Dólar

Sidnei Nehme: Vulnerabilidade político-econômica ganha foco e se soma às incertezas presentes

08 ago 2018, 12:03 - atualizado em 08 ago 2018, 12:03

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

E, de repente, parece que um movimento mais acentuado de um “player” importante no mercado de renda fixa focando 2020 e 2021, com clara sinalização que espera piora do cenário, foi o suficiente para ter retirado a postura de conforto dos demais “players” e ter provocado efeito imediato no mercado de dólar, juros e bolsa.

Isto trouxe à reflexão imediata com maior acurácia a realidade prospectiva do país, que não sugere ser tão confortável como apregoada pela Ata do Bacen da última reunião do Copom, orquestrada pelos formadores de opinião do mercado financeiro através o Boletim FOCUS indo ousadamente até projeções para 2020 e 2021, e provocou um pontual “choque”.

Fato à margem da ação direta dos players no mercado, deixando evidente psicologicamente repercutem rapidamente as vulnerabilidades existentes no entorno dos candidatos à sucessão presidencial ao deixar evidente que são maiores do que a fragilidade de suas propostas assertivas para solução dos entraves da economia do país e todo o conjunto de vetores negativos consequentes, fatos embasados como boatos também contribuíram para o humor negativo assumido pelo mercado.

Enfim, pontificou a absoluta necessidade de postura de maior rigor por parte dos “players” do mercado, o que poderá levá-los à necessária atuação defensiva e maior grau de efetiva percepção do emaranhado de problemas que envolvem o país, podendo promover movimento de ajuste mais acentuado.

E, ainda devemos considerar a possibilidade de novos choques no campo político, pois como destacamos ontem entendemos que o mercado financeiro ainda está evitando sancionar os riscos de mudança abrupta de viabilidade eleitoral dos candidatos, naturalmente contrários às apostas do mercado financeiro.

Há muito com o que se preocupar, o foco deve se acentuar fortemente no ambiente interno do país, passando a observar marginalmente o que ocorre no exterior, já que os fatores de maior impacto imediato estão presentes internamente.

Ontem colocamos em nossas considerações a respeito do BC ousadamente captar projeções de seus pares no mercado financeiro para os anos de 2020 e 2021, num momento em que sequer se consegue ter convicções efetivas sobre as projeções para 2019. O movimento de ontem deixou evidente o quanto é imprópria e inconsistente a busca de visão de médio e longo prazo, quando temos um quadro caótico na economia, com grande ênfase a crise fiscal e ao desemprego, e no momento de sucessão presidencial ainda bastante indefinida quanto ao eventual vencedor e suas diretrizes de governo.

Como se depara temos inúmeros vetores negativos influenciando o ambiente presente e ao longo do trimestre ago-out, e há potencial de agravamento na medida em que ocorram desapontamentos em torno dos possíveis líderes nas pesquisas, onde poderá ocorrer fato novo que não deve ser menosprezado.

Os volumes operacionais dos inúmeros segmentos vinham denotando queda, e, com o movimento ocorrido ontem abruptamente é muito provável que o aguardado, como vimos destacando como factível desde maio, ajuste dos mercados venha a ser iniciado de forma consistente.

No nosso ponto de vista, o início de agosto deveria sinalizar o início dos movimentos de ajustes por parte dos investidores estrangeiros promovendo a saída de recursos do país, e, os nacionais assumindo postura defensiva, tendo em visto o esperado acirramento e foco em torno das questões eleitorais e a predominância de dúvidas e incertezas, praticamente até o pleito, afora o ambiente de insegurança jurídica, agora já não com tantas incertezas, mas podendo haver impactos com a indicação pelo ex-Presidente Lula de candidato por seu partido, o que ainda não foi definido, e que poderá mudar o cenário das pesquisas.

Postura defensiva, no nosso entender, seria o esperado, com intensificação de saída de recursos estrangeiros do país sem criar maiores impactos no mercado de câmbio, afora o aumento de demanda para a qual o BC tem mecanismos apropriados para gestão e não permitir quaisquer insinuações de crise cambial.

Os volumes operados estão cadentes, mas ainda não se nota movimentos defensivos e saídas mais agudas dos investidores estrangeiros, que por estar com hedge estão relutantes, mas com a intensificação da percepção dos riscos adiante pode motivar ao desmonte de posições.

Como há forte posicionamento de “comprados” e “vendidos” nos derivativos envolvendo o dólar americano, naturalmente isto sugere um embate entre ambos focando seus interesses, e isto de forma inevitável provocará volatilidade na formação do preço da moeda americana, que, contudo não deve ensejar ou motivar o BC a intervir, já que esta ação só tem eficácia se houver aumento de demanda por proteção cambial ou liquidez no mercado a vista, e a autoridade sabe disto, razão pela qual assevera sempre que não interferirá procurando conter o preço, porque sabe que sua ação seria ineficaz, e assim sempre focará a liquidez.

Continuamos com o ponto de vista que o equilíbrio do preço da moeda americana está em R$ 3,80, e não tem potencial para afastamento muito significativo nem para mais e nem para menos no momento.

O IPCA fechado em julho apontou alta de 0,33%, ante expectativa de 0,27%, e após 1,26% em junho. Nos últimos 12 meses acumulam 4,48%, e acreditamos que não será surpresa se vier a ultrapassar o centro da meta.

O ambiente externo contaminado pela guerra comercial e geopolítica promovida pelo Presidente Trump envolvendo de forma acentuada a China, com reflexos na União Europeia e com as medidas contra o Irã que tem repercussões no preço do petróleo e também atritos com parceiros, acaba pelo volume de incerteza que envolve o humor das bolsas americanas e europeias e o Índice dólar está em alta sinalizando 95,10.

Não acreditamos que a Bovespa tenha condições de sustentar movimento recuperatório do ajuste de ontem, e nem que o dólar restabeleça viés de baixa, mas a volatilidade deve estar presente.

Pesquisas mais ampla e não estaduais, debates na TV em rede nacional, foco maior nos problemas gerais internamente, doravante terão influência predominante no humor dos nossos mercados, que deve se revelar extremamente sensível aos fatos novos, mas ainda muito inseguros.

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