Eleições

Socialistas surpreendem e conquistam maioria absoluta em eleição em Portugal

31 jan 2022, 8:21 - atualizado em 31 jan 2022, 8:21
“Uma maioria absoluta não significa poder absoluto. Não significa governar sozinho. É uma responsabilidade acrescida e significa governar com e para todos os portugueses”, disse Costa (Imagem: REUTERS/Pedro Nunes)

Desafiando todas as probabilidades, o Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, conquistou uma maioria parlamentar absoluta nas eleições gerais realizadas em Portugal no domingo, garantindo um novo mandato, mais forte que o anterior, para o primeiro-ministro António Costa, um defensor de contas públicas equilibradas.

O resultado, impulsionado por uma participação maior do que a esperada apesar da pandemia do coronavírus, surge como uma surpresa depois que os socialistas perderam a maior parte de suas vantagens em recentes pesquisas de opinião, e significa que Portugal terá um governo estável para supervisionar a aplicação dos fundos de recuperação pandêmica da UE.

A votação foi convocada em novembro, depois que os ex-aliados de esquerda de Costa, o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE), se juntaram à direita para derrotar o Orçamento proposto pelo seu governo minoritário.

Os dois partidos mais à esquerda pagaram o preço na eleição de domingo, perdendo mais da metade de seus assentos na Assembleia da República, de acordo com as pesquisas de boca de urna.

Após as pesquisas de opinião da semana passada, o próprio Costa reconheceu que os portugueses não queriam lhe dar uma maioria absoluta e disse que estava preparado para fazer alianças com partidos de mesma opinião, o que não será necessário.

“Uma maioria absoluta não significa poder absoluto. Não significa governar sozinho. É uma responsabilidade acrescida e significa governar com e para todos os portugueses”, disse Costa em seu discurso de vitória.

Antes dos resultados finais, Costa disse que o partido havia conquistado 117 ou 118 assentos no parlamento de 230 cadeiras, contra 108 conquistados nas eleições de 2019, e seus partidários irromperam em altas celebrações, cantando o velho hino revolucionário “Grandola” e agitando bandeiras.

Costa, que chegou ao poder em 2015, após uma crise da dívida de 2011 a 2014, presidiu um período de crescimento econômico estável que ajudou a diminuir o déficit orçamentário e até mesmo a obter um pequeno superávit em 2019, antes que a pandemia ocorresse.

Ainda assim, Portugal continua sendo o país mais pobre da Europa Ocidental e depende dos fundos de recuperação pandêmica da UE.

O economista Filipe Garcia, chefe da Informação de Mercados Financeiros no Porto, disse que os investidores provavelmente apreciariam o novo mandato mais forte dado a Costa, por causa da redução promovida no déficit orçamentário.

“Além disso, os socialistas não precisarão de se comprometer (com outras partes), o que garante estabilidade e uma linha de ação clara. O maior desafio será a promoção do crescimento potencial”, disse ele.

Os Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, ficou em segundo lugar, com menos de 30% dos votos, segundo resultados provisórios, contra os cerca de 42% dos socialistas.

O Chega, de extrema-direita, surgiu como a terceira maior força parlamentar ao dar um grande salto de apenas um assento na legislatura anterior para pelo menos 11.

Um governo estável deve ser um bom presságio para o acesso de Portugal a um pacote de 16,6 bilhões de euros de ajuda da União Europeia para a recuperação da pandemia e seu sucesso na canalização de fundos para projetos destinados a impulsionar o crescimento econômico.

Com mais de um décimo dos 10 milhões de pessoas de Portugal que se estima estarem isoladas devido à Covid-19, o governo havia permitido que as pessoas infectadas deixassem o isolamento e votasse pessoalmente, e os funcionários eleitorais usaram trajes de proteção durante a tarde para recebê-los.

O comparecimento às urnas caminhava para superar os 49% de 2019, uma baixa recorde.

Como em muitos países europeus, as infecções pela Covid-19 aumentaram em Portugal, embora a vacinação tenha mantido as mortes e hospitalizações mais baixas do que em ondas anteriores.

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