STF e entidades reforçam apoio a Moraes, após ataques de Bolsonaro
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) aproveitaram a sessão virtual de julgamento desta quinta-feira para reforçar apoio ao colega Alexandre de Moraes, que foi alvo de ataques nesta manhã feira pelo presidente Jair Bolsonaro, que chamou a decisão dele de barrar a posse do delegado Alexandre Ramagem como novo diretor-geral da Polícia Federal de política.
Entidades de magistrados também se manifestaram durante o dia.
Sem citar a contenda com Bolsonaro, o presidente do tribunal, Dias Toffoli, e outros ministros fizeram questão de exaltar a carreira e atuação de Moraes.
“Sou testemunha do seu conhecimento do Direito e da causa pública em sua longa trajetória que o conheço desde 1986”, disse Toffoli.
Para o vice-presidente do STF, Luiz Fux, Moraes é um magistrado que se empenha em atuar na defesa da legalidade em diversas questões.
A ministra Cármen Lúcia disse que Moraes é um colega que honra a magistratura brasileira, destacando ainda a carreira dele como professor de direito constitucional.
“Brasil, saiba que há sim ótimos juízes”, afirmou.
Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, que já tinham se manifestado mais cedo, também fizeram desagravos. Barroso disse que é uma honra ter Moraes como “parceiro nessa jornada no STF e nesses momentos institucionais difíceis que por vezes atravessamos”.
“O ministro Alexandre de Moraes chegou ao Supremo Tribunal Federal após sólida carreira acadêmica e de haver ocupado cargos públicos relevantes, sempre com competência e integridade. No Supremo, sua atuação tem se marcado pelo conhecimento técnico e pela independência. Sentimo-nos honrados em tê-lo aqui”, havia dito Barroso mais cedo, em declaração distribuída por sua assessoria.
Em uma rede social, Gilmar Mendes disse que as decisões judiciais podem ser criticadas e são suscetíveis de recurso, enquanto mecanismo de controle.
“O que não se aceita —e se revela ilegítima— é a censura personalista aos membros do Judiciário. Ao lado da independência, a Constituição consagra a harmonia entre Poderes”, afirmou, sem citar nominalmente Moraes nem Bolsonaro.
Reclamação
Na véspera , Mendes esteve na posse dos novos ministros da Justiça, André Mendonça, e da Advocacia-Geral da União, José Levi Mello, ocasião em que Bolsonaro já tinha reclamado de não ter conseguido empossar Ramagem após decisão de Moraes.
Nesta manhã, o presidente rebateu o argumento de que a indicação violava o princípio da impessoalidade —justificativa para o ministro do Supremo barrar a posse de Ramagem— ao dizer que Moraes só chegou à corte graças à amizade com ex-presidente Michel Temer, que o indicou ao STF.
Moraes foi ministro da Justiça do governo Temer antes de ser indicado por ele para uma cadeira no Supremo. Ao contrário da nomeação de um diretor-geral da PF, que é imediatamente concretizada, a indicação de um presidente para uma cadeira no Supremo depende da aprovação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e do plenário da Casa, após a CCJ fazer uma sabatina com o indicado.
Em nota, sem citar Bolsonaro, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota de “total repúdio” às últimas declarações de autoridades públicas contra a decisão de Moraes.
“O Poder Judiciário é um dos Poderes da República, e é inadmissível que uma autoridade pública não reconheça esse princípio basilar ou queira se sobrepor a essa realidade constitucional”, afirmou.
A entidade disse que o direito à livre manifestação está previsto na Constituição e é “aceitável que se mostre insatisfação, porém jamais este descontentamento pode gerar agressões e ofensas”.
“Esses ataques somente demonstram a importância de se ter um Judiciário cada vez mais forte e independente e que exerça sua função de colocar limites constitucionais à atuação de qualquer um dos Poderes, no âmbito do Estado Democrático de Direito”, completou.
A presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Renata Gil, divulgou nota em que alerta para a necessidade de “respeito à independência e à autonomia dos juízes, desembargadores e ministros para desempenharem suas funções constitucionais”.
“No Estado de Direito, decisões judiciais devem ser cumpridas. Eventuais contestações devem ocorrer por meio dos recursos cabíveis e assegurados a todos os cidadãos”, disse.