Supersafras dos EUA mostram que tecnologia pesa mais que chuvas
Até que ponto um clima instável ainda importa para a produção agrícola? Essa é a pergunta que traders de grãos estão fazendo depois que novos dados mostraram que agricultores dos Estados Unidos conseguiram outra supersafra, apesar do plantio ter sido marcado pelas condições mais imprevisíveis dos últimos anos.
Sob pressão de campos encharcados, plantio tardio e inverno antecipado, as plantações de milho e soja dos EUA mostraram resistência graças, em grande parte, aos avanços conseguidos com sementes geneticamente modificadas, ferramentas de precisão e insumos como fertilizantes e pesticidas.
No relatório mensal de safras divulgado na sexta-feira, o Departamento de Agricultura dos EUA elevou as estimativas de produtividade para ambas as culturas. Os dados desafiam as expectativas dos analistas que, em média, previram queda.
“Enfrentamos dificuldades este ano – tivemos muitos problemas, com muita água”, disse Matt Bennett, agricultor de Illinois e analista de commodities da AgMarket.Net, em entrevista por telefone. Ainda assim, sua produção de soja ficou dentro do volume de 15 bushels em relação à colheita recorde em 2018.
“Fiquei surpreso com o que a genética pode fazer”, disse Bennett. “Você ainda pode cultivar milho muito bom, mesmo com condições abaixo do ideal. Isso mudou tudo.”
As supersafras são um testemunho dos grandes avanços da tecnologia agrícola nas últimas décadas. Agora que 92% da área plantada de milho dos EUA utiliza sementes modificadas, os campos podem suportar condições extremas como o volume de chuvas recorde de 2019. O número se compara a 85% em 2009 e 25% em 2000.
Além disso, recursos como pulverizadores automáticos podem detectar exatamente quais plantas precisam de herbicida extra, enquanto câmeras de drones permitem que agricultores tenham uma visão panorâmica das terras para determinar quais áreas precisam de atenção especial.
Além disso, as máquinas estão mais rápidas do que nunca. Com isso, as sementes podem ser plantadas rapidamente durante uma janela de plantio atipicamente curta. Tudo isso faz agora parte de uma nova era que está transformando completamente o que é possível ou não na agricultura.
Uma prova de quanto tecnologia faz diferença: comparemos a última temporada com a safra 1993-1994, quando houve níveis semelhantes de inundação. Em 1994, o número da produção final de milho do USDA em janeiro ficou mais de 20 bushels por acre abaixo da previsão de junho.
Por outro lado, os dados de sexta-feira mostram que a agência está encerrando esta temporada com produtividade de 2 bushels acima do previsto há sete meses.
Certamente, a Mãe Natureza sempre será a melhor opção para os agricultores. Chuva demais é mais fácil de enfrentar do que insuficiente. Em 2012, mesmo quando já havia avanços significativos em sementes geneticamente modificadas, uma seca no Centro-Oeste dos EUA destruiu a produção de milho. Ainda assim, os avanços tecnológicos significam que as plantas agora têm uma chance de lutar contra instabilidades do clima.