SVB Financial e Silvergate são indicadores do fim da inflação nos EUA? Entenda o cenário

Nesta semana, dois grandes bancos nos Estados Unidos anunciaram que estão perto de encerrar suas operações. O Silvergate e o Silicon Valley Bank (SVB Financial Group) estão com sérios problemas financeiros.

Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, afirma que o momento é grave para o setor de private equity e venture capital. Ele diz que depende muito dos cenários que tomarão lugar neste momento. Em um efeito bola de neve, é possível que o Banco Central norte-americano comece a baixar a taxa de juros, assim como a quebradeira pode ser algo mais “pontual”, e não afetar em nada.

Silicon Valley e Silvergate anunciam sérios problemas financeiros

O Silicon Valley Bank em Santa Clara, Califórnia, foi fechado hoje pelo Departamento de Proteção Financeira e Inovação da Califórnia. O órgão regulador recorreu ao Fundo Garantidor de Crédito dos Estados Unidos, a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) para dar seguimento ao processo.

O ocorrido foi motivado pela grande corrida de saques após o banco anunciar perdas expressivas. O Silicon Valley vendeu seus títulos públicos com marcação de mercado muito abaixo do preço de aquisição, o que já indicava problemas financeiros no banco.

Por sua vez, o Silvergate Bank, um dos maiores bancos que prestam serviços para empresas de criptomoedas, anunciou nesta quarta-feira (8) que tem intenção de encerrar as operações e liquidar voluntariamente seus ativos.

O banco era responsável pelo serviço de rampas de pagamentos entre criptomoedas e dinheiro fiduciário para diversas gigantes institucionais do setor, como Pantera Capital e até a Circle, custodiante da USDC Coin.

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É o fim da inflação nos EUA?

O plano natural de um Banco Central ao tentar conter a inflação é aumentar a taxa de juros, para desacelerar a economia e captar mais recursos financeiros aos cofres públicos. A grande questão é, a quebradeira dos bancos é um sinal da desaceleração econômica norte-americana? Kawa diz que, na teoria econômica, sim.

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“Após problemas no sistema bancário, a teoria diz que o caminho é uma contração de crédito. É muito cedo ainda para entendermos o tamanho, a magnitude e a duração para classificar como risco sistêmico”, diz.

Existe a possibilidade de o problema com o Silicon Valley Bank ser algo pontual, o que não faria o Federal Reserve (Fed) alterar a taxa de juros americana. Mas, caso o cenário se prove uma crise muito maior, pode forçar o Fed a baixar os juros.

O CIO diz que é interessante ficar atento à curva de juros, aos movimentos das ações de bancos e ao “spread” de crédito no país. “Mas estamos especulando vários cenários. Ainda é muito cedo”, ressalta.

Startups sem liquidez em momento de juros altos

Dan Kawa, comenta ao Money Times que o acontecido de hoje com o Silicon Valley Bank é um péssimo sinal para as startups.

O motivo é a falta de liquidez perigosa para os negócios emergentes. Uma vez que uma startup capta recursos por meio do banco, os ativos ficam travados.

“Ela [startup] vai vender o almoço para pagar o jantar. O risco é chegar no fim do mês e não ter dinheiro para pagar folha de pagamento, aluguel etc”, explica.

O CIO explica que uma parte dos afetados tem certa proteção do FIDC, mas, se o dinheiro demorar mais que o previsto, as contas podem apertar de qualquer forma. “Vai ter startup que não vai conseguir ficar de pé”.

“O que temos que ver agora é: quais serão as reverberações do fechamento deste banco no mercado de tecnologia em geral”, afirma.

Ele diz que o momento é grave para o mercado de private equity e venture capital, e ainda levará um tempo até que o mercado possa entender o tamanho do acontecimento e todos seus impactos.

“Aparentemente, não tem um contágio direto de vasos comunicantes do SVB com o resto do mercado, que foi o problema do Lehman Brothers”, diz. Kawa explica que o Lehman Brothers tinha uma interligação muito grande de linha de créditos com mercado financeiro geral.

Bancos regionais

Por outro lado, Kawa comenta acreditar que existem bancos regionais menores que estão na mesma situação ou em patamar semelhante ao de Silicon Valley Bank. Situação essa de possuir títulos marcados na curva, que seriam vendidos no prejuízo para buscar liquidez.

“Como você lida com isso? Você deixa eles quebrarem ou o Fed intervém? O que o mercado está fazendo desde ontem é tentar adivinhar quais são os pontos fracos deste sistema’, diz.

Por esse motivo, diversos bancos regionais observam suas ações recuando mais de 30% no pregão de hoje, afirma. O movimento, segundo Kawa, é a tentativa do mercado de antecipar o problema mais sistêmico dos acontecimentos.

“O mercado gosta de operar narrativas. Elas podem ser mais longas ou mais curtas. Operamos no passado a tese de inflação alta e juros altos. Tivemos a  tese da reabertura da China. Agora, o mercado está operando a tese de que o sistema americano talvez seja mais frágil do que a gente pensava”, explica.