Economia

Stuhlberger vê ‘piquenique na beira de vulcão’ com a iminente elevação dos juros

28 jan 2025, 17:59 - atualizado em 28 jan 2025, 17:59
Stuhlberger juros
Luis Stuhlberger participou de painel no Latin America Investment Conference (LAIC), evento promovido pelo UBS e UBS BB (Imagem: Divulgação)

Luis Stuhlberger vê um cenário de “piquenique na beira de vulcão” quando se trata da relação de crescimento da economia brasileira e as altas dos juros para conter a inflação. O gestor participou de painel no Latin America Investment Conference (LAIC), evento promovido pelo UBS e UBS BB nesta terça-feira (28).

O cenário macroeconômico brasileiro é de um desagrado generalizado, fomentado principalmente pela desconfiança em relação ao cenário fiscal por parte do governo Lula. Neste cenário, as altas na taxa básica de juros (Selic) que devem ocorrer nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) buscam desacelerar a economia e conter a inflação — fator este que deve pesar na popularidade já desgastada do presidente.

O gestor, que está à frente da Verde Asset, pondera que, com o crescimento do país acima do potencial, a inflação aparece e o governo é obrigado a iniciar um ciclo de aperto monetário. Neste cenário, Stuhlberger avalia que a pior coisa para a popularidade de um presidente nem são os juros, mas sim a alta dos preços — principalmente dos alimentos.

“Aí quando você sobe os juros, como vai agora perto de 15% ou 16%, vira o piquenique à beira do vulcão. O dólar se acalma, se não houver mais más notícias”, disse.

A questão, na visão do gestor, é que, no período de 2024 até 2026, o Brasil irá encarar déficits nominais da ordem de 10%.

Só que esse ano, com a Selic muito mais alta e o Produto Interno Bruto (PIB) 3,5% e sem tantas arrecadações extraordinárias, no final, o déficit deve ser pior.

“Alguma coisa vai ter que acontecer. E vai acontecer. Seja uma mudança de governo, seja uma mudança de mentalidade deste governo. Assim, eu não tenho a menor ideia como é que resolve isso. Nenhuma alternativa é boa. Mas não dá para a gente pagar o juro de 8% por 10 anos seguidos”, ponderou.

O gestor ainda disse que, se for parar para pensar francamente no quadro macroeconômico do Brasil, nunca se esteve perto de estar como está hoje — nem mesmo a crise do governo Dilma Rousseff, na avaliação de Stuhlberger, uma vez que a dívida hoje é maior.

Ele conclui seu diagnóstico sobre Brasil afirmando que esse “piqunenique na beira do vulcão” pode continuar por mais um tempo da forma como está. O dólar pode até cair, se houver ausência de más notícias. No entanto, são necessárias boas notícias.

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Para Stuhlberger, aumento das despesas foi a pior decisão

Na avaliação de Stuhlberger, a elevação das despesas foi a pior das decisões do governo, seguindo o que começou ainda no último ano do governo anterior — de Jair Bolsonaro.

“Para vocês terem uma ideia, em 2025, a gente vai estar gastando R$ 400 bilhões fora do teto”, destacou o gestor, chamando a atenção não só para os gastos do poder executivo, mas do governo como um todo, notando ainda que há gastos excessivos por vertentes como o governo para a entrega de serviços e benefícios de “quinta categoria” para a população.

O gestor prevê ainda uma questão séria do governo com relação a proposta de elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil reais — medida anunciada no fim do ano anterior e parte estopim do mal humor do mercado com o fiscal brasileiro.

Para ele, isso é algo que o governo vai bater o pé para fazer, no entanto, não acredita que o Congresso vá aprovar a tributação na outra ponta, conforme propõe o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de tributar quem ganha mais de R$ 50 mil. “Eu acho que o Congresso não aprova isso. E o governo vai ter que arrumar uma outra forma de financiar isso”, disse.

Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.
lorena.matos@moneytimes.com.br
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.