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SteemIt vs. TRON: não subestime uma comunidade descentralizada

11 mar 2020, 10:46 - atualizado em 11 mar 2020, 14:50
Usuários da rede social descentralizada SteemIt mostraram a Justin Sun que não se deve tentar “passar a perna” em uma comunidade tão unida e a favor da descentralização (Imagem: Crypto Times)

Em fevereiro, a venda da rede social SteemIt para Justin Sun, CEO da plataforma Tron, fez com que vários grandes empreendedores em cripto aprendessem uma lição sobre descentralização.

Deixando de lado os princípios da descentralização, Sun contou com a ajuda de corretoras e suas reservas de tokens STEEM para tentar dominar uma comunidade que não cooperativo, iniciando uma batalha para manter o controle sobre a aplicação descentralizada (dapp).

Mas quem venceu a batalha foi a SteemIt; corretoras pararam de apoiar Sun e a comunidade reelegeu representantes o suficiente para retomar o controle sobre a plataforma.

Isso pode ter colocado um fim à saga desastrosa para Justin Sun e a popular plataforma descentralizada de rede social.

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A comunidade da rede social descentralizada SteemIt subiu uma hashtag para criticar o truque aplicado por Justin Sun (Imagem: Pixabay/TheDigitalArtist)

#SteemHostileTakeover

O acordo já estava fadado ao fracasso. No contrato, Ned Scott, fundador da SteemIt, assinou a transferência das chaves privadas para uma pré-mineração (em que se cria um número de criptomoedas antes de virem à público). Isso representa 20% de todos os tokens STEEM e foi separado para financiar o desenvolvimento.

Assim, os tokens nunca seriam usados para a votação do algoritmo de consenso da SteemIt, o delegated proof-of-stake (DPoS). Esse algoritmo implementa um processo de votação e eleição para proteger o blockchain da centralização e de práticas maliciosas.

@thecryptodrive, usuário anônimo e operador (“witness”) do servidor da Steem, contou à Brave New Coin que o acordo firmado entre Scott e Sun representa uma traição a esse “contrato social” anterior.

“SteemIt Inc. sempre teve um contrato social com a comunidade, onde o stake minerado por especialistas era designado para o crescimento e desenvolvimento da Steem”, afirmou o usuário. “Além disso, o stake nunca foi usado para a votação de operadores ou posições, conforme foi combinado pela comunidade.”

Quando surgiu a notícia de que Sun planejava migrar os tokens STEEM do blockchain Steem para Tron, consideraram isso como uma ameaça às dapps, ferramentas e bibliotecas desenvolvidas pelos membros da comunidade.

Para combater essa mudança, a comunidade SteemIt votou em congelar os fundos pré-minerados que Sun usaria para implementar a proposta, em uma tentativa de destroná-lo.

Êxodo dos desenvolvedores

Logo em seguida, Sun apelou para algumas das maiores corretoras — Huobi, Binance e Poloniex — para realizar uma manobra que ele disse que iria salvar a rede Steem de “hackers maliciosos”.

Usando os tokens STEEM de clientes das corretoras, Sun formou um comando controlado para expulsar os “hackers” (no caso, os representantes eleitos pela comunidade) e obter maior controle sobre a rede.

Mas a decisão de “puxar de tapete” da comunidade acabou sendo uma péssima jogada, resultando em revolta nas redes sociais e fazendo com que grandes executivos abandonassem a Steem por conta da tamanha decepção.

Conforme a hashtag #SteemHostileTakeover (algo como “controle hostil da Steem”) virou um grande assunto no Twitter, Sun e as corretoras recrutadas por ele foram alvo de críticas por usarem depósitos de clientes para propósitos políticos.

Em meio ao caos, pelo menos quatro pessoas da principal equipe da Steem pediram demissão: Andrew Levine, Chefe de Comunicações, anunciou ter saído do projeto em protesto, e Steve Berbino, principal Desenvolvedor de Comunidade, também se demitiu, junto com outros dois engenheiros principais.

“Renuncio meu cargo como Chefe de Comunicações da Steemit. Vou dar um tempo para organizar minhas ideias e descansar um pouco. Espero que possamos continuar ‘fumegando'”, anunciou Andrew Levine na rede social descentralizada.

“Tentando tapar o sol com a peneira”

Em seguida, conforme a situação foi se intensificando nas redes sociais, as corretoras que facilitaram o truque em nome de Sun voltaram atrás e revogaram seu apoio.

Changpeng Zhao, CEO da Binance, tuitou que a corretora removeu seus votos no dia 3 de março, afirmando que pensou que a votação era para apoiar uma atualização comum.

“Eu aprovei a votação pela Binance achando (equivocadamente) que era uma atualização/bifurcação comum”, tuitou ele. “Por conta disso, eu peço desculpas.”

Em seguida, foi a vez de Huobi, revertendo o voto e devolvendo o poder de volta aos representantes da comunidade. Enquanto isso, Sun tentou se defender, afirmando que suas intenções eram simplesmente para “proteger a santidade da propriedade privada e dos interesses de todos os hackers maliciosos”.

Para os “steemianos”, a batalha foi uma vitória contra a centralização e, assim como afirmou o programador John McAfee, foi uma parábola para aqueles que querem comprar uma comunidade baseada em blockchain.

“Eu acredito que Justin Sun se esqueceu de um fato sobre a Steem: é uma comunidade”, tuitou ele. “Comunidades não podem ser compradas. É como tapar o sol com uma peneira.”

Por conta do grande cabo de guerra entre centralização e descentralização, o ocorrido pode ser um sinal do que está por vir.

Conforme comentou Vitalik Buterin, criador da Ethereum, o acontecimento parece ser “o primeiro caso de um ‘verdadeiro ataque de suborno’”, e um que, possivelmente, poderia se tornar mais comum conforme Ethereum migra para o mecanismo proof-of-stake (PoS) e outros blockchains surjam com algoritmos de consenso parecidos.

Emin Gün Sirer, professor de cripto da Universidade de Cornell, em Nova York, fez uma previsão parecida, sugerindo que haverá mais batalhas de blockchain conforme os problemas teóricos de descentralização de diferentes altcoins (criptomoedas alternativas ao bitcoin) se manifestem na prática.

“Veremos diversas falhas em diversas altcoins no próximo ano. Descentralizamos protocolos para evitar esses tipos de falha.”

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