Coluna do Market Makers

SPX: Veja o que pode melhorar o humor de Rogério Xavier, um dos maiores gestores do Brasil

08 ago 2022, 13:34 - atualizado em 29 mar 2023, 18:40
Federal Reserve juros corte Fed Funds Treasuries Selic
Contando os minutos: para Rogério Xavier, fundador da SPX, bancos centrais começarão a discutir o corte dos juros daqui a seis meses (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

3 minutos e 50 segundos: essa foi a duração exata da participação de Rogério Xavier, na Expert 2022. Xavier é fundador da SPX, uma das maiores gestoras de recursos do Brasil (possui cerca de R$ 80 bilhões em ativos sob gestão, segundo site da empresa) e é gestor do SPX Raptor, fundo multimercado que acumula ganhos de 53% nos últimos 12 meses – quase o sêxtuplo do CDI do período.

Por morar em Londres, são raras as aparições públicas de Xavier, o que fazia sua participação no evento da XP tão aguardada.

O painel trazia outros 4 palestrantes, que tiveram ao todo 30 minutos para falar – completavam a lista os gestores multimercados Rodrigo Azevedo (Ibiuna) e Carlos Woelz (Kapitalo), além de Thiago Nigro, fundador do Grupo Primo, e Victor Oliveira, head de alocação da Grão, gestora recém adquirida pelo Grupo Primo.

Para minha decepção e de boa parte do público que acompanhava a Expert (as reações no chat da Expert não me deixam mentir), 20 dos 30 minutos de painel foram gastos pelo youtuber e seu sócio, que fizeram uma grande propaganda sobre como será o acordo entre Primo e Grão.

O restante do tempo foi dividido para os 3 gestores. Xavier falou por 3 minutos e 50 segundos e depois não falou mais.

Quem sou eu na fila do pão pra criticar o Thiago Nigro: seu canal no Youtube, o “Primo Rico”, tem 5,8 milhões de inscritos (mais do que o total de CPFs na B3). A capacidade dele de mobilizar multidões é invejável, basta lembrar os quase 50 mil espectadores que acompanhavam suas lives às 5 da manhã no Instagram. Tudo isso no alto dos seus 31 anos!

Contudo, faltou ao Primo entender o público da plenária. O famoso “read the room”. Num painel com três gestores consagrados, que estão acertando na mosca (e na cota) há muito tempo, o interesse da plateia seria saber o que eles estão pensando para os mercados, e não brincar de “Simon Diz” ou ouvir sobre um projeto incipiente de uma gestora.

Se o objetivo do Nigro e da XP (que é sócia do Grupo Primo) era mostrar o projeto com a Grão para o público institucional (que certamente não é espectador de seus vídeos no youtube), ele foi alcançado com sucesso. Mas para a audiência que queria informação e não propaganda, a sensação foi de ter sido enganado.

Agora, eu não estaria gastando essa CompoundLetter pra falar disso se a fala do Xavier (apesar de curta) não tivesse trazido algum importante ensinamento.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A lição de Rogério Xavier, da SPX

Naturalmente um “pessimista” com o futuro do mercado (ou como ele costuma dizer, “não sou pessimista, sou realista”), Xavier acredita que a partir de 6 meses podemos ver um ponto de inflexão nos mercados, que seria quando os Bancos Centrais no mundo todo devem começar a discutir cortes de juros.

“Acreditamos que, uma vez que a perspectiva não seja de um aperto tão longo quanto poderia ser esperado, isso vai levar os mercados a uma postura de que o Fed vai cortar os juros nos próximos 12 meses. É alta a probabilidade de estarmos discutindo isso. Ou seja, as curvas vão ficar inclinadas para baixo e isso vai afetar as taxas de juros reais de longo prazo, que são as que importam para calcular o fluxo de caixa das empresas. […] Eu tenho uma visão um pouco cautelosa nos próximos 6 meses por conta do aperto monetário que está sendo feito, mas quando eu olho daqui a 6 meses, eu já vejo de uma maneira mais positiva. […] Com os efeitos [do aperto monetário] já aparecendo nos dados, eu acho que a próxima discussão não só no mundo mas no Brasil é de corte de juros e isso tende a ser favorável nos ativos financeiros”.

Apesar de tão parecidas, as expressões “nos próximos 6 meses” e “daqui 6 meses” podem definir a mudança de humor de um dos maiores gestores brasileiros. Até lá, teremos um caminho duro pela frente, e que deve ficar mais conturbado conforme nos aproximamos das eleições.

Ter a oportunidade de ouvir aqueles que têm mais experiência e construíram algo grande no mercado é um aprendizado valioso. Disfrutamos disso no Market Makers. É como o próprio Primo Rico disse na Expert: “eu só tive um relativo sucesso porque soube ouvir as pessoas certas. Então enquanto estava no bastidor, eu, como um jovem de 31 anos, só estava ouvindo eles [Xavier, Woelz e Azevedo]. Eles são pessoas que já viveram muitas coisas que eu não vivi e que eu ainda vou viver. Então eu quero ouvir conselhos de pessoas muito melhores do que eu”.

ps: na semana passada nos despedimos do Jô Soares. Ele sempre foi muito presente na minha vida, antes como “companheiro das madrugadas” assistindo suas entrevistas e depois sendo uma das minhas referência como entrevistador. Nossos amigos do Gaincast fizeram uma homenagem muito legal para o Jô, transformando em animação uma sketche na qual ele explica como é o capitalismo em cada país do mundo. Está lá no instagram deles.

Forte abraço,
Thiago Salomão

Disclaimer

Money Times publica matérias informativas, de caráter jornalístico. Essa publicação não constitui uma recomendação de investimento.

Entre para o grupo do Money Times no Telegram!

Você acessa as notícias em tempo real e ainda pode participar de discussões relacionadas aos principais temas do Brasil e mundo. Entre agora para o nosso grupo no Telegram!