Internacional

Sonho de Johnson de acordo EUA-Reino Unido enfrenta realidade

13 nov 2020, 15:14 - atualizado em 13 nov 2020, 15:14
Boris Johnson
Johnson indicou em carta enviada a Biden no fim de semana passado que seu objetivo é tornar o acordo comercial bilateral uma prioridade (Imagem: REUTERS/John Sibley)

A eleição de Joe Biden para a presidência dos EUA é um duro choque de realidade para o desejo do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, de fechar rapidamente um acordo comercial com o governo americano, um projeto que até agora dependia muito dos caprichos do presidente Donald Trump.

Após cinco rodadas de negociações formais, ambos os lados insistem que conseguiram um bom avanço no que seria o segundo maior acordo comercial pós-Brexit do Reino Unido, eclipsado apenas pelo pacto com a União Europeia.

Existem até algumas discussões sobre a realização de uma nova rodada formal de negociações antes de Trump deixar a Casa Branca em janeiro, de acordo com pessoas próximas às negociações.

Johnson indicou em carta enviada a Biden no fim de semana passado que seu objetivo é tornar o acordo comercial bilateral uma prioridade, segundo uma pessoa a par do conteúdo.

O comércio também foi um dos assuntos discutidos quando os dois líderes falaram por telefone na terça-feira, de acordo com relatório divulgado pelo governo britânico.

Mas as negociações comerciais são quase sempre prolongadas que dependem mais de uma lenta marcha processual sobre os detalhes do que de desejos políticos.

Pessoas próximas às negociações dizem que concluir o acordo no primeiro semestre de 2021 sempre pareceu ambicioso, mesmo que Trump tivesse sido reeleito. Esse cronograma parece ainda menos provável com Biden na Casa Branca, o que, por sua vez, levanta outros desafios logísticos.

De acordo com a Constituição dos EUA, o Congresso tem autoridade sobre o comércio internacional. Por décadas, essa autoridade foi delegada aos presidentes americanos sob o que agora é conhecido como Autoridade de Promoção Comercial (TPA, na sigla em inglês).

O Congresso estabelece prioridades e regras para todas as negociações na legislação que concede essa autoridade. Em troca, os presidentes recebem a garantia de que o legislativo considerará os acordos comerciais por meio de uma simples votação e não buscará renegociá-los.

A má notícia para Johnson é que a versão atual do TPA expira em 1º de julho. Para sair à frente do que é quase sempre uma negociação trabalhosa e politicamente carregada para renovar a autoridade de negociação comercial, as negociações EUA-Reino Unido teriam que ser concluídas de forma que Biden pudesse notificar o Congresso de sua intenção de assinar um acordo antes de 1º de abril.

Mesmo que Biden quisesse fazer isso, o maior problema logístico que o Reino Unido enfrenta para cumprir esse prazo é que um novo Representante de Comércio dos EUA pode não estar no cargo antes desse prazo. Robert Lighthizer, o czar de Comércio de Trump, só foi confirmado pelo Senado em 11 de maio de 2017, quase quatro meses após a posse de Trump.

Uma porta-voz do Departamento de Comércio Internacional do Reino Unido disse que o governo de Johnson espera entrar em contato com o próximo governo nas próximas semanas, acrescentando que as negociações sobre questões técnicas continuarão durante a transição da liderança.

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