Small caps podem ser a próxima alta da bolsa brasileira; vejas ações com potencial
Ações com menor capitalização de mercado, as small caps podem ser as próximas a subir, segundo analistas ouvidos pelo Money Times. A questão é como e quando o impulso para os papéis virá.
Esse grupo de ações ficou para trás com a performance positiva do Ibovespa nos últimos meses, com gestoras tendo de desmontar posições para lidar grande volume de resgate feito pelo investidor de varejo em um momento em que a aversão ao risco era maior.
Mas a percepção mudou do final de 2021 para cá, com um grande fluxo estrangeiro na B3 motivado pela estratégia do investidor global de diminuir posições em techs e aumentar a aposta em commodities e bancos – que têm grande peso sobre o índice.
Desde o começo do ano até 2 de março, a bolsa brasileira já recebeu R$ 67,5 bilhões de investidor estrangeiro, segundo dados da B3. O Ibovespa sobe mais de 9% no acumulado do período.
A alta recente do principal índice da bolsa pode provocar novamente uma procura do investidor local por papéis “baratos”. Quando isso acontecer, as small caps vão ser a bola da vez, segundo o analista da gestora Ouro Preto Investimentos Bruno Komura.
“O estrangeiro mexe muito com o Ibovespa, criando um deslocamento em relação as small caps, que acabam ficando com investidores locais”, diz o analista.
Segundo Komura, as commodities são as primeiras beneficiadas por uma “questão de liquidez”. “O estrangeiro quer fazer um movimento mais rápido para entrar ou sair”, comenta.
O CEO da gestora Box Asset, Fabrício Gonçalvez, acrescenta que vê uma tendência de fluxo doméstico para a bolsa, mas diz que o investidor não vai comprar empresa que já subiu 30% – como é o caso de algumas commodities.
O especialista recomenda paciência ao investidor que, apesar da alta recente do Ibovespa, tem visto a carteira com performance ruim por conta de papéis não ligados ao índice.
Quais ações podem se beneficiar
Ainda que não se tratem de recomendações, os especialistas apontam algumas potenciais small caps que podem estar nesta lista.
Komura, da Ouro Preto, destaca a Desktop (DESK3), em baixa de 35% desde a estreia na bolsa em 2021, e a Brisanet (BRIT3), que derreteu 74% desde o IPO no ano passado.
Ele também diz ver a Petz (PETZ3) como um papel de um setor resiliente e que tem boas perspectivas de crescimento. A ação acumula alta de 6,4% desde o IPO em dezembro, a R$ 17, mas longe da máxima, de R$ 27.
O analista também vê com otimismo empresas com atuação que envolve fornecimento de infraestrutura a terceiros, como as de telecomunicações.
Já Gonçalvez, da Box Asset, diz ver potencial em Méliuz (CASH3), Via (VIIA3) e Indústrias Romi (ROMI3).
O que pode impulsionar as small caps?
Chefe da área de investimentos do banco Daycoval, Mauro Rached compara as small caps a “um combustível parado em um tanque”. “Precisa de um gatilho para explodir”, afirma.
O especialista diz que esse grupo de ações avança quando as empresas com grande valor de mercado sobem a ponto de estarem corretamente precificadas, “o que não está muito longe de acontecer”.
Rached pondera que o interesse do investidor estrangeiro é direcionado às commodities, e não ao Brasil. “Se houvesse reformas ou um quadro eleitoral apontando para um candidato bem visto pelo mercado, você poderia dizer que a alta [do Ibovespa] é por causa do Brasil”, afirma.
Para o CEO da Box Asset, as small caps ligadas a consumo devem subir a partir do momento em que o Banco Central parar de aumentar a taxa básica de juros, a Selic. Ele lembra que a tendência é de desaceleração da Selic, após a taxa atingir o patamar de dois dígitos.
Juros e inflação em alta tendem a inibir o consumo, mas a tendência é que, com o BC elevando a Selic, os preços parem de subir e, eventualmente, a autoridade promova um afrouxamento monetário.
O mercado espera que a Selic, que está em 10,75%, termine este ano a 12,25%, mas chegue ao final de 2022 a 8%, segundo edição mais recente do boletim Focus.
Komura, da Ouro Preto, vê um gatilho “provavelmente” no segundo semestre, quando houver uma maior definição sobre o cenário eleitoral.
“Hoje, a gente vê muito ruído no mercado”, comenta sobre o cenário macro, que na última semana teve a guerra na Ucrânia como mais um elemento de incerteza.