Só no Brasil mesmo: O país em que a Bolsa rende menos que a renda fixa
No mercado financeiro, alguns conceitos são, ou pelo menos deveriam ser, claros. Um dos principais, é que o potencial de retorno de um ativo está atrelado ao risco: quanto mais arriscado é o investimento, maior deveria ser seu retorno. E vice-versa.
Mas o que acontece no Brasil, e desafia a literatura econômica, é o contrário: historicamente, a renda fixa tem uma performance relativa melhor que a Bolsa (aqui representada pelo Ibovespa). Ou seja, os ativos de menor risco têm um rendimento no longo prazo maior que os ativos mais arrojados.
Foi justamente sobre este tema que o fundador e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, se debruçou no último relatório da série Palavra do Estrategista.
Para exemplificar em números, em janeiro de 2020 o Ibovespa marcava 120 mil pontos. Pouco mais de três anos depois, o principal índice da Bolsa brasileira marca atualmente 105 mil pontos. É claro que é um horizonte curto de tempo e houve uma pandemia no meio do caminho.
Mas, como lembra Felipe, pegando um espaço maior de tempo, o resultado é o mesmo. Nos primeiros meses de Empiricus, em novembro de 2009, o Ibovespa marcava 65 mil pontos. Hoje, 13,5 anos depois, registra um retorno de 60%.
É uma “derrota expressiva frente ao CDI, à poupança e até mesmo à inflação”, aponta Felipe.
Por que a Bolsa deveria render mais que a renda fixa?
Bom, primeiro é importante entender os motivos pelos quais os ativos de renda variável deveriam render mais que a renda fixa no longo prazo. Como explica Felipe, essa é a lógica do apreçamento por arbitragem.
“Em não sendo o caso, se o ativo de mais risco paga menos, todos o abandonam. Assim, seu preço cai e seu retorno potencial aumenta. A distorção é eliminada no longo prazo. Essa é a essência do chamado Equity Risk Premium, ou Prêmio de Risco de Mercado. Ferir esse princípio significa um mercado ineficiente ou disfuncional”, explica.
É importante frisar que esse comportamento, tal qual sugere a teoria, é visto na prática lá fora, principalmente nos países desenvolvidos. “O Brasil é exceção, pois os dados sugerem um Prêmio de Risco de Mercado Negativo”, afirma Felipe.
E o que explica a disfuncionalidade da Bolsa brasileira?
Não existe resposta fácil para a questão. Como lembra Felipe, “o tal Equity Risk Premium ainda é um puzzle em aberto mesmo na academia. Mesmo que ele possa ser identificado como positivo na média da maior parte dos mercados, não há modelo bem definido para descrever seu comportamento”.
Sendo assim, é difícil determinar os fatores de influência e de que forma eles impactam. Ainda assim, o estrategista-chefe da Empiricus fez um exercício para tentar entender os “porquês” dessa discrepância.
Uma das causas pode ser…