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Sobe e desce da bomba: Clima preocupa cana, ICMS favorece etanol e ‘Petrobras (PETR4) de Lula’ favorece gasolina

15 jun 2023, 10:26 - atualizado em 15 jun 2023, 15:22
Combustíveis
De acordo com analista da StoneX, a estatal tem voltado suas atenções ao consumidor final, explorando melhores preços para gasolina (Imagem: Freepik)

Há duas semanas, entrou em vigor uma alíquota única e fixa do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na gasolinaCom a mudança, foi aplicada à cobrança de R$ 1,22 por litro em todo o país.

A princípio, o valor seria de R$ 1,45 e entraria em vigor apenas em julho. No entanto, a alíquota do ICMS foi reduzida para R$ 1,22 e adiantada em um mês.

Sobre o “sobe e desce da bomba”, o Agro Times conversou com Marcelo Di Bonifácio Filho, analista de açúcar e etanol da StoneX, para entender o cenário dos combustíveis, assim como o trabalho das usinas.

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O que mexe no mercado do etanol?

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com dados da última semana, o etanol está mais competitivo em relação à gasolina apenas em São Paulo e Mato Grosso.

Vale lembrar que paridade é favorável ao biocombustível quando ela está abaixo de 70%. No estado paulista, a paridade está em 68,93%, enquanto no estado do Centro-Oeste o índice está em 63,75%.

Segundo o analista da StoneX, a alíquota única do ICMS favoreceu a demanda por etanol, que deve ter um mês positivo em São Paulo.

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“Essa queda, principalmente em São Paulo, polo consumidor mais importante do biocombustível no Brasil, precisava acontecer, já que o etanol não estava tendo demanda nos últimos tempos, não víamos esse estímulo desde setembro do ano passado”, explica.

Bonifácio ressalta que o etanol convive com oferta elevada, com as indústrias elevando a moagem das usinas, que avançou 5,48% na 1ª quinzena de maio.

“A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) indicou essa moagem, com um recorde na produção de açúcar, e mesmo que a produção de açúcar seja o foco das usinas, a produção de etanol também está crescendo já que nós temos mais cana, e com uma melhor qualidade. O Centro-Sul tem surpreendido neste sentido”, diz Bonifácio.

Petrobras (PETR4) de Lula?

Existe uma expectativa para retomada dos impostos federais sobre a gasolina em julho. No entanto, não há certeza quanto o valor dessa tributação.

“Com essa mudança, tende a ocorrer um aumento para gasolina. Quando a Petrobras (PETR4) anunciou o fim da política de paridade de importação (PPI), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a estatal poderia diminuir o preço do combustível em julho. Ou seja, pode haver essa retomada de impostos junto com esse novo ICMS, mas, ao mesmo tempo existe essa pressão do governo para que a Petrobras reduza o preço da gasolina. Sendo assim, uma coisa compensaria a outra”, analisa.

A queda da gasolina é um fator fundamental para a “Petrobras de Lula”, que desde o início do seu terceiro mandato como presidente tem se preocupado mais com o consumidor final.

“Ficou muito claro que a Petrobras quer se posicionar de forma mais competitiva no mercado interno, para não ficar
a mercê da competição privada. Após o fim da PPI, as ações subiram bastante, o que fica contraditório, porque o mercado não gosta desse controle de estatais. No entanto, isso mostra que a Petrobras quer se impor mais em termos de preço e olhar mais para o consumidor final, já que esse não era o objetivo da antiga política”, diz.

Impactos do clima na safra de cana-de-açúcar

Segundo o analista, o mercado do açúcar está muito tensionado por conta das temperaturas mais baixas no Centro-Sul, com maiores acumulados de chuva e até geada no Mato Grosso do Sul gerando preocupação.

“Para a colheita da cana-de-açúcar a chuva é ruim porque o produtor não consegue realizar trabalhos com as máquinas e a geada, se acontecer, estraga a cana. Não há certeza quanto essa geada, mas existe essa possibilidade mais localizada, assim, o mercado subiu bastante com esse temor. Estamos em uma época do ano crítica para safra, então qualquer notícia de possíveis impactos do clima no Centro-Sul do Brasil será sentido no preço já que o país é o único ofertante no mercado neste momento”, explica Bonifácio.

O analista explica que no mercado internacional, grandes produtores de açúcar tiveram problemas. A Índia, por exemplo, teve quebra na safra, enquanto a Tailândia não produziu o volume esperado pelo mercado. Nesse momento, apenas a Austrália está colhendo a cana, enquanto o resto do mundo está em um período de entressafra.

“Recentemente, os preços na ICE Futures estavam caindo e a tendência ainda é de queda, já que o Centro-Sul do Brasil está colhendo muito, com a segunda quinzena de maio apresentando um recorde de produção para o período.
Há relatos de usinas que não estão colhendo tanta cana porque a produtividade está tão elevada, que eles tem optado por segurar a área colhido por existirem limitações na capacidade diária de operação nas fábricas de açúcar”, destaca.

Por fim, Bonifácio acredita na possibilidade das usinas estarem antecipando os trabalhos devido ao El Niño, já que o fenômeno climático poderia afetar os trabalhos de colheita.