S&P rebaixa ratings da JBS e JBS EUA de B+ para B por risco na renegociação de dívidas
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
A agência Standard & Poor’s Global Ratings rebaixou hoje seus ratings de crédito de emissor na escala global atribuídos à JBS e à JBS USA de ‘B+’ para ‘B’. Além disso, rebaixou o rating na Escala Nacional Brasil da JBS de ‘brBBB+’ para ‘brBB+’. Também reduziu o rating das dívidas senior unsecured da JBS e da JBS USA de ‘B+’ para ‘B’, e o da dívida senior secured da JBS USA de ‘BB’ para ‘BB-’. A perspectiva dos ratings de crédito de emissor permanece negativa.
Os ratings de recuperação das dívidas de ambas as empresas não foram alterados. O rating de recuperação ‘1’ da dívida senior secured da JBS USA reflete as expectativas de uma recuperação muito alta (95%). Os ratings de recuperação ‘3’ da dívida senior unsecured da JBS USA indica uma expectativa de recuperação significativa (65%), e o ‘4’ da dívida senior unsecured da JBS mostra uma expectativa de recuperação média (35%).
O rebaixamento dos ratings baseia-se na visão de aumento nos riscos reputacionais à JBS após a detenção, no mês de setembro, de seus dois acionistas controladores, sendo um deles o presidente executivo da empresa, por suspeitas de uso de informações privilegiadas. Em nossa visão, isso poderá pressionar ainda mais as negociações de refinanciamento da JBS com os bancos até meados do próximo ano, quando vencerá a dívida do seu recente acordo com os bancos.
Embora a JBS tenha reduzido sua dívida de curto prazo com os recursos da venda de ativos, ela ainda terá um valor elevado de vencimentos no mês de julho de 2018, entre R$ 10 bilhões e R$ 13 bilhões, enquanto não gera caixa suficiente para amortizá-la de uma só vez.
Além disso, quaisquer potenciais passivos contingentes ou desdobramentos das atuais investigações poderão colocar riscos adicionais para a empresa acessar os mercados de crédito e de capitais. A S&P incorporou todos esses riscos em sua classificação de sua análise de ratings comparáveis, que antes avaliava como neutra e agora é negativa.
Mitigando esses riscos está a melhora na rentabilidade da JBS, principalmente fora do Brasil, em função dos menores custos de insumos do que os do ano passado e dos sólidos fundamentos para demanda. Se essas condições persistirem, elas devem permitir geração de fluxo de caixa mais forte, o que poderá amenizar as negociações de refinanciamento.
Deficiências sérias de governança
A avaliação de governança e administração da JBS continua sendo fraca principalmente porque o recente escândalo de corrupção indica severas deficiências de governança que pesam sobre a capacidade da empresa para executar, de forma eficiente, seu plano de negócios e administrar riscos e passivos.
Liquidez menor
A S&P vê a liquidez da JBS como menos que adequada porque projeta que as fontes superarão os usos em cerca de 1,0x nos próximos 12 meses. A empresa foi capaz de rolar a maioria de sua dívida de curto prazo em julho de 2017, mas somente por 12 meses, de forma que ainda existem grandes vencimentos de dívida em julho de 2018, apesar de certo suporte vindo dos recursos da venda de ativos.
A S&P acredita que a JBS possa enfrentar dificuldades para refinanciar algumas de suas dívidas, e vê sua posição nos mercados de capitais como mais fraca do que no passado em razão das recentes investigações de corrupção. Porém, espera que a empresa mantenha folga confortável nas cláusulas contratuais restritivas (covenants) de seus empréstimos que estabelecem um índice de dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) abaixo de 4,75 vezes.
Risco de novo rebaixamento
A S&P diz que pode rebaixar os ratings da JBS nos próximos seis meses se a empresa não for capaz de avançar com as negociações de refinanciamento para suas dívidas, pressionando sua posição de caixa em razão da concentração significativa de dívida de curto prazo com vencimento em julho de 2018. Uma ação de rating positiva nos próximos 6-12 meses, por sua vez, poderá ocorrer se a empresa conseguir refinanciar sua dívida de curto prazo antecipadamente e concluir as esperadas vendas de ativos, reduzindo as pressões de liquidez. “Nesse cenário, também veríamos o desempenho das operações da JBS alinhado ou até mais forte do que nossas expectativas, gerando fluxo de caixa livre e permitindo redução de dívida adicional em 2018.”