Soja teve um dos anos com maior número de gatilhos em Chicago; veja mês a mês
2022 foi o ano com maior número de “gatilhos” que proporcionaram intensa volatilidade nas cotações internacionais da soja, na comparação com períodos mais recentes.
Inclusive com uma quantidade extra de reflexos das oscilações dos mercados financeiros e do petróleo, especialmente após a evolução dos picos inflacionários e preocupações com a recessão, que levaram o Federal Reserve (Fed) a passar a elevar os juros a 0,75 pontos percentuais, como concorda o analista Ruan Sene, da Grão Direto.
As principais máximas dos 12 meses aconteceram no primeiro semestre.
O ano finda também com a soja, o principal grão, sendo menos comprada pela China. De janeiro a novembro, o país levou 51,8 milhões de toneladas (56,5 milhões/t em igual período de 2021) do Brasil, sendo que dos Estados Unidos foram 3 milhões/t a menos, para 23 milhões/t.
Para entender em perspectiva todas as variáveis de fundamentos nos preços da bolsa de Chicago (CBOT), que acabam determinando os negócios e prêmios internamente, Sene preparou para um roteiro básico mês a mês – com algumas intervenções de Money Times -, acompanhado da tabela de cotações médias da commodity de janeiro até 12 de dezembro (veja ao final).
Janeiro
A média de cotações foi de US$ 13,58 o bushel, com o período já começando a marcar o clima na América do Sul pela intensidade do La Niña. Quente e seco no Sul do Brasil, Argentina e Paraguai, e alguma irregularidade em outras regiões produtoras brasileiras.
Fevereiro
A soja ganhou quase US$ 2 na ponderação do mês, quando a oferta americana havia cessado totalmente, a safra brasileira ainda não sendo colhida por completo e já com sinais de quebra, mais a invasão russa na Ucrânia, começando a fazer tremer a oferta de milho e trigo, puxando a oleaginosa. No mercado interno, por exemplo, a cotação chegou a R$ 200 a saca.
Março
Confirmações da quebra de safra na América do Sul com evolução da colheita, que se confirmou menor em até 20 milhões de toneladas na soma dos três países. Algumas regiões de soja mais precoce nos Estados Unidos começaram a plantar. E início das sanções econômicas contra a Rússia. O vencimento médio do mercado futuro foi a US$ 16,81.
Abril
Evolução do plantio nos EUA atrasado, com clima causando preocupações, mantendo as cotações em altos patamares, alcançando US$ 16,79.
Maio
O mercado fica mais atento à Ucrânia e dissipa a impressão de que o conflito acabaria rápido, enquanto os lockdowns na China vão intensificando seus impactos sobre a demanda. Os ativos financeiros aumentam o nível de risco. O preço do grão sobe a US$ 15,82.
Junho
Aqui foi a máxima do ano, US$ 16,91 de média. Além o ciclo 21/22 amplamente prejudicado em oferta, a aversão ao risco é crescente, afetando as commodities agrícolas, com os fundos desfazendo suas posições nestes ativos e buscando outros mais seguros frente a tantas incertezas.
Julho
Embora o clima nos EUA voltou a preocupar mais intensamente, segurando as cotações no patamar dos US$ 15, o acordo de exportações de grãos pela Ucrânia permitiu um afrouxamento nos vencimentos futuros, que desceram para US$ 15,56.
Agosto
Mês marcado por estabilidade em Chicago. De um lado China diminuindo as compras, de outro, clima desfavorável afetando o desenvolvimento da soja nos EUA, que se refletia em números incertos do USDA. Cotação básica em US$ 15,68, mantendo-se também de lado frente ao mês anterior.
Setembro
Governo argentino lança o a primeira edição “dólar soja”, com intuito de atrair dólares para o país, e oferta mais internacionalmente, com o câmbio então favorável. Ao mesmo tempo, China ainda com demanda fraca e boas expectativas da safra brasileira, com as chuvas retornando. O bushel tem uma boa ‘barrigada’, para US$ 14,64.
Outubro
O plantio no Brasil já iniciado no meio de setembro está dentro da janela e com clima favorável. Expectativa de produção recorde, acima de 150 milhões de toneladas, embora o Rio Grande do Sul começasse a preocupar. A soja vai à segunda mínima do ano, US$ 13,80.
Novembro
Evolução do plantio na América do Sul. Brasil com clima favorável na maioria das regiões, fora nas lavouras gaúchas. Argentina emite mais alertas de quebra severa por falta de chuva e altas temperaturas. O vizinho introduz a segunda rodada do ‘dólar soja’, mas não deprime o mercado como antes. A commodity vai a US$ 14,46 na régua do mês.
Dezembro
Preocupação com a Argentina continua afetando principalmente os derivados de soja, e alteram o equilíbrio do final do ano. O Brasil segue sem problemas graves que impactem o mercado interno de soja, com exceção do Rio Grande do Sul.