Strategy room: Como desenhar a estratégia de um conglomerado
A estratégia de criar um ecossistema de negócios com diferentes frentes de atuação exige um planejamento minucioso. Para que um conglomerado seja bem-sucedido, é fundamental adotar um método que assegure gestão e escalabilidade do negócio, fomentando sinergias, sem comprometer a adaptabilidade e a velocidade.
A criação do conglomerado visa diversificar os negócios e, como consequência desse movimento, gerar diferentes fontes lucrativas. Além disso, os ecossistemas tendem a proporcionar ganhos de produtividade e redução de custos, além de estarem menos vulneráveis às oscilações de mercado. Logo, reduzem os riscos de investimento e proporcionam maior segurança aos acionistas.
Na Ásia e nos Estados Unidos, é muito comum a concentração de grandes conglomerados, que contribuem significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Países como China, Coreia do Sul e Japão contam com grupos econômicos compostos por empresas de segmentos variados e que lideram os respectivos mercados há décadas
No entanto, ao mesmo tempo em que trazem diversificação de receita e ganho de eficiência, a criação e desenvolvimento de um conglomerado implica em uma série de desafios para a gestão desses múltiplos negócios.
Accountability é essencial para criar conglomerados bem-sucedidos
Para o leitor entender com mais clareza, costumo fazer uma analogia com o corpo humano. Assim como nossos órgãos, cada unidade de negócio tem uma função diferente e atua de maneira autônoma, mas interdependente. É preciso trabalhar em função da vida e contribuir para a sobrevivência do organismo.
O conceito accountability traz uma linha tênue relevante entre a responsabilidade e a liberdade para garantir o senso de grupo.
Ele reforça o compromisso com visão de dono, valoriza o ambiente de confiança e as relações altruístas, a abertura à comunicação e ao feedback construtivo, o incentivo ao trabalho em equipe, a identificação de oportunidades constantes de melhoria para assegurar maior agilidade e eficiência, num plano voltado para o todo. Caso contrário, a corporação vira um “Frankenstein”.
As lideranças precisam estar em sintonia e pautar as suas equipes com o mesmo método. Desta forma, é possível direcionar todas as unidades de negócios para a consolidação de um caminho único, planejar a longo prazo e ter uma visão central do ecossistema. O método é a linguagem que conecta e direciona todas as empresas.
Nesse cenário, é importante ter clareza de processos, fluxos e obrigações, bem como fortalecer a cultura organizacional. Assim, cada sistema é protagonista e responsável pelas suas atividades e resultados, sempre atentando para o propósito, a missão, a visão, os valores, as metas, os objetivos e os atributos esperados enquanto conglomerado.
Cada unidade de negócio tem suas particularidades, hábitos e costumes. Contudo, as empresas que compõem o mesmo grupo precisam atuar com boas práticas de governança e compliance, a partir de um modelo de gestão único e que direciona todas as unidades para o objetivo comum.
Além disso, as unidades não só podem como devem ser protagonistas, cada uma em sua frente específica de atuação. Mas desde que com geração de vantagem para todo o grupo, seja na redução de risco ou como barreira de entrada, atuando com sinergia estratégica.
Um exemplo de conglomerado bem-sucedido é a multinacional sul-coreana LG, que fabrica desde celulares, televisores e computadores, até eletrodomésticos e produtos petroquímicos. Por isso, caso o mercado consumidor de eletrônicos sofra retração, como aconteceu na pandemia devido à escassez de matéria-prima, a empresa tem outros segmentos que contribuem na composição dos resultados financeiros.
Nos Estados Unidos, um dos conglomerados que se destaca pelo tamanho e lucratividade é a Berkshire Hathaway, cujo principal acionista, presidente do conselho e diretor executivo é Warren Buffett. O grupo gerencia uma gama de empresas subsidiárias, entre elas as dos ramos de seguros como a GEICO e a General Re; grupos de energia, de vestuário, construção, serviços de voo, varejo e finanças.
Portanto, diante da instabilidade da economia global, entendo que diversificar os negócios e criar um grupo com empresas de diferentes atuações é uma boa alternativa para evitar sobressaltos do mercado. Entretanto, fica claro que é necessário método, planejamento e uma estratégia bem definida para que todas as unidades de negócio consigam caminhar na mesma direção e alinhado ao modelo de gestão.
*Colaborou Moema Machado, Partner Superintendente de Estratégia e Gestão do Negócio da Wiz.