SVB, a crise dos bancos regionais nos EUA e as lições para o Brasil: O que aprender?
Por Alessandra Velloso*
Os percalços que afetam o setor bancário nos Estados Unidos voltaram a ser manchete. Desta vez, envolvendo bancos regionais.
Tudo começou com o colapso do Silicon Valley Bank (SVB). Mais recentemente, foi a vez do First Republic Bank. Em seguida, houve reflexos imediatos em outras instituições, como o PacWest Bancorp, que chegou a perder mais de 70% do valor na bolsa e se movimenta para não falir.
Muitos defendem que esses episódios não impactam o mercado brasileiro. No entanto, há aprendizados que precisam ser considerados.
Nos EUA, bancos desse porte geralmente concentram as operações em empréstimos imobiliários, investimentos em comércio e serviços. Além isso, representam alternativas financeiras a pequenas e médias empresas.
Para mitigar riscos, alguns executivos em Wall Street têm apontado a necessidade de reforçar a proteção aos depósitos, bem como consideram outras medidas para cessar essa avalanche, por meios regulatórios.
Porém, a questão está longe de ser um problema exclusivamente dos EUA. Afinal, crises financeiras em bancos regionais trazem consequências para a sociedade como um todo e prejudicam o desenvolvimento econômico.
Isso porque a redução do crédito disponível evolui para o aumento das taxas de juros. Como consequência, há uma queda na atividade econômica, o que aumenta ainda mais o desemprego. Tanto que, para conter o pânico, o presidente Joe Biden chegou a anunciar medidas para tranquilizar os correntistas, afirmando que “seus depósitos estarão lá quando vocês precisarem deles.”
SVB é um replay de 2008?
Com isso, o medo de que a crise de 2008 se repita ficou evidente. Na ocasião, a crise bancária nos Estados Unidos refletiu no comércio internacional. Houve uma queda na demanda global por bens e serviços.
O cenário reduziu as exportações do Brasil para os EUA e outros países. Isso afetou principalmente as commodities, como minério de ferro, petróleo e soja.
Além disso, houve uma desaceleração do crescimento do crédito no Brasil, com queda no investimento privado. O Produto Interno Bruto (PIB) nacional teve retração em 2009 e a alta do dólar foi sentida em todos os setores da economia.
O que aprender?
Mas o que se aprende com tudo isso? Para além de quantias e valores, números são sempre pessoas. Famílias, investidores, empreendedores e gestores — públicos e privados – ficam apreensivos, diante de dificuldades e podem agir sob influência das informações que circulam.
Nesses casos, é fundamental que as instituições financeiras saibam gerir suas crises, com seriedade e transparência. Afinal, o pânico amplia os efeitos do problema. Com isso, generalizar é o maior erro que se pode cometer.
No Brasil, a maioria dos chamados bancos de médio porte têm potencial para se consolidarem como bons exemplos e cases de sucesso. Isso porque estão alicerçados em uma série de medidas de governança e compliance, seguindo a regulação vigente. Sim, é o mínimo que se espera.
Porém, esse acúmulo de boas práticas é o que fortalece a reputação. Funciona como uma vacina, em tempos nos quais predominam as incertezas. Ou seja, se não há o que temer, há sim muito a fazer, com responsabilidade e gestão.
*Alessandra Velloso é advogada e especialista em Direito Bancário e Empresarial. Sócia-fundadora do Velloso Advogados & Associados e da Velloso Cobrança, possui mais de 20 anos de experiência no setor jurídico voltado ao atendimento de instituições financeiras e empresas. Integra a Divisão Jurídica da Federação das Empresas do Rio Grande do Sul (Federasul) e tem passagens pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).