Sidnei Nehme: Volatilidade é especulativa e revela incapacidade de sustentar preços induzidos
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
O comportamento dos preços dos ativos mais visíveis e mais fáceis de serem focados pela especulação, câmbio e bolsa, vem repetindo comportamentos e cenários recorrentes nos períodos em que se dá importância maior as incertezas e dúvidas acerca de situações relevantes para o país retomar seu alinhamento com a recuperação da atividade econômica.
Neste momento, ocorrência já havida meses atrás, o ponto central que proporciona a oportunidade aos especuladores é o imbróglio em torno das discussões e embates focando a Reforma da Previdência, fundamental para a superação expressiva ainda que parcial da severa crise fiscal que assola o país, e que proporciona mais do que o debate em torno de seu conteúdo de forma objetiva um desencontro desconfortante entre o Poder Executivo, autor da proposta, e o Poder Legislativo, a quem cabe referendar ou não a propositura.
O Poder Executivo procura demonstrar um relativo alheamento à necessária articulação política, enquanto que o Poder Legislativo demonstra carência desta articulação/aproximação dos representantes diretos do Governo.
Esta indefinição cria um estresse em torno da questão, porém efetivamente contraria as expectativas havidas e impacta nas perspectivas de desenvolvimento do país neste ano, impondo revisão de crescimento do PIB e consequente desapontamento com a geração de empregos, renda e consumo, e criando um ambiente amplamente negativo em torno do novo governo, um tanto quanto precipitado, mas fomentado inclusive por posturas ideológicas.
Este ambiente no entorno da causa principal se torna fonte oportuna para a deflagração de movimentos especulativos, sempre ancorados no “emocional” e não no “racional”, e absolutamente afastados dos fundamentos.
Bem observado não se identifica qualquer movimento que sugira fuga de capitais estrangeiros do país, sendo notório tão somente a retração dos fluxos de ingressos externos direcionados ao mercado financeiro, o que sugere o entendimento que os investidores estrangeiros estão aguardando o desenvolvimento do processo de aprovação da Reforma da Previdência e sua formatação final, que é crucial para, se positiva, dar consistência à perspectivas favoráveis ao país.
No mais, o quadro é aquele que todos sabem, o país está bem defendido na questão cambial, com contas externas confortáveis e substantivas reservas, etc…, não havendo riscos neste quesito, e a especulação ocorre a partir do mercado futuro de dólar, que, na realidade, não se ancora em fundamentos concretos.
Na Bovespa, a ausência do investidor estrangeiro tira “fôlego” para alta sustentada dos papéis e consequentemente do Índice, mas o nível em torno de 100 mil estava conforme com o “status quo” da economia em relação às empresas que detém papéis nos pregões.
Então, como salientamos ao início do mês passado, os parâmetros para o preço do dólar e o comportamento da Bovespa sugeriam estabilidade, criando um ambiente “enfadonho” ao longo da tramitação da Reforma da Previdência.
Movimentos especulativos são oportunistas, mas sabidamente não sustentáveis, por isso surgem mais pela tradição nos países emergentes, como contumaz no Brasil, do que na razão, no fundamento, visto que o Brasil, diferentemente de anos atrás, não tem problema cambial e o BC dispõe de instrumentos operacionais ancorados nas reservas que lhe proporciona gerar liquidez tanto no segmento a vista quanto no futuro, não o fazendo sempre que é perceptível a especulação instalada.
Estes movimentos após impulsionarem os preços dos ativos, câmbio e Bovespa, sugerindo uma perspectiva não favorável, acabam por sucumbir à realidade, e acabam por recompor os seus níveis de equilíbrio.
Não há por que imaginar-se o câmbio fora do eixo R$ 3,70 a R$ 3,75, e nem a Bovespa distante do entorno ou proximidade dos 100 mil pontos. Os fundamentos apontam para esta realidade.
Neste contexto atual, temos a forte convicção de que a formação de preços dos ativos no Brasil está insensível ao cenário externo, indicando que está à mercê dos acontecimentos internos e a especulação que não é sustentável.
A expectativa é que o Poder Executivo e o Legislativo venham a aparar as arestas e possibilitar o avanço da tramitação da Reforma da Previdência.
Espera-se uma distensão entre as partes, valendo relembrar o ensinamento de Ulisses Guimarães: “Em política não há posições definitivas!”. Enfim, política é a arte de articular e negociar consensos.
Nossa expectativa é que na medida em que este cenário de agregação em torno do objetivo comum ocorrer, Bovespa e câmbio retornarão com rapidez aos seus parâmetros de equilíbrio para este momento, de forma sustentável.
Em realidade, nem tudo que se vê é exatamente o que transparece ser!