Opinião

Sidnei Nehme: Venda de reservas alivia cupom cambial, mas swaps reversos sustentam a taxa!

04 set 2019, 15:52 - atualizado em 04 set 2019, 15:52
Colunista faz análise sobre o câmbio relacionando-o com o COPOM e a SELIC

E com este cenário fica difícil imaginar qualquer redução da SELIC, até muito pelo contrário não seria absurdo se for aventada a hipótese de elevá-la por mais contraditório que possa parecer, pois a ocorrência do estreitamento do juro interno com o externo poderia causar mais “estragos” na formação do preço da moeda americana no nosso mercado à vista a partir da pressão no custo do cupom cambial.

A venda de reservas cambiais no mercado à vista, na medida em que supre a deficiência do fluxo cambial insuficiente e eventuais restrições de acessos a linhas externas por parte dos bancos, seja pelo custo seja pela aversão, evidentemente alivia o custo do cupom cambial, mas, afinal, qual o intuito de suprimir “hedge”(swap cambial reversos) no mercado futuro, visto que isto dá sustentação a taxa cambial e até a pressiona acentuando a depreciação do real, que até onde se pode compreender teria a finalidade de evitar a disfuncionalidade (preço à vista acima do futuro), que contudo já é ou deve ser mitigada pela oferta no mercado à vista.

Num ambiente cambial como o brasileiro, onde “o rabo abana o cachorro”, ou seja, o mercado futuro dita a formação da taxa do mercado à vista, ocorre então a natural contaminação e a taxa do “spot” fica aviltada e pressionada.

A questão do câmbio é muito complexa e em grande parte suas minudências fogem do alcance do entendimento mais geral e isto limita, também, a probabilidade do COPOM/BC adotar medida desapontadora em relação à SELIC, que seria frontalmente contra a percepção generalizada de que deve ser reduzida em decorrência da queda expressiva das projeções para o IPCA.

Então, no nosso ponto de vista o BC deveria limitar a sua ação a oferta pura e simples de moeda efetiva no mercado à vista, focando diretamente a deficiência presente que é a queda acentuada de fluxo cambial e assim promover a queda da pressão de apreciação do dólar no mercado à vista que está advinda da ação, no nosso modo de entender salvo melhor entendimento, errática no mercado futuro com a oferta de swaps cambiais reversos.

A estratégia de ofertar swaps cambiais reversos deveria ser pontual na ocorrência efetiva de disfuncionalidade, ou seja, a taxa à vista superasse a futura, o que nos parece ser improvável desde que a oferta de moeda efetiva à vista fosse em volume compatível com a deficiência do fluxo, que temos estimado na diferença entre as posições “vendidas” dos bancos menos o total de linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra colocados pelo próprio BC.

Afinal, o diagnóstico primário evidencia ser “carência de fluxo cambial positivo combinado com menor acesso às linhas externas de financiamento, que é um fato novo, combinado com outro fato novo que é a proximidade do juro interno com o externo, tendo os bancos autorizados a operar em câmbio “posições vendidas””, e este contexto impacta no custo do cupom cambial que pressionado afeta a taxa do mercado à vista.

A lógica indica que sanada a causa maior, fluxo cambial, com a venda de reservas cambiais em volume adequado para suprir a deficiência, a resultante natural deveria ser o ajuste do preço.

Nada de ações programáticas com “posologia” definida e de longa duração, mas sim ação contundente sobre a efetiva causa, ancorado no entendimento de que as reservas cambiais se prestam a isto e no caso brasileiro não afetariam a magnitude do montante das mesmas como referencial de segurança cambial do país.

A queda do fluxo cambial para o Brasil é expressivo nos últimos 12 meses, algo como US$ 30,0 Bi, com queda no fluxo comercial em torno de US$ 22,0 Bi decorrente da queda das exportações também neste volume, fato que pode se agravar mais com os problemas da Argentina, que é nosso grande cliente.

Em razão disto, temos nos permitido à ilação de que o BC possa estar buscando através a taxa cambial aviltada, já que atua para mantê-la e não para deprimi-la, “incentivar” o setor exportador brasileiro dando-lhe competitividade adicional e a partir do mesmo buscar revitalizar a atividade econômica no momento em que a economia interna reflete fragilidades decorrentes do desemprego, queda de renda e reflexos diretos no consumo, afora melhorar o fluxo cambial comercial.

Não seria diferente do que a China está tentando ao “desvalorizar” o yuan frente ao dólar, e com isto ganhar competitividade no mercado externo, como revide à imposição tributária sobre os seus produtos pelos Estados Unidos, só que no caso brasileiro a busca é buscar na atividade focada no mercado externo a retomada que não consegue a partir do mercado interno.

A paridade cambial é um forte e eficiente instrumento indutor a melhora da competitividade no comércio exterior.

Enfim, há um enigma a ser decifrado nos efetivos objetivos das intervenções do BC no câmbio, correta na atitude, mas passível de questionamento nas formas e objetivo efetivo.