Opinião

Sidnei Nehme: Venda de dólares no mercado futuro segura o câmbio; perspectivas melhoram

18 set 2019, 7:51 - atualizado em 18 set 2019, 7:52
Banco Central RJ
Colunista analisa cenário de projeções de desvalorização cambial que compõe os agregados de formação do custo do cupom cambial (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

A percepção predominante é de que o Copom precisaria do dólar com preço ligeiramente acima do ponto de equilíbrio, para conter as projeções de desvalorização cambial que compõe os agregados de formação do custo do cupom cambial.

A redução da taxa Selic hoje, confirmando a queda de 0,50%, em concomitância com a expectativa de que o Fed americano reduza a taxa nos Estados Unidos em 0,25%, evitando a denominada disfuncionalidade.

Todavia, o que se percebeu no comportamento do mercado nos últimos dias foi a intensificação por parte dos fundos de hedge, interna e externamente, do desmonte de posições “compradas”, por reversão, e incremento das posições “vendidas”, envolvendo o real, o que conteve o viés de depreciação da moeda brasileira

Agora, até permite a ilação de que possa estar ocorrendo um súbita mudança de perspectivas para o Brasil no curto prazo.

Efetivamente, o país vem apresentando fluxo cambial deficitário sem expectativas imediatas de recuperação no curto prazo, mas, há sinalizações ainda que sutis, e sem grande fundamentação no momento, de que o Brasil esteja migrando do ambiente de baixíssima atratividade para uma melhor avaliação em perspectiva de curto praz.

Este sentimento É a força motriz que está determinando a redução de apostas contra o real, colocando-o já numa projeção mais tênue para fechamento ao final do ano.

O BC tem atuado bem suplementando a carência de fluxo cambial positivo, focando a liquidez e não a interferência na formação do preço da moeda americana, o que contorna com a ancoragem que opera com a oferta de swaps cambiais reversos.

A estratégia ainda perdurará minimamente ao longo deste mês de setembro, podendo prolongar-se por outubro, porém não se espera que se torne contumaz e duradouro no tempo, mas foi suficiente para pôr em prática a “garantia de liquidez” sempre alardeada e nunca praticada com moeda efetiva.

O que agrega confiança ao investidor, sancionando um contexto diferente dos demais países emergentes, que podem representar um risco cambial maior, hipótese que no Brasil é praticada nula e agora ratificada pela atitude do BC na prática.

Real Dinheiro
Projeções para o PIB neste ano são tímidas, mas 0,87% quando se observam grandes economias claudicantes já passa a ser visto não tão negativo (Imagem: Reuters/Bruno Domingos)

Há manifestações de algumas instituições financeiras e organismos internacionais enaltecendo as perspectivas para o Brasil, a despeito da inércia da atividade econômica predominante e dos problemas de carência de recursos governamentais para investimentos estruturais fundamentais, mas há a percepção de que o governo, apesar do forte açodamento pró-desgaste, vem avançando com suas reformas na direção correta e que visam reordenar o país.

As projeções para o PIB neste ano são tímidas, mas 0,87% quando se observam grandes economias claudicantes já passa a ser visto não tão negativo, porém o país tem baixa inflação, juros baixos, CDS excelente, e terá oportunidades proporcionadas pelo governo na área de privatizações.

E precisa que o setor produtivo retome o “espírito empreendedor”, já que está desmotivado dado a expressiva capacidade ociosa e queda do consumo, renda e o país tenha expressivo desemprego.

Seria o prenúncio da virada?

As perspectivas já sugerem que se anteveja, se projete o preço do dólar para o final do ano em torno de R$ 3,80/3,85 e agora em R$ 3,90/3,95?

E assim a taxa cambial em torno de R$ 4,05/4,10 já esteja em patamar de conforto para o BC/Copom sancionar o corte na taxa Selic , e esta percepção se consolida com a atitude dos fundos vendendo ou desfazendo de suas posições compras no mercado futuro, aqui e no exterior?

É possível, mas é preciso que haja a sinalização mais forte com intensificação dos fluxos de recursos externos para o país, revertendo a deficiência de fluxo cambial positivo, seja em direção da Bovespa, ou mesmo para o mercado de juro.

Embora as margens para operações de “carry trade” tecnicamente estejam exauridas ou quase inviabilizadas, mas a visão de que a apreciação do real pode se acentuar atenuaria a formação do custo do cupom cambial.

O contexto global está muito complexo e confuso, mas o Brasil pode ter excelentes oportunidades de incremento de suas exportações, em especial nas commodities agrícolas e alimentares, podendo a partir deste ambiente galgar alguma recuperação do emprego, renda e consumo, então estimulando outros setores produtivos.

Há percepção de que o país está na direção certa, a despeito de todos os atropelos políticos, mas é preciso que ganhe velocidade e quem sabe os estrangeiros não estejam antevendo o melhor ambiente antes dos nacionais que tem se mantido fortemente em embates ideológicos desgastantes?

Está muito difícil de vislumbrar tendências efetivas neste momento, mas tudo leva a crer que o “clima” em torno do Brasil está com sinalizações mais otimistas.

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