Qatar Airways (10%).
Socorro incerto
Agora, a sobrevivência da Latam Brasil depende da renegociação de dívidas com os credores. A empresa também negociou, nos últimos meses, um pacote de socorro com o governo, intermediado pelo BNDES.
As dificuldades para costurar um acordo, contudo, já eram sentidas desde o início da pandemia. Na já anedótica reunião ministerial de 22 de abril, por exemplo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao se referir às negociações para socorrer o setor, afirmou que “não vai ter molezinha pra empresa aérea; nada pra isso”.
Se o governo não se apressar, Guedes poderá reformular a frase simplesmente para “não vai ter empresa aérea”.