Política

Sob Biden, China ampliou liderança comercial na maior parte da América Latina

08 jun 2022, 9:49 - atualizado em 08 jun 2022, 9:49
Fora do México, principal parceiro comercial norte-americano, a China ultrapassou os EUA na América Latina e aumentou a diferença no ano passado (Imagem: REUTERS/Tom Brenner)

A China ampliou a diferença em relação aos Estados Unidos em termos comerciais em grandes áreas da América Latina desde que o presidente dos EUA, Joe Biden, assumiu o cargo no início do ano passado, mostram dados, ressaltando como Washington está sendo pressionado na região.

Uma análise exclusiva da Reuters dos dados comerciais da ONU de 2015-2021 aponta que, fora do México, principal parceiro comercial norte-americano, a China ultrapassou os EUA na América Latina e aumentou a diferença no ano passado.

A tendência, impulsionada por países da América do Sul, mostra como os Estados Unidos perderam terreno em uma região há muito vista como seu quintal, mesmo com Biden buscando redefinir os laços na Cúpula das Américas em Los Angeles nesta semana.

México e EUA têm um acordo de livre comércio desde a década de 1990 e a quantidade de comércio entre os dois vizinhos ofusca o comércio de Washington com o restante da América Latina.

Mas a distância comercial dos EUA no resto da região, que se abriu pela primeira vez sob o ex-presidente Donald Trump, em 2018, cresceu desde que Biden assumiu o cargo em janeiro do ano passado, apesar da promessa de restaurar o papel de Washington como líder global e reorientar a atenção para a América Latina após anos do que ele chamou de “negligência”.

Autoridades atuais e antigas da região disseram à Reuters que os Estados Unidos demoraram a tomar medidas concretas e que a China, um grande comprador de grãos e metais, simplesmente ofereceu mais à região em termos de comércio e investimento.

Juan Carlos Capunay, ex-embaixador do Peru na China, afirmou que, com exceção do México, “os laços comerciais, econômicos e tecnológicos mais importantes para a América Latina são definitivamente com a China, que é o principal parceiro comercial da região, bem acima dos Estados Unidos”.

Ele acrescentou, porém, que politicamente a região ainda estava mais alinhada com os EUA.

Excluindo o México, os fluxos comerciais totais – importações e exportações – entre a América Latina e a China atingiram quase 247 bilhões de dólares no ano passado, segundo os últimos dados disponíveis, bem acima dos 174 bilhões de dólares com os EUA.

Os dados de 2021 carecem de números comerciais de alguns países regionais, mas eles se equilibram em termos de EUA-China.

Já os fluxos comerciais do México com os Estados Unidos foram de 607 bilhões de dólares no ano passado, acima dos 496 bilhões de dólares em 2015.

Seu comércio com a China foi de 110 bilhões, acima dos 75 bilhões de dólares seis anos antes.

A Casa Branca e o Departamento de Estado dos EUA não responderam imediatamente a um pedido de comentário.

Em um aparente esforço para apresentar uma alternativa específica à China, autoridades graduadas dos EUA disseram que Biden anunciará um plano de “Parceria das Américas” na cúpula de Los Angeles, com foco na promoção da recuperação da pandemia, com base nos acordos comerciais existentes.

A China tem vantagem na Argentina, ampliou sua liderança nos gigantes andinos de cobre, Chile e Peru, e viu um grande avanço no Brasil, apesar do ceticismo do presidente Jair Bolsonaro sobre os interesses comerciais chineses que dominam o país.

Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados com sede no Brasil, disse que a China trouxe investimentos em transporte e infraestrutura que ajudaram em acordos comerciais de grãos e metais, enquanto os governos muitas vezes achavam que os Estados Unidos eram apenas retórica.

“Os governos latino-americanos reclamam que há muita conversa, mas perguntam ‘onde está o dinheiro’?”, disse.

A Cúpula organizada pelos EUA em Los Angeles é vista como uma plataforma fundamental para combater a China, mas Biden já foi atingido por não comparecimentos, incluindo o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, devido à exclusão de países como Cuba e Venezuela.

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