Sinovac defende eficácia de CoronaVac apesar de dados confusos
A farmacêutica chinesa Sinovac Biotech defendeu a eficácia de sua vacina contra a Covid-19 ao dizer que o imunizante sendo implantado em países como Indonésia e Brasil, apesar dos dados inconsistentes, é mais eficaz na prevenção da doença se o regime de duas doses for administrado por um período mais longo.
Quase 1.400 das 13.000 pessoas que participaram dos ensaios clínicos da CoronaVac receberam as doses com três semanas de intervalo, enquanto a maioria dos voluntários dos ensaios no Brasil tomou a segunda injeção duas semanas após a primeira.
A taxa de proteção para o menor grupo foi quase 20 pontos percentuais maior do que o índice de 50,4% observado na maioria, disse a Sinovac em resposta por escrito à Bloomberg News.
A CoronaVac mostrou taxas de proteção muito diferentes em quatro lugares com ensaios clínicos, o que gerou preocupação sobre a eficácia da vacina para prevenir a Covid em alguns dos principais epicentros globais.
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, foi vacinado em rede nacional na semana passada, enquanto o Brasil, que tem o terceiro maior número de casos de coronavírus do mundo, autorizou a vacina para uso emergencial no domingo.
Em sua resposta, a Sinovac também reiterou que os participantes do ensaio da Fase III no Brasil – o maior da CoronaVac realizado no mundo – eram profissionais de saúde que tratam pacientes com Covid e, portanto, com maior exposição ao patógeno.
“A capacidade da vacina de proteger trabalhadores médicos em surtos ativos pode melhorar significativamente se forem administradas entre 21 ou 28 dias”, disse a empresa no comunicado à Bloomberg.
As vacinas desenvolvidas pela Pfizer e Moderna que agora são administradas no mundo todo geraram taxas de eficácia muito mais altas, acima de 90%, em ensaios de estágio final que incluíram uma gama mais diversificada de pessoas, de acordo com informações das empresas.
A Sinovac havia indicado anteriormente que a prevalência de profissionais de saúde em seu estudo no Brasil explica a baixa taxa de eficácia.
Uma vacina experimental deve ser pelo menos 50% eficaz na prevenção da Covid-19 sintomática para ser aprovada para uso geral, um limite amplamente aceito pelos principais reguladores de medicamentos globais e pela Organização Mundial da Saúde.
Os novos detalhes fornecidos pela Sinovac indicam que a CoronaVac pode ser mais eficaz do que o indicado na prevenção da doença, mas também podem aumentar a confusão geral em torno do imunizante.
Os ensaios na Indonésia e na Turquia forneceram taxas de eficácia que variam de 65% a mais de 90%, mas foram considerados inconclusivos devido ao pequeno número de participantes e menos casos de Covid envolvidos.
A taxa descrita para o menor grupo no Brasil colocaria a vacina em pé de igualdade com os resultados vistos para a injeção codesenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford, que está sendo distribuída em países como a Índia.
Prazo das doses
À medida que as vacinas são aplicadas de forma mais ampla, mais atenção está sendo dada aos intervalos e se o prazo entre as doses desempenha um papel na resposta imunológica entre pessoas vacinadas.
Yang Xiaoming, presidente do conselho da China National Biotec Group Co., outra empresa chinesa que desenvolve uma vacina contra a Covid, disse em entrevista à agência de notícias estatal Xinhua na semana passada que seu imunizante – que já foi aprovado na China para uso geral – poderia gerar imunidade mais duradoura e níveis mais altos de anticorpos se administrado com três ou quatro semanas de intervalo, em comparação com uma ou duas semanas.
Apesar das inconsistências em suas taxas de eficácia anunciadas, a CoronaVac continua sendo aprovada para uso, sendo o Brasil o mais recente país a endossar sua administração em caráter emergencial.
A Turquia autorizou a vacina da Sinovac em 13 de janeiro, que foi administrada ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de acordo com a empresa.
Chile, Filipinas, Tailândia, Hong Kong e Cingapura também têm negociações ou acordos para comprar e distribuir a CoronaVac. Reguladores nas Filipinas e em Hong Kong solicitaram dados mais completos antes de receber suas remessas.
Hong Kong, onde na segunda-feira um painel de especialistas recomendou que a vacina da Pfizer seja aprovada para uso, planeja oferecer à população a opção sobre qual imunizante tomar.
A Sinovac também submete dados para revisão em seu país de origem, onde o regulador aprovou a CoronaVac para uso emergencial em julho e deve decidir em breve sobre a viabilidade para distribuição mais ampla.