Stone amplia guerra com grandes bancos para além das maquininhas
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A empresa que ele dirige, a Stone (STNE), causou furor quando começou a tirar dos maiores bancos do país o que se tornaria uma fatia de 8% da indústria de meios de pagamentos brasileira, que soma quase R$ 2 trilhões.
Esse sucesso foi atraindo investidores bilionários, incluindo Warren Buffett, Jack Ma e os fundadores da 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Para sua próxima batalha, Piau não quer apenas retirar a receita dos bancos com meios de pagamentos. Ele quer a dos demais negócios também.
“Começar com meios de pagamentos foi um cavalo de Troia, uma forma de começar a relação com os lojistas brasileiros”, disse Piau, em sua primeira entrevista desde o IPO da empresa, em 2018. “Nossa estratégia agora é oferecer todos os outros serviços que os bancos oferecem a esses clientes até tirar eles dos bancos.”
O “cavalo de Troia” da Stone foi oferecer maquininhas para que lojistas aceitassem pagamentos com cartão, um negócio dominado pela Rede, subsidiária do Itaú Unibanco, e a Cielo (CIEL3), de propriedade conjunta do Banco do Brasil e Bradesco.
A estratégia da empresa é usar hubs espalhados por todo o país para atender a pequenas e médias empresas sem depender de uma rede de agências.
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No ano passado, adotou a mesma abordagem para outras áreas, passando a oferecer empréstimos e contas digitais. Para 2020, planeja adicionar uma nova leva de produtos, de seguros a folhas de pagamento, disse Piau, em entrevista por telefone.
Não que os bancos sejam alvos fáceis. As grandes instituições financeiras estão reagindo rapidamente à chamada guerra de preços do setor de cartões. As ações da Stone caíram no ano passado depois que a Rede zerou taxas em produtos de antecipação de faturas, ao passo que a Cielo cortou margens para recuperar fatia de mercado.
Mas, por enquanto, os investidores estão do lado da Stone: após a queda do ano passado, as ações da Stone recuperaram quase o nível máximo histórico, com alta de 86% desde que a empresa abriu seu capital.
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“É só olhar para o tamanho do Itaú, Bradesco e Santander no Brasil”, disse Piau. “Não estamos mais competindo apenas com a Cielo ou a Rede, mas sim com os próprios bancos.”
Ainda assim, a Stone não tem planos de se tornar um banco e, em vez disso, usará suas licenças existentes para oferecer novos produtos, disse ele.
A estratégia também envolve aquisições, que devem acelerar neste ano, disse Rafael Pereira, diretor de relações com investidores da empresa. A Stone comprou participações em pelo menos quatro empresas no ano passado, incluindo a Collact, uma administradora de relacionamento com clientes, e a Trinks, empresa de serviços de beleza.
Também assinou um acordo com o Grupo Globo, o maior conglomerado de mídia do Brasil, para criar uma joint venture voltada para microempreendedores.
Sucesso da Fintech
Avaliada em US$ 12,4 bilhões, a Stone é uma das empresas de fintech mais bem-sucedidas do Brasil, juntando-se a histórias como a do Nubank, avaliado em US$ 10,4 bilhões, e até mesmo da XP Investimentos, corretora de varejo de US$ 19,5 bilhões. Todas as três estão tirando receitas dos bancos, com Stone e Pagseguro (PAGS) se concentrando no setor de meios de pagamentos.
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“Continuaremos a investir agressivamente no crescimento, mas mantendo as mesmas margens que tivemos em 2019”, disse Piau.
O lucro líquido da Stone do ano passado aumentou 164% em relação a 2018, e a empresa encerrou o ano com 495.100 clientes ativos, um aumento de 84%. A Cielo detém quase 40% do mercado, mas seu lucro no quarto trimestre foi menor que o da Stone.
A Stone foi fundada por Andre Street e Eduardo Pontes, ambos graduados em 2010 no programa de liderança da Harvard Business School. Eles trabalharam juntos no setor de comércio eletrônico por quase 20 anos.
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Piau teve uma trajetória semelhante: antes de ingressar na Stone em 2015, ele se formou na Harvard Business School e abriu uma empresa focada em pagamentos eletrônicos em táxis.
Os empréstimos são o principal projeto novo da Stone.
A empresa encerrou janeiro com R$ 200 milhões em empréstimos a clientes e tem uma estimativa “conservadora” de atingir R$ 500 milhões até o final do ano, disse Pereira. A Stone planeja vender os empréstimos nos próximos meses para não manter risco em seu balanço.
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Outra meta para o ano é explorar o mercado global de títulos. A empresa emitiu apenas dívida local até o momento e procura diversificar suas fontes de financiamento.
Há duas coisas, porém, que Piau está querendo evitar: expandir a companhia para fora do Brasil e firmar uma parceria com bancos para distribuir os produtos da Stone.
“O modelo de negócios dos bancos brasileiros tem como objetivo empurrar produtos aos clientes”, disse ele. “Não é um relacionamento saudável e não funciona para nós.”