Starbucks compensa agricultores com US$ 20 milhões por crise do café
A Starbucks está oferecendo proteção aos agricultores contra a queda dos preços do café, uma medida que também poderia proteger a oferta dos grãos de alta qualidade usados pela empresa.
A maior rede de cafeterias do mundo pagou um prêmio total de US$ 20 milhões para mais de 8 mil cafeicultores do México, El Salvador, Nicarágua e Guatemala, segundo Michelle Burns, vice-presidente sênior de café e chá global da Starbucks. O montante é superior aos valores normalmente pagos sobre os preços futuros de grãos arábica especiais, disse.
Como os preços caíram abaixo dos custos de produção em muitos países, proteger os fornecedores de grãos da empresa é especialmente importante para a Starbucks.
Cafeicultores da Colômbia ao México enfrentam a competição de safras cada vez maiores do líder global, o Brasil, onde a alta do dólar ainda oferece uma vantagem aos agricultores.
“Quando analisamos o custo da produção em vários países, ficou claro que países da América Latina estavam diante de uma situação séria”, disse Burns em entrevista.
“Quando um café arábica premium especial da mais alta qualidade – a arena em que atuamos – é impactado, com preços historicamente baixos em torno de US$ 1, há muitos países onde isso não é sustentável.”
A produção brasileira continua em expansão, com os preços futuros no menor nível em 12 anos na ICE Futures em Nova York, negociados em torno de US$ 1 por libra-peso. O custo de produção na América Central é pelo menos 30% superior ao do Brasil, segundo Carlos Mera, analista do Rabobank International.
A crise global do café uniu agricultores para exigir que os torrefadores paguem preços justos. A Colômbia chegou a considerar dissociar suas vendas de café dos futuros negociados em Nova York.
É improvável que os preços se recuperem significativamente sem intervenção, dado o potencial de aumento da produção de baixo custo no Brasil, disse Jeffrey Sachs, professor de economia da Universidade Columbia, em relatório publicado este mês.
Com o excesso de oferta global pairando sobre o mercado, a Starbucks disse que continua comprometida em tomar outras medidas para a temporada 2019-20, que começou em 1º de outubro.
A empresa também ajuda os agricultores através de seus nove centros de apoio e um plano para distribuir 100 milhões cafeeiros até 2025 para que os agricultores possam substituir os pés de café envelhecidos e doentes. Até agora, quase 32 milhões de mudas foram distribuídas.
“O desejável seria que o mercado tivesse alguma correção. Esse seria o estado ideal ”, disse Burns. “Se a crise do café sobre os preços continuar, examinaremos o que fazemos no lado financeiro e nosso contínuo trabalho” com os pés de café.
Mesmo quando a empresa não compra diretamente dos agricultores, pede às tradings que divulguem o quanto foi pago. Isso ajuda a determinar se são necessários pagamentos extras.
A Starbucks quer garantir que os agricultores cubram seus custos e obtenham pelo menos um pequeno lucro, de acordo com Burns. As compras da empresa respondem por 3% da produção global de café e por 40% dos grãos arábica especiais de alta qualidade.
A produção global está cada vez mais concentrada no Brasil e no Vietnã, o maior produtor mundial da variedade robusta. Isso gera o receio de que o mercado perderá a grande variedade de sabores atualmente disponíveis para os torrefadores.
“Construímos esta empresa em torno de uma diversidade de perfis de sabor de muitas regiões em crescimento ao redor do mundo”, disse Burns. “…Queremos a diversidade de origens das quais temos o privilégio de comprar.”