Surpresa no mercado de trabalho dos EUA em maio esconde caminho acidentado
O relatório mensal do mercado de trabalho dos Estados Unidos em maio surpreendeu o mercado com a criação de 2,5 milhões de vagas fora do setor agrícola e a queda inesperada da taxa de desemprego a 13,3% ante 14,7% em abril.
Estimativas apontavam para a destruição de 7,5 milhões de postos de trabalho e a disparada da taxa de desocupação em torno de 19,5%.
Lazer e turismo lideraram a geração de vagas fora do setor agrícola, adicionando 1,2 milhão de vagas (impulsionadas pelos restaurantes). Na outra ponta; porém, áreas de importância econômica sofreram baques acentuados: mineração (-20 mil vagas), transporte e logística (-19 mil vagas), serviços (-2 mil vagas) e informação (-38 mil vagas).
Em relatório, o Bank of America traça três fatores que podem explicar a surpresa inesperada em maio:
1) Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego eram ainda claramente elevados, revelando que mais cortes estavam por vir. No entanto, o fluxo de entrada de emprego disparou dos 13,2 milhões para 4,6 milhões; enquanto que o fluxo de saída mingou para 9,3 milhões, ainda alto, de 27 milhões.
Então, os ganhos de emprego ultrapassaram as demissões. É possível que os pedidos de auxílio futuros não sejam capazes de capturar com precisão essa tendência em tempo real, no decorrer das próximas semanas, para constatar a significativa melhora.
2) É possível que o Departamento de Trabalho dos EUA não esteja assimilando de forma assertiva o comportamento dos dados e entendendo o grau de fechamento de vagas pela derrocada dos negócios (presumindo a abertura de 345 mil postos de trabalho como o reverso do fechamento de 553 mil no mês anterior).
3) O programa de proteção às folhas de pagamento (PPP, na sigla em inglês), também deve ter provocado o fenômeno do “reemprego”, com pequenas empresas utilizando os fundos para o pagamento de seus funcionários.
As empresas podem ter recontratado seus colaborados, com jornada reduzida, permitindo-os continuar a receber parte dos salários e influenciando a continuidade dos pedidos de auxílio-desemprego, apesar de estarem na folha de pagamento.
Caminho acidentado
Enquanto a melhora do mercado de trabalho dos Estados Unidos começou um ou dois meses antes do previsto, sugerindo uma retomada em forma de V nos primeiros estágios da recuperação econômica, não significa que forma da retomada esteja clara e definida, pondera o BofA.
Apesar do ânimo na economia depois dos primeiros sinais da reabertura, o caminho a frente tende a ser sinuoso e com riscos desencadeados pela pandemia de coronavírus que jogou milhões na fila do desemprego.
A taxa de desemprego também está ocultando o verdadeiro calcanhar de Aquiles do mercado de trabalho. Há muitos trabalhadores empregados, mas na informalidade. Somando essa categoria ao número de desempregados, a taxa sobe para 16,9%.
Adicionalmente, existe o grupo dos desalentados, trabalhadores que já desistiram de procurar emprego. Logo, ao considerar os dois grupos a conta do desemprego fecha em torno dos 21,6%.