Sob risco de quebradeira, pequenas torrefadoras podem operar hedge em conjunto em bolsa
Às portas com a possibilidade de uma onda de quebradeira de micros e pequenas torrefadoras de café, o setor paulista também pode experimentar um novo ciclo de profissionalização com a ida em bolsa e hedgear futuras operações contra momentos de crise aguda como o atual.
O Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo (Sindicafé SP) já está conversando com um grupo de indústrias de pequeno porte e examinando as condições de mercados com corretoras.
O projeto, segundo o presidente Natan Herszkowicz, é fazer essas empresas “terem o mesmo pulmão que as grandes”, atenuando o estreitamento de margens como agora quando o café explodiu numa sequência de condições climáticas que começaram com a seca de 2020 e as geadas nos últimos dois meses.
Travar os negócios no mercado futuro e de opções será o nome do jogo, juntando grupos que passem a deter um capital relevante e “chamem a atenção do mercado”.
No caso dessas pequenas, nem há estreitamento de margens mais. Não há margem. Algumas médias e as cinco grandes (Nestlé, JD/Pilão, Marata, Melita e 3 Corações) – com 65% do mercado -, têm estoques e marcas de combate, lembra o executivo, mas as demais não.
Nas contas Herszkowicz, ex-presidente da Abic por 16 anos, São Paulo tem cerca de 230 torrefadoras de micro e pequeno tamanho – no Brasil, entre 700 e 800.
E se considera que algumas vão deixar o mercado porque não conseguem margem para repassar seus preços.
Consolidação
Porém, apesar de o Sindicafé SP ver também possibilidades de um novo ciclo de concentração, com os maiores comprando os menores, como aconteceu em passado recente de consolidação do setor, nem todas tem participação de mercado que salte aos olhos dos potenciais compradores.
Vale lembrar, como concorda o executivo, que muitas torrefadoras atendem pequenos negócios regionalizados, e já nem dão conta de manter fidelização de marca, coisa que o avanço das gigantes do setor fez com que desaparecesse esse modelo antes tradicional no café.
Num negócio onde a matéria-prima é de 70% a 75% do custo da produção, sem condições de repasse, e no qual os pequenos já vendiam o almoço para pagar a janta, ficou mais proibitivo. Só a saca do arábica saltou entre R$ 300 e R$ 400 este ano, mesmo essas categorias de empresas já operando com uma pontuação mais baixa na qualidade do café.
E aumentar o blend com o robusta, também não funciona, desde quando esse tipo mais barato já não ficou mais barato assim, puxado pela escassez do outro.
O presidente do Sindicafé SP não vê competitividade com o robusta igualmente batendo os R$ 400 a saca (praticamente dobrou), justamente porque os grandões do setor também estão indo com muita sede ao pote.
Fato é que, na soma dos problemas da cadeia como um todo, o varejo poderá se “sensibilizar”, entendendo que a crise é grave e que também o café, em um ano, teve alta de apenas 5%, contra elevações de três a quatro vezes maiores em outros itens alimentícios, explica ele.
E se sensibilizará porque também vai ter menores vendas, como está ocorrendo.
Uma possível flexibilização é parar com a exigência, comum em algumas redes, sobre as indústrias em não poderem reajustar preços até 30 dias depois de negociados lotes para entrega futura.
Enquanto aprecia o crescimento do café gourmet, no qual o arábica acima de 80 pontos é classificado como especial, que gera uma nova categoria de produtores do campo à torrefação, Natan Herszkowicz acredita em uma quebra de 4 a 5 milhões de sacas de café com geadas. Na safra, 42 milhões de sacas é um número que ele acha crível.
“O que é muito [a quebra] sem estoques governamentais e sem estoques privados”, diz.