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Startup chinesa na lista proibida de Trump prospera com Covid

19 ago 2020, 13:43 - atualizado em 19 ago 2020, 13:43
SenseTime
A SenseTime prospera com a crescente demanda por seu software de reconhecimento facial (Imagem: Facebook/SenseTime)

O futuro da maior companhia chinesa de inteligência artificial foi colocado em xeque no ano passado, quando entrou na lista do governo Donald Trump de empresas não confiáveis. Agora, a SenseTime prospera com a crescente demanda por seu software de reconhecimento facial, adotada por autoridades locais na China para combater o coronavírus.

A receita da startup sediada em Hong Kong subiu 147% para 5 bilhões de yuans (US$ 720 milhões) em 2019 e a base aumentou em cerca de 500 clientes para 1.200, segundo o cofundador Xu Bing.

As vendas devem avançar 80% este ano para cerca de 9 bilhões de yuans e o lucro bruto pode dobrar, de acordo com pessoas a par dos dados. Xu e SenseTime se recusaram a comentar sobre as projeções de resultado.

Essa demanda faz a SenseTime contemplar uma abertura de capital. A empresa está perto de completar uma rodada de captação de US$ 1,5 bilhão, que avalia o negócio em cerca de US$ 8,5 bilhões antes da injeção de dinheiro, abrindo caminho para a venda de ações, segundo fontes. A companhia — que tem entre seus patrocinadores SoftBank Group, Temasek Holdings e Alibaba Group Holding — está inclinada a fazer listagem dupla em Hong Kong e na China, acrescentaram as fontes.

A pandemia da Covid-19 provoca controvérsias desde que as infecções surgiram em Wuhan, há oito meses. Países como os EUA culpam as autoridades chinesas por censurar informações que poderiam ter ajudado a conter sua propagação.

Agora a economia da China está se recuperando rapidamente da crise, enquanto os EUA e tantos outros países têm dificuldades na retomada.

Autoridades chinesas tiveram sucesso aplicando leis e tecnologias que outros governos, como o americano, rejeitam. Quando surgiu um grupo de doentes no nordeste da China, foram instalados sensores para proteger as entradas do metrô. Câmeras fornecidas pela SenseTime detectam se os passageiros estão usando máscaras, sua temperatura e até sua identidade, mesmo com o rosto coberto.

É um exemplo de como o Partido Comunista, outrora desconfiado do setor privado, agora apoia empresas de tecnologia atacadas pelo governo do presidente Donald Trump, incluindo SenseTime, Huawei Technologies, Tencent Holdings e ByteDance (controladora do aplicativo TikTok).

O país prometeu gastar US$ 1,4 trilhão para desenvolver sua própria indústria de tecnologia e ultrapassar os EUA em setores estratégicos.

Agora a economia da China está se recuperando rapidamente da crise, enquanto os EUA e tantos outros países têm dificuldades na retomada (Imagem: REUTERS/Yuri Gripas)

No caso do reconhecimento facial, preocupações com privacidade estão em segundo plano enquanto o país rastreia os surtos. Medidas rigorosas adotadas por Pequim permitem que governos provinciais, empresas e condomínios residenciais implementem dispositivos de reconhecimento facial.

A tentação de usar essa tecnologia de forma mais ampla contra o vírus aumentou as preocupações com a privacidade. Em abril, mais de 130 grupos de direitos humanos publicaram uma carta alertando contra a expansão dos poderes de vigilância. “Os estados não podem simplesmente desrespeitar direitos como privacidade e liberdade de expressão em nome de enfrentar uma crise de saúde pública”, afirmou o documento.