SPX: Veja o que pode melhorar o humor de Rogério Xavier, um dos maiores gestores do Brasil
3 minutos e 50 segundos: essa foi a duração exata da participação de Rogério Xavier, na Expert 2022. Xavier é fundador da SPX, uma das maiores gestoras de recursos do Brasil (possui cerca de R$ 80 bilhões em ativos sob gestão, segundo site da empresa) e é gestor do SPX Raptor, fundo multimercado que acumula ganhos de 53% nos últimos 12 meses – quase o sêxtuplo do CDI do período.
Por morar em Londres, são raras as aparições públicas de Xavier, o que fazia sua participação no evento da XP tão aguardada.
O painel trazia outros 4 palestrantes, que tiveram ao todo 30 minutos para falar – completavam a lista os gestores multimercados Rodrigo Azevedo (Ibiuna) e Carlos Woelz (Kapitalo), além de Thiago Nigro, fundador do Grupo Primo, e Victor Oliveira, head de alocação da Grão, gestora recém adquirida pelo Grupo Primo.
Para minha decepção e de boa parte do público que acompanhava a Expert (as reações no chat da Expert não me deixam mentir), 20 dos 30 minutos de painel foram gastos pelo youtuber e seu sócio, que fizeram uma grande propaganda sobre como será o acordo entre Primo e Grão.
O restante do tempo foi dividido para os 3 gestores. Xavier falou por 3 minutos e 50 segundos e depois não falou mais.
Quem sou eu na fila do pão pra criticar o Thiago Nigro: seu canal no Youtube, o “Primo Rico”, tem 5,8 milhões de inscritos (mais do que o total de CPFs na B3). A capacidade dele de mobilizar multidões é invejável, basta lembrar os quase 50 mil espectadores que acompanhavam suas lives às 5 da manhã no Instagram. Tudo isso no alto dos seus 31 anos!
Contudo, faltou ao Primo entender o público da plenária. O famoso “read the room”. Num painel com três gestores consagrados, que estão acertando na mosca (e na cota) há muito tempo, o interesse da plateia seria saber o que eles estão pensando para os mercados, e não brincar de “Simon Diz” ou ouvir sobre um projeto incipiente de uma gestora.
Se o objetivo do Nigro e da XP (que é sócia do Grupo Primo) era mostrar o projeto com a Grão para o público institucional (que certamente não é espectador de seus vídeos no youtube), ele foi alcançado com sucesso. Mas para a audiência que queria informação e não propaganda, a sensação foi de ter sido enganado.
Agora, eu não estaria gastando essa CompoundLetter pra falar disso se a fala do Xavier (apesar de curta) não tivesse trazido algum importante ensinamento.
A lição de Rogério Xavier, da SPX
Naturalmente um “pessimista” com o futuro do mercado (ou como ele costuma dizer, “não sou pessimista, sou realista”), Xavier acredita que a partir de 6 meses podemos ver um ponto de inflexão nos mercados, que seria quando os Bancos Centrais no mundo todo devem começar a discutir cortes de juros.
“Acreditamos que, uma vez que a perspectiva não seja de um aperto tão longo quanto poderia ser esperado, isso vai levar os mercados a uma postura de que o Fed vai cortar os juros nos próximos 12 meses. É alta a probabilidade de estarmos discutindo isso. Ou seja, as curvas vão ficar inclinadas para baixo e isso vai afetar as taxas de juros reais de longo prazo, que são as que importam para calcular o fluxo de caixa das empresas. […] Eu tenho uma visão um pouco cautelosa nos próximos 6 meses por conta do aperto monetário que está sendo feito, mas quando eu olho daqui a 6 meses, eu já vejo de uma maneira mais positiva. […] Com os efeitos [do aperto monetário] já aparecendo nos dados, eu acho que a próxima discussão não só no mundo mas no Brasil é de corte de juros e isso tende a ser favorável nos ativos financeiros”.
Apesar de tão parecidas, as expressões “nos próximos 6 meses” e “daqui 6 meses” podem definir a mudança de humor de um dos maiores gestores brasileiros. Até lá, teremos um caminho duro pela frente, e que deve ficar mais conturbado conforme nos aproximamos das eleições.
Ter a oportunidade de ouvir aqueles que têm mais experiência e construíram algo grande no mercado é um aprendizado valioso. Disfrutamos disso no Market Makers. É como o próprio Primo Rico disse na Expert: “eu só tive um relativo sucesso porque soube ouvir as pessoas certas. Então enquanto estava no bastidor, eu, como um jovem de 31 anos, só estava ouvindo eles [Xavier, Woelz e Azevedo]. Eles são pessoas que já viveram muitas coisas que eu não vivi e que eu ainda vou viver. Então eu quero ouvir conselhos de pessoas muito melhores do que eu”.
ps: na semana passada nos despedimos do Jô Soares. Ele sempre foi muito presente na minha vida, antes como “companheiro das madrugadas” assistindo suas entrevistas e depois sendo uma das minhas referência como entrevistador. Nossos amigos do Gaincast fizeram uma homenagem muito legal para o Jô, transformando em animação uma sketche na qual ele explica como é o capitalismo em cada país do mundo. Está lá no instagram deles.
Forte abraço,
Thiago Salomão
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