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Supermercados da França boicotam soja brasileira ligada ao desmatamento

21 nov 2020, 15:00 - atualizado em 23 nov 2020, 10:03
Carrefour
Varejistas francesas, como o Carrefour, incorporarão a partir de janeiro de 2021 cláusulas de não desmatamento vinculado à soja (Imagem: Reuters/Nacho Doce)

Sete grandes cadeias de supermercado francesas — Carrefour, Casino, Auchan, Lidl, Système U, Mousquetaires e Leclerc — anunciaram nesta semana que incorporarão a partir de janeiro de 2021 cláusulas de não desmatamento vinculado à soja aos termos contratuais de seus fornecedores.

Particularmente, os distribuidores querem cobrar que seus fornecedores parem de usar a soja produzida em terras desmatadas do Cerrado, a principal região no Brasil que está sendo desmatada para essa produção.

O compromisso abrange tanto o desmatamento ilegal quanto o legal, ou seja, aquele autorizado pelo Código Florestal Brasileiro, e proíbe importação de soja de áreas do Cerrado desmatadas após o dia 1 de janeiro de 2020, de acordo com informações da organização ambiental Mighty Earth.

Com mais de 3 milhões de toneladas de farelo de soja importadas a cada ano do Brasil para alimentação animal (aves, suínos, produtores de leite), o consumo de soja na França representa a maior contribuição do país para a destruição de florestas e ecossistemas em outros países, como o Brasil.

“Este manifesto representa uma abordagem única, graças aos distribuidores franceses”, declara Bertrand Swiderski, Diretor de Responsabilidad Social Corporativa do Grupo Carrefour.

“Coletivamente temos mais peso para atuar, convocamos todos os atores da cadeia de abastecimento a se unirem a nós para lutarmos juntos contra o desmatamento e a conversão de terras ligados à cultura soja.”

“O manifesto dos supermercados é um movimento muito importante do mercado, porém, para ser eficaz, essa movimentação voluntária deve se traduzir rapidamente na implantação de planos de ações consistentes”, explica Klervi Le Guenic, responsável pela campanha da Canopée, uma organização social francesa.

“Para Lidl, Système U e Auchan, isso já está feito; os outros devem agora seguir essa dinâmica positiva. Em breve publicaremos uma análise dos diferentes comprometimentos dos supermercados.”

Para Etelle Higonnet, coordenadora de Mighty Earth, uma organização que trabalha para reduzir o desmatamento de florestas tropicais, os supermercados franceses finalmente ouviram os consumidores. Ela destaca uma pesquisa que mostra que 9 de cada 10 franceses estão mobilizados contra o desmatamento e são a favor de ações concretas e firmes.

Consumo de soja na França representa a maior contribuição do país para a destruição de florestas e ecossistemas em outros países, como o Brasil (Imagem: Reuters/Jorge Adorno)

“Porém, até agora, algumas empresas de grande importância ainda não se uniram ao manifesto, incluindo os fornecedores de soja Cargill e Bunge, que têm o poder de interromper as importações de soja responsáveis pelo desmatamento”, diz Higonnet.

“Esperamos igualmente um comprometimento dos traders de soja menos implicados no desmatamento, como COFCO e Louis Dreyfus. Caso contrário, as empresas francesas deverão suspender seus contratos com eles a partir de 1º de janeiro de 2021.”

Higonnet também destaca que a Mighty Earth publicou um apelo a todos os traders de soja e a todas as empresas que utilizam a soja para alimentação animal, para produção de carne e laticínios e para o setor de restaurantes para que assinem o manifesto.

Em Setembro de 2020, a Canopée publicou um relatório realizado por seu Conselho Científico e Técnico que sugere encerrar as importações de soja que acarretem risco de desmatamento.

“O manifesto que assinamos hoje representa a continuidade desse trabalho e a reivindicação pela aceleração de sua implementação” explica Sylvain Angerand, coautora do relatório. “Está claro para nós que a estratégia nacional de luta contra o desmatamento importado se encontra num impasse, devido à falta de recursos, de compromissos políticos significativos e ao excesso de confiança em comprometimentos voluntários”.

Para Angerand, com a criação do manifesto, a bola agora está com o governo.

“Soluções técnicas existem, e os protagonistas estão prontos para se envolver. É necessário apoiar essa dinâmica para criar uma estrutura mais rígida para todas as empresas, particularmente aquelas que respondem à lei de diligência prévia, mas que não adotaram nenhuma medida séria de luta contra o desmatamento importado.”