Mercados

Sidnei Nehme: Surto especulativo dos “comprados” não tem sustentabilidade

28 nov 2018, 11:15 - atualizado em 28 nov 2018, 11:15

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O mercado de câmbio criou suas diversas verdades a respeito do ocorrido na última segunda feira, e, ontem até creditou ao Banco Central do Brasil o mérito do recuo do preço provocado pela diminuta (os bancos estavam vendidos em mais de US$ 6,0 Bi data base 9/11) intervenção tardia, visto que “profilaticamente” a poderia ter feito desde a semana finda em 9/11, cabível para manter a adequada liquidez do mercado à vista, de forma preventiva já que é sabedor que a demanda aumenta com a proximidade do final do ano.

Aversões as mais diversas, crises em torno das disputas União Europeia/Brexit, China/Estados Unidos, FED e perspectivas, etc… e uma expressiva valorização do dólar no exterior que não encontrou respaldo nos indicadores e números, causas com menção frequente para justificar movimentos aparentemente inexplicáveis.

Para alguns não houve indicativos de que o movimento possa ter advindo de ação estratégica dos “comprados” no mercado futuro de dólar, baseados no fato de que os volumes não foram significativos na segunda feira. Contudo, há ações que dependem menos de força, volume, e mais de estratégia, jeito, e que pode impulsionar preços sem necessariamente envolver movimentos dantescos. O fato é que os “comprados” compraram um pouco mais na segunda feira e o intento seguramente foi o de apreciar o preço da moeda americana, puxando por conveniência o preço, quando a lógica seria o contrário.

Na próxima semana, quando o BC divulgar na quarta feira, dia 5, o fluxo cambial saberemos se houve o intenso volume de saídas de recursos pelo mercado à vista no dia 26/11, ou se efetivamente ocorreu, como se denota, uma reaquecimento da especulação não admitida pelo mercado.

Questão de dias para sabermos.

Ontem ficou a impressão de que foi a ação do BC que determinou o recuo do preço da moeda americana ao efetivar a oferta de linhas no montante de US$ 2,0 Bi, pode até ter contribuído do ponto de vista psicológico, mas não foi determinante, visto que já não há mais ambiente para movimentos especulativos em torno do preço da moeda americana, por absoluta falta de sustentabilidade.

Hoje anunciou novo leilão de US$ 1,0 Bi sem mencionar se faz parte da rolagem da posição vincenda em 4/12 de US$ 1,250 Bi, o que enseja admitir-se que realizará outras ofertas ao longo dos próximos dias.

O BC procurou resgatar-se de um vacilo já que sabedor que os bancos estavam vendidos desde a semana encerrada em 9/11 em mais de US$ 6,0 Bi ancorados em tão somente US$ 1,250 Bi de linhas fornecidas, vincendas em 4/12, deveria ter sido prudente e realizado o suprimento de liquidez ao mercado bem antes.

Em nosso boletim abordando o FLUXO CAMBIAL de 9/11 já apontávamos a necessidade desta ação por parte da autoridade monetária.

Os “comprados” estão encurralados nos seus prejuízos consequentes de mal sucedida ação especulativa detonada da segunda quinzena de agosto até final de setembro, e ainda nutrem expectativa de que o novo governo venha a encontrar dificuldades maiores para contornar e equacionar a problemática crise fiscal, que assim poderia ter o seu peso como prêmio de risco agravado na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

O movimento detonado na segunda feira, dia 26/11, focou elevar o patamar da taxa cambial para que no dia 30 próximo se tenha uma Ptax mais elevada e favorável para reduzirem seus prejuízos. O preço se mantido acima de R$ 3,80 até lá terá sido uma vitória dos “comprados” que assim mitigarão parte da apuração de seus prejuízos, permitindo então que os “vendidos” retenham lucros não demonstrados já que a convicção é de que o preço ao final do ano esteja entre R$ 3,70 a R$ 3,75.

O movimento dos “comprados” foi extremamente pontual e com objetivo certo, mas de difícil sustentabilidade, a situação cambial do país, suas contas externas, suas reservas cambiais, estratégias operacionais por parte do BC para irrigar liquidez sem reduzir reservas efetivamente, representam fortíssimo escudo em defesa do preço da moeda americana no nosso mercado, que só agrega ainda um prêmio de risco advindo do peso da crise fiscal.

O BC deverá realizar novos leilões ao longo da semana, há espaço de posições vendidas que, sem que se conheça ainda se houve acréscimo de posição vendida dos bancos na semana passada, e considerado o vencimento dos US$ 1,250 Bi no próximo dia 4/12, justificariam oferta de mais US$ 4,0 Bi, para deixar os bancos em posição de conforto com a liquidez.

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