Mercados

Taiwan: Entenda por que visita de Pelosi acirrou tensão EUA-China e abalou os mercados

02 ago 2022, 16:24 - atualizado em 02 ago 2022, 16:35

Não é mais mistério. A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, desembarcou na noite desta terça-feira (hora local) em Taiwan, onde se reunirá com a presidente Tsai Ing-Wen na quarta-feira. 

Com isso, ela tornou-se a primeira representante política do alto escalão de Washington a visitar a ilha em 25 anos. Em comunicado, a delegação de Pelosi afirma que a visita “honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos em apoiar a vibrante democracia de Taiwan”.

Mas o  anúncio abalou o mercado financeiro nesta terça-feira (2). A aversão ao risco reinava entre os investidores, já atingidos pela guerra na Ucrânia, pela inflação impulsionada pela alta das commodities e pelo aumento das taxas de juros pelos bancos centrais. 

“O que acontece depois? Ninguém sabe, mas não parece nada bom”, resume o estrategista global do Rabobank, Michael Every, em relatório. 

Para ele, sempre houve riscos de guerra em Taiwan, uma vez que a questão geopolítica envolvendo a ilha ainda não foi resolvida.

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Afinal, por que Taiwan acirrou a tensão EUA-China?

A China considera Taiwan uma província rebelde, que serviu de refúgio aos nacionalistas derrotados pelos comunistas em 1949. Desde então, Pequim busca uma reunificação pacífica nos moldes do lema “um país, dois sistemas”, aplicado em Hong Kong desde 1997. 

Durante a década de 1970, o governo Nixon reaproximou-se da China tendo como alvo esfriar as relações sino-soviéticas em tempos de Guerra Fria. O então presidente republicano passou a reconhecer oficialmente o governo de Mao Tse-Tung.

A partir daí a política de “uma só China”, defendida por Pequim, prevaleceu. Como resultado, houve uma dança das cadeiras no Conselho de Segurança da ONU, com a ilha ficando sem assento. 

De lá para cá, um ato de 1979 assinado em Washington, foi a brecha para a venda de assistência militar dos EUA ao governo de Taiwan. A alegação é impedir uma mudança no status quo da ilha.

E agora?

A principal dúvida agora é qual será a resposta da China à visita de Pelosi. Nesse caso, os desdobramentos econômicos e financeiros devem ser analisados de forma diferente. 

Para tanto, é preciso considerar quem é responsável por conduzir esta crise. Aos olhos chineses, a presença de Pelosi na ilha rebelde é uma provocação.

“Parece que os EUA subestimaram ou interpretaram mal a posição do presidente chinês Xi Jinping sobre Taiwan”, avalia o ING, em relatório. Para o banco holandês, a união de Taiwan com a China é “extremamente firme”.

Já Mark Williams, economista-chefe para Ásia da Capital Economics, avalia que os líderes chineses têm outras opções que não coagir Taiwan a se submeter ao seu controle político.

“Mas qualquer cenário que perturbe o equilíbrio existente acarretaria um alto risco de maior escalada que levaria a uma forte dissociação da China do Ocidente”, prevê.

Reação exagerada e pouso suave

Porém, há quem diga que a reação inicial dos mercados globais nesta terça-feira à visita oficial de Pelosi foi exagerada. 

Tanto que os ativos de risco amanheceram em queda. Mas, uma vez que o avião dos EUA pousou, os mercados globais voltaram a subir. 

Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, foi mais um daqueles eventos que chega a ser cômico, não fosse histérico. 

“Ou alguém realmente acreditava que a marinha chinesa iria abater o avião da presidente da Câmara dos EUA em pleno ar? Francamente, chega a soar ridículo”, afirma, em nota. 

De fato, os mercados só mudaram assim que Pelosi chegou à ilha. “Talvez os mercados não se moveram para ter de mexer no portfólio ou na cadeia de suprimentos”, pondera Every, do Rabobank. 

Afinal, qualquer semelhança entre o conflito no leste europeu envolvendo Rússia e Ucrânia com a questão entre EUA e China envolvendo Taiwan não é mera coincidência.

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