Suzano: pessimismo do UBS bate otimismo do Credit Suisse, e ações tombam
Os resultados do primeiro trimestre da Suzano (SUZB3), divulgados na noite de ontem (14), dividiram os analistas. De um lado, há os que destacam os bons números operacionais e a queda dos estoques, como o Credit Suisse. De outro, os que alertam para as perdas cambiais e com derivativos, como o UBS.
No meio, estão os investidores, que não tiveram dúvidas sobre quem seguir no pregão desta sexta-feira (15). O forte tombo das ações da Suzano, ao longo do dia, mostra que o mercado se alinhou ao pessimismo do UBS e dos demais analistas que apontam os riscos dos derivativos.
Por volta das 14h23, os papéis caíam 9,59% e eram negociados a R$ 45,71, enquanto o Ibovespa, principal índice da B3, recuava 1,16%, para os 78.097 pontos.
Caio Ribeiro e Gabriel Galvão, que assinam o relatório do Credit Suisse obtido pelo Money Times, estão do lado dos analistas que enfatizaram o bom desempenho operacional da Suzano no primeiro trimestre.
Ponto de virada
Seu texto começa, inclusive, lembrando que o banco passou um bom tempo recomendando a venda dos papéis de empresas de celulose, devido ao cenário adverso.
Mas a forte redução dos estoques da Suzano, nestes primeiros meses de 2020, surpreenderam o Credit Suisse, que esperava a normalização dos estoques ocorre apenas no segundo ou terceiro trimestre.
A notícia é positiva, segundo o banco suíço, por dois motivos. Primeiro, melhora o poder de negociação da companhia junto aos clientes. Segundo, sinaliza com vendas maiores que as estimadas inicialmente. Por isso, o banco elevou sua projeção de vendas em 3% para 2020.
Ao mesmo tempo, cortou 11% dos custos estimados. Tudo somado, o Credit Suisse elevou, no relatório de hoje, o preço-alvo da Suzano de R$ 45,50 para R$ 60. A recomendação subiu para outperform, ou seja, desempenho esperado acima da média do mercado.
“Argumentamos, por algum tempo, que o primeiro (e mais importante) passo para disparar uma recuperação do preço da celulose era a normalização dos estoques”, afirma o Credit Suisse.
A questão é outra
Seu conterrâneo UBS, contudo, não está nem um pouco otimista com as perspectivas da Suzano. Cadu Schmidt e Andreas Bokkenheuser, que assinam o relatório obtido pelo Money Times, reiteraram sua recomendação de venda das ações, com preço-alvo de R$ 32 – menos do que valem atualmente.
Os analistas reconhecem os avanços operacionais da companhia, mas destacam que isso não é o mais importante agora. “O foco dos investidores, provavelmente, continuará nas futuras perdas de caixa da Suzano com derivativos, que devem ultrapassar R$ 9,1 bilhões até o fim de 2021”, afirmam.
“Como resultado, a Suzano não se beneficiará totalmente com o real fraco pelo próximo 1,5 ano”, acrescentam.
O UBS lembra que foi, justamente, a expectativa de que o dólar caro favoreceria as operações da Suzano, uma vez que a empresa é uma grande exportadora e seu principal produto, a celulose, é uma commodity cotada em moeda forte.
Mas a constatação de pesadas perdas com derivativos é um balde de água fria no ânimo do mercado, de acordo com os analistas, já que corroerá os ganhos oriundos da operação.
Ganhos anulados
Em sua análise de sensibilidade, o UBS estima que, nos próximos 12 meses, cada variação de 0,10 centavos no câmbio acarretará um acréscimo de R$ 150 milhões na geração de caixa.
Pode parecer uma montanha de dinheiro para uma pessoa, mas, para uma empresa do porte da Suzano, não é nada impressionante.
Principalmente porque, como lembra o UBS, se a empresa não sofresse o impacto negativo dos derivativos e estivesse operando com toda a sua capacidade, o ganho seria de R$ 600 milhões para a mesma variação.
A julgar pelo tombo das ações da Suzano, nesta sexta, este parece ser um argumento irrefutável para os investidores.