Donos de carros movidos apenas a etanol são os que mais sofrem com a alta dos combustíveis
Em alguns postos brasileiros, a diferença entre o etanol hidratado e a gasolina já encurtou para 10%. Ou seja, a paridade, que vinha se mantendo entre 75% e 80%, agora está chegando a 90% entre o renovável e o derivado do petróleo.
O biocombustível dispara nas distribuidoras, com altas diárias pesadas – só a da quarta foi acima de 7% (R$ 3,625 o litro), com repasse nas bombas. É reflexo da mão pesada das usinas, que, na semana passada, reajustaram em 2,64% (R$ 3,4292/l), igualmente pela baliza do Cepea.
Com a percepção de menor eficiência energética, praticamente não há mais consumidor botando o hidratado em seus carros flex. Vão de gasolina.
Só roda 100% com esse biocombustível a frota velha, de automóveis somente para esse combustível, fabricados até os primeiros anos do século 21. Os primeiros flex surgiram em 2003.
É até melhor assim, a despeito do retrocesso poluidor. Não tem etanol hidratado suficiente para atender toda a demanda potencial, muito menos na entressafra mais longa de cinco meses sem produção, e o controle tem que ser via preços explosivos.
A quebra da safra, em aproximadamente 70 a 80 milhões de toneladas de cana, encurtou drasticamente a produção de hidratado, com ganho, na contramão, do anidro.
Embora não se tem estatísticas atualizadas e precisas do que resta desses automóveis movidos só a álcool, com velhos carburadores – e, portanto, ainda consumindo mais -, há alguns milhões por aí.
Em 2018, por exemplo, havia 2 milhões deles em São Paulo, segundo dados do Detran. A frota total do Estado, a maior do Brasil, contava com 29 milhões de veículos. No Brasil, em 2019, a frota com idade superior a 17 anos era de 17% em relação ao total de quase 45 milhões de automóveis.
Não há razão para imaginar que tenha diminuído essa participação, uma vez que a crise, agravada desde 2020, se abateu nas vendas de veículos novos e seminovos.
Pior para aqueles donos de carros antigos, acionados só a etanol, que residem em estados que nem se encontra o produto nas bombas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde a paridade é superior a 95%.