Sidnei Nehme: Todo dia, fatos novos afetam humores no jogo dos mercados e interesses globais!
Até parece que Donald Trump está numa das mesas de apostas de seus casinos, a cada dia um lance agressivo ou defensivo e com isto espalha reações de disfuncionalidades pelos mercados de todo o mundo.
A economia global dá sinal de encolhimento e predominância da insegurança nas decisões de investimentos e tem deixado espaço para prognóstico apontando até para recessão generalizada ou específica nos Estados Unidos, e isto a coloca em postura defensiva retraindo a probabilidade de investimentos e priorizando a segurança à rentabilidade, fazendo do dólar, do ouro e também do yen os “portos seguros” para preservação de valor dos recursos, e com o dono da banca executando jogadas temerosas as resultantes no comportamento dos mercados assume o “random walk”, o preço de hoje será o de ontem mais os fatos novos de hoje.
A Argentina teve aliviadas as pressões em torno de tudo que a ela se relaciona, mas não parece e nem poderia parecer que superou o forte impacto das perspectivas eleitorais, denotando estar marcada para naufragar nos seus intentos de sustentação e mantendo firme a tendência a ocorrência de “default” até mesmo antes das eleições.
A volatilidade deverá ser a tônica de seus indicadores de forma geral. A insegurança “destrói” o peso argentino frente ao dólar, e até mesmo frente ao real.
Mas o fato relevante e impactante foi a atitude de ontem dos Estados Unidos, naturalmente regida por seu Presidente, de buscar “aliviar” as tensões imediatas e as postergar para, quem sabe, dezembro prorrogando a aplicação de novo tarifaço parcialmente para dezembro.
A leitura imediata é que o Presidente Trump pode ter sentido que a China tem força para reagir às agressões americanas de forma contundente e sutil, causando impactos na economia americana, principalmente, no setor agrícola que o apoia e tornando-se um concorrente ainda mais forte no mercado internacional, já que sua moeda, o yuan, com preço estabelecido pelo próprio governo diretamente ganha poder de fogo frente ao dólar na formação de preços competitivos internacionais.
O crescimento da tendência ou prognósticos de recessão na economia americana, neste momento, é tudo que o Presidente Trump, candidatíssimo a reeleição, não desejaria, pois pode fulminar suas pretensões.,
Provavelmente, tenha percebido que ao forçar intensivamente o FED a reduzir o juro americano, no que tem sido acompanhado pelo mercado americano, pode não atingir seus objetivos de depreciação do dólar no mercado internacional, visto que a disputa motiva postura defensiva e procura por ativos de segurança, onde se destaca o dólar, o que anularia o efeito juro na formação do preço da moeda americana, mas, contudo, a réplica por parte do Governo Chinês, além de manipular a paridade da sua moeda ostensivamente, com uma redução de juro forçaria maior desvalorização do yuan e acentuaria a demanda por dólar.
O enfrentamento dos Estados Unidos com a China, ancorado na arrogância contumaz do Presidente Trump, certamente não previu “a priori” a capacidade de reação estratégica da China por outros meios que não tarifas, e isto deve estar realmente sendo um pesadelo para ele, pois pode colocar a dinâmica da economia em retração e ameaçar suas chances de reeleição.
A falta de humildade, porém não de inteligência, do Presidente Trump, o impede de dar uma “meia volta volver”, por isso posterga a aplicação de seus atos agressivos e não se pode descartar que possa até aliviar a aplicação das tarifas aos produtos chineses, objetivando evitar o pior.
Esta atitude mitiga as tensões presentes e imediatas, de curtíssimo prazo, e isto repercute no mercado financeiro e seus ativos, mas não deve retirá-las das perspectivas de curto/médio prazo, pois o confronto enveredou por caminhos que sugerem, doravante, maior cautela defensiva e continuidade da insegurança.
Acreditamos que o efeito será discreto nos mercados emergentes que deverão continuar vitimados pela aversão ao risco, e não deverão galgar recuperação da atratividade, sendo a tendência de desvalorização de suas moedas frente ao dólar mantida, embora com movimentos de volatilidade denotando alguma especulação, muito frequente nestas situações.
Ademais, o estreitamento do juro interno e externo no Brasil é um fato que pode exercer pressão sobre a formação do preço do dólar no mercado à vista, face a pressão sobre o custo do “cupom cambial” se houver intensificação do movimento de aversão ao risco.
Assim, deverá ter continuidade o “jogo no mercado global”, não sendo tão fácil arrefecer o clima de insegurança, devendo continuar predominando a postura defensiva e, consequente, baixa tendência a novos investimentos e represamento dos recursos em ativos de segurança que prevalecerão sobre os de rentabilidade.
Entendemos, como temos ressaltado que o Brasil tem problemas pontuais que só a ele próprio cabe a implementação de atitudes ousadas e agressivas para sair do marasmo que o impede de dinamizar a atividade econômica e restabelecer o crescimento, gerando empregos, renda e consumo e motivação para o setor produtivo seguir a mesma rota, e nesta fase despertando baixíssima atratividade externa, por isso não vemos tendência imediata do preço do dólar retroceder de forma sustentável do patamar atual.
O Brasil segue com as reformas em rota correta, mas para alancar a retomada da atividade econômica está num “corner”!