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Sonho do lítio enfrenta choque de realidade na América do Sul

11 out 2019, 14:54 - atualizado em 11 out 2019, 14:54
Enquanto isso, uma empresa chilena que monta baterias com componentes importados não consegue obter células de lítio suficientes para garantir suas vendas no Chile (Imagem: Cristbal Olivares)

A América do Sul controla cerca de 70% das reservas mundiais de lítio, o metal usado em baterias recarregáveis de celulares e veículos elétricos, mas não dispõe da infraestrutura necessária para que o setor se desenvolva.

As instalações de refino de lítio e montagem de baterias podem ajudar a impulsionar setores em economias muito dependentes de commodities para obter receita, o que coloca esses países em risco devido às acentuadas oscilações de preços.

Até agora, porém, iniciativas de governos e do setor privado na Argentina, Bolívia, Brasil e Chile não conseguiram erguer uma única fábrica de células de lítio. E não há previsão de que haja alguma antes de 2025.

O Chile, o segundo maior produtor mundial de lítio, cuja produção é liderada pela Austrália, oferece talvez o melhor exemplo de uma iniciativa que saiu da rota. Um projeto de células de lítio de US$ 285 milhões de dólares de duas empresas sul-coreanas foi cancelado em junho, quando a queda dos preços do lítio reduziu os incentivos do governo para o metal.

Enquanto isso, uma empresa chilena que monta baterias com componentes importados não consegue obter células de lítio suficientes para garantir suas vendas no Chile.

“O tamanho da oportunidade é enorme”, disse James Ellis, chefe de pesquisa para a América Latina da BloombergNEF. “Faz sentido tentar subir na cadeia de valor. Mas, quando você olha para o que é planejado globalmente, não há ativos de fabricação de baterias na América Latina.”

Outros países da região enfrentam seus próprios desafios:

Argentina

O terceiro maior produtor de lítio do mundo também tem uma iniciativa apoiada pelo governo parada.

No ano passado, a italiana Seri Industrial formou uma joint venture com a estatal Jujuy Energy and Mining State Society, conhecida como JEMSE. O plano era construir uma unidade para fabricar células e cátodos de lítio, além de montar peças de bateria, usando lítio bruto extraído na província de Jujuy, na Argentina.

Mas a crise econômica e a possibilidade de o candidato da oposição Alberto Fernández vencer as próximas eleições presidenciais, nas palavras do presidente da JEMSE, Carlos Oehler, “esfriaram todos os projetos de investimento na Argentina, incluindo a construção de uma fábrica de baterias”.

Brasil

Na maior economia da América Latina, o ex-executivo da Tesla Marco Krapels e Peter Conklin, que trabalhou na SunEdison, fundaram a MicroPower-Comerc com o objetivo de fornecer grandes baterias recarregáveis para instalações comerciais e industriais. Mas o governo brasileiro quase não oferece subsídios para energia renovável, e os impostos de importação aumentam em cerca de 65% o custo das baterias.

Isso levou a empresa, que tem parceria com a Siemens, a considerar a compra de componentes no exterior e fazer a montagem no Brasil como forma de reduzir os custos.

Embora o mercado doméstico de grandes baterias quase não exista, a Krapels vê oportunidades no país, com uma rede de energia elétrica ocasionalmente instável e um mercado robusto para energia eólica e solar. Em entrevista no mês passado, o executivo disse que é um negócio para os “fortes” e que “há uma vantagem em ser o primeiro a entrar no mercado”.

Bolívia

A Bolívia não conseguiu produzir volumes significativos de lítio ou produtos de lítio. Mas possui o maior salar do mundo, cobrindo 6.437 quilômetros e com mais de 15% dos recursos de lítio não minerados do mundo.

Uma usina-piloto administrada pela Yacimientos de Litio Bolivianos, ou YLB, produziu perto de 250 toneladas de carbonato de lítio em 2018, e a meta do país é alcançar 150 mil toneladas em cinco anos em parceria com empresas alemãs e chinesas. Se for bem-sucedida, a Bolívia se tornará um dos maiores produtores.

Chile

O produtor de lítio tentou incentivar empresas de baterias a construir fábricas no país, obrigando mineradoras a vender lítio com desconto. A iniciativa atraiu o interesse de gigantes, como Samsung SDI e Posco em 2017, quando os preços do lítio atingiram recordes de alta.

Mas, desde então, os preços caíram cerca de 30% e, no início deste ano, as empresas abandonaram planos de construção de fábricas.

Mesmo empresas que embarcaram em iniciativas menos ambiciosas enfrentam obstáculos. No sul do Chile, a Andesvolt atualmente importa componentes de baterias para montagem na cidade de Valdivia.

A empresa fornece baterias de íons de lítio para concessionárias como a Enel Americas, que as instala como energia alternativa em unidades industriais, comerciais e residenciais em todo o país.

A Andesvolt espera produzir 1.000 quilowatt-hora este ano, acima dos 200 quilowatt-hora de 2018. Mas tem achado tão difícil importar células de lítio que avalia construir a primeira fábrica de células de lítio da América do Sul, e assim evitar interrupções das importações de células da China, disse o fundador e CEO David Ulloa.

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