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Talvez seja hora para um “Eurotrip” (ainda que de curta duração)

26 jan 2023, 13:26 - atualizado em 26 jan 2023, 13:26
Mercados globais
Aposta tática na Europa parece fazer sentido., com múltiplo Preço/Lucro projetado abaixo da média histórica (Imagem: REUTERS/Kai Pfaffenbach)

Caro leitor,

Esses primeiros dias de 2023 tem mostrado uma diferença relevante em relação aos últimos anos no mundo dos investimentos. Se o grande vencedor na última década foi uma carteira focada em empresas americanas, principalmente aquelas do segmento de tecnologia (e, sendo ainda mais específico, uma composta pelas Big Techs), parece que as perspectivas atuais apontam que não serão essas as bases para os portfólios no futuro.

E aqui não quero dizer que se tornaram empresas ruins. Apenas que as condições macroeconômicas dos últimos dez anos favoreceram (e muito) aquelas companhias com fortes perspectivas de crescimento. Ainda que seus resultados amargassem prejuízos recorrentes, porém com uma promessa de lucros auspiciosos mais à frente.

Gráfico 1. Performance por índice (em dólar) desde 2013 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Para aumentar ainda mais a narrativa de reduzir exposição a ativos dos Estados Unidos, alguns dados divulgados nas últimas semanas reforçaram que talvez seja hora do investidor buscar outras oportunidades além da terra do Tio Sam. E um dos destinos preferidos tem sido o Velho Continente.

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Do Tio Sam para a zona do euro

As indicações de que a Europa teria um 2023 desastroso, com a Guerra na Ucrânia causando uma grande crise energética e impactando as finanças dos cidadãos com o forte aumento nas contas de energia era o cenário base de diversos economistas nos últimos meses.

Mas um inverno mais ameno, aliado aos esforços para racionamento de energia, movimentações dos governos locais para assegurar novos fornecedores de gás natural e bilhões de euros em suporte fiscal, aparentemente, deram uma animada na economia da Zona do Euro.

Tanto que o índice de gerente de compras (PMI, em inglês) divulgado pela S&P Global para a Europa ultrapassou a marca dos 50 pontos (de 49,3 para 50,2 em janeiro), o que indicaria expansão da atividade econômica na região. Já o número dos EUA ficou nos 46,6 pontos, um ritmo levemente melhor do que o observado no mês anterior (45). Ainda assim, o indicador americano é um indicativo de contração da economia no país.

Gráfico 2. PMI S&P Global para os Estados Unidos (azul) e Europa (roxo) desde 2020 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Ainda que o número europeu esteja longe de mostrar uma recuperação consistente da região, demonstra ao menos que as perspectivas para o continente melhoraram na margem. E isso deve auxiliar o crescimento global. Segundo a diretora do FMI Kristalina Georgieva, a previsão de alta de 2,7% para o PIB mundial deve ser revisto levemente para cima.

Além disso, a reabertura da China, após o fim da política de Covid Zero, também impactará a Europa, tanto pelo lado positivo como negativo.

No campo favorável, é possível citar o maior turismo de chineses para o Velho Continente. Isso tende a aumentar o consumo na região europeia, principalmente das marcas de luxo como LVMH (dona da Louis Vitton), Kering e Burberry — que também possuem atuações relevantes no gigante asiático. 

Por outro lado, a retomada da normalidade na China terá um impacto na inflação global, fazendo com que os bancos centrais permaneçam vigilantes nos aumentos de preços nos próximos meses. Ou seja, dificilmente se permitirá um afrouxamento da política monetária, algo esperado por muitos participantes do mercado.

Diferentemente do Federal Reserve, que já aumentou sua taxa básica de juros em mais de quatro pontos percentuais nos últimos 12 meses (saindo dos 0,25% no começo de 2022 para o intervalo entre 4,25% e 4,5% atualmente), o Banco Central Europeu (BCE) se moveu em um ritmo menor, aumentando seus juros em 2,5 pontos desde julho do ano passado. A taxa de juros na zona do euro passou dos -0,5% para os atuais 2%.

Obviamente, caso a inflação permaneça resiliente, a autoridade monetária europeia teria ainda mais espaço para aumentar os juros no decorrer do ano, diferentemente do seu par americano. Mas isso também indica que, pelo menos, o impacto nas despesas financeiras ainda viriam um pouco mais à frente para as empresas europeias.

Sem falar no impacto direto que o aumento dos juros teriam no crescimento global. Mas daí ninguém conseguiria sair ileso, seja os EUA, a Europa ou até mesmo o Brasil.

Prepare-se para uma Eurotrip

Só que, nos valuations atuais, uma aposta tática na Europa parece fazer sentido. Diferentemente dos EUA, em que os índices ainda negociam por um múltiplo Preço/Lucro projetado próximo da média dos últimos 10 anos, o indicador para o continente europeu está abaixo da média histórica.

Uma forma que o investidor brasileiro pode fazer uma aposta na região é por meio de ETFs de índices, como o iShares Europe ETF (B3: BIEV39 | NYSE: IEV), o iShares MSCI Eurozone ETF (B3: BEZU39 | NYSE: EZU) e o iShares Core MSCI Europe ETF (B3: BIEU39 | NYSE: IEUR).

Não estou dizendo que os problemas da Europa foram resolvidos e agora será tranquilo daqui em diante. Ainda temos a guerra acontecendo em terras ucranianas, com cada vez mais suporte de países do Ocidente, o que deve trazer mais retaliações por parte da Rússia.

E com a reabertura chinesa, a disputa pelo gás natural aumentará ainda mais, o que pode dificultar o planejamento para o próximo inverno. Apesar de ter mantido os reservatórios em níveis confortáveis, o caminho mais fácil para o racionamento é a limitação do funcionamento de algumas indústrias, afetando assim o crescimento nos próximos meses.

Mas pensando em diversificação do portfólio, e considerando que o investidor brasileiro já conta com uma exposição considerável à economia chinesa por meio de nomes locais, parece que o Velho Continente é uma das melhores oportunidades para o momento. 

Contudo, caso o índice volte para algo perto dos 90% a 95% do seu múltiplo Preço/Lucro projetado médio da última década (algo com 14 a 14,5 vezes), o dinheiro deve voltar para casa. E com a sensação de que a viagem valeu a pena.

Um abraço,

Enzo Pacheco

*Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).