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A partir de janeiro, todo clipe deve ser classificado como “feito para crianças” ou não

28 dez 2019, 11:21 - atualizado em 28 dez 2019, 22:37
Youtube
A empresa passou o ano tentando atravessar uma corda bamba quase impossível: nutrir uma crescente comunidade de produtores exigentes (Imagem: Pixabay)

O YouTube passou 2019 respondendo aos críticos com algumas das mudanças mais drásticas em seus 15 anos de história. A cada passo, a empresa dava a esses ativistas, reguladores e políticos mais razões para atacar seu modelo de negócios livre e gerado por usuários.

Susan Wojcicki, presidente do YouTube, anunciou suas metas em abril. “Minha maior prioridade”, escreveu, “é a responsabilidade”.

A empresa passou o ano tentando atravessar uma corda bamba quase impossível: nutrir uma crescente comunidade de produtores exigentes ao mesmo tempo em que se comprometia em policiar vídeos problemáticos e proteger milhões de usuários menores de idade que oficialmente nem deveriam estar assistindo.

Os esforços não agradaram e destacaram um dilema existencial. Toda vez que o YouTube tenta consertar algo, a empresa, um braço do Google, corre o risco de perder a neutralidade de que precisa para prosperar.

“Eles sabem que toda vez que conseguem identificar ou remover conteúdo problemático, isso apenas aumenta as expectativas”, disse Mike Godwin, membro sênior do think tank R Street Institute e administrador da Internet Society. “É um ciclo interminável de crescentes demandas para que essas plataformas dominantes operem de maneira razoável.”

Com a chegada de 2020, o maior serviço de vídeo on-line do mundo será atraído para disputas políticas sobre privacidade, direitos autorais e moderação de conteúdo. Em resposta, o YouTube tenta preservar seu status de plataforma on-line com pouca responsabilidade pelo que acontece no site. Com isso, esse fardo cai cada vez mais sobre os ombros de reguladores, produtores de vídeos e outros parceiros.

Nos bastidores, o YouTube chegou a considerar assumir um maior controle (Imagem: Pixabay/geralt)

Em nenhum segmento isso é mais evidente do que a abordagem do YouTube para crianças. Um acordo histórico de privacidade este ano com a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) dos EUA obrigou o YouTube a dividir seu site gigante em dois.

A partir de janeiro, todo clipe deve ser classificado como “feito para crianças” ou não. A revisão coloca bilhões de dólares em anúncios em jogo e provoca pânico entre os produtores, que agora também enfrentam novos riscos jurídicos.

Nos bastidores, o YouTube chegou a considerar assumir um maior controle. No início deste ano, a empresa reuniu uma equipe de mais de 40 funcionários para se preparar para a decisão da FTC. A equipe recebeu o codinome Crosswalk – como forma de orientar as crianças pelas vias caóticas do YouTube.

Entre as propostas, havia uma radical, pelo menos para os padrões do Vale do Silício: o YouTube exibiria todos os vídeos destinados a crianças com menos de 8 anos em seu aplicativo YouTube Kids, garantindo que nenhum conteúdo indesejável chegasse ao feed de milhões de pimpolhos ao redor do mundo.

No entanto, no último minuto, a presidente do YouTube e seus principais assessores abandonaram o plano, disseram pessoas que não quiseram ser identificadas.

Uma porta-voz do YouTube negou que a ideia tenha sido derrubada porque tornaria a empresa responsável pela programação, mas não quis dar mais detalhes sobre a decisão.

Em entrevista recente, Wojcicki deixou claro que a iniciativa de moderação de conteúdo tem limites, dizendo à CBS News que até mesmo ser responsável pelas recomendações de vídeos destruiria a essência do serviço.

Embora as críticas venham de todos os lados, o desafio do YouTube é praticamente intransponível: mais de 500 horas de vídeos são postadas a cada minuto. E o software da empresa ainda não conseguiu entender completamente o conteúdo antes que as pessoas comecem a assisti-lo.

“Você tenta manter a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, tenta garantir que o conteúdo ruim não seja veiculado e que as pessoas que o assistem não sejam afetadas. É um problema muito, muito, muito difícil “, disse Diya Jolly, ex-executiva do YouTube que deixou a empresa em 2017.