Opinião

Sidnei Nehme: “Só Bolsonaro pode derrotar Bolsonaro”

15 out 2018, 10:38 - atualizado em 15 out 2018, 10:38

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O mercado financeiro parece ouvir e assistir tudo que se desenrola em torno da campanha eleitoral, sem, contudo, alterar a forte convicção de que o vencedor do pleito presidencial será o candidato Jair Bolsonaro, e mais, que somente ele poderia se auto impor uma derrota caso cometa erros pontuais e relevantes de grande repercussão, caso contrário o resultado está dado.

Da mesma forma, a exemplo do que já ocorrera antes do 1º turno, o mercado parece relegar o impacto das pesquisas a uma consideração muito relativa, consubstanciando sua percepção ao clima predominante na população. Observa-se um contundente descrédito em relação às mesmas, agora também fortalecido pelos inúmeros erros verificados por parte das mesmas no 1º turno.

Neste interregno entre o 1º e 2º turno não houve qualquer contribuição efetiva em termos de debates programáticos, permanecendo o ambiente extremamente enfadonho e nefasto, com embates sectários e ideológicos por todos os meios.

Os partidos que foram alijados da disputa denotam forte ausência de lideranças efetivas e, desta forma, as decisões de apoio ou não apoio tem repercussão praticamente nula, observando-se posturas individuais de apoios deste ou aquele personagem político a este ou aquele candidato.

Entretanto, ainda que considere a forte convicção em torno do resultado do 2º turno, o mercado financeiro brasileiro, após movimentos muito pontuais de certa euforia, assumiu postura de sensatez, fato que colocamos como absolutamente necessário no momento em que ocorria a euforia.

O Brasil somente na questão cambial, contas externas, reservas cambiais, instrumentalização da liquidez para proteção ou demanda efetiva no mercado de câmbio, não tem problemas, a despeito de esta realidade ter demorado a ser percebida, o que ensejou a ocorrência sem fundamentos de movimento especulativo, agora desfeito, tem uma enorme gama de problemas na área econômica quer no ritmo de sua atividade que é decepcionante, quer na questão fiscal onde registra soberbo déficit, além de como consequência ter problemas de desemprego, queda de renda e consumo, necessidade de reformas, etc… que se constituem enorme desafio para o próximo governo e para as quais ainda não há programas estabelecidos.

Portanto, a definição do provável Presidente mais em linha com as aspirações do mercado financeiro é um detalhe, mas as questões fundamentais para a reabilitação do país de forma consistente e crível ainda perduram como incógnitas.

Este cenário indefinido prospectivo determina que imperiosamente predomine a postura de sensatez.

O preço da moeda americana, após ter expurgado os efeitos nefastos da especulação, retornou ao entorno do seu ponto de equilíbrio, a nosso juízo, de R$ 3,80 e vem flutuando até R$ 3,70, e este é o cenário que se espera num ambiente em que há um confronto entre “comprados”, fortemente estrangeiros, posicionados com US$ 40,0 Bi e “vendidos”, predominantemente fundos e bancos, com idêntico montante. Esta disputa enseja o movimento “gangorra” da taxa cambial neste intervalo, que decorre deste enfrentamento e nada tem a ver com as pesquisas e eventuais efeitos sobre o humor do mercado.

O Boletim FOCUS que havia revisto para R$ 3,89 a sua projeção, nesta semana a revê para R$ 3,81 e provavelmente a trará para R$ 3,80.

Da mesma forma, esperamos que nas próximas semanas reveja as projeções para o IPCA que está entre 4,43% e 4,45% retrocedendo-a como consequência da queda do preço do dólar.

Acreditamos que sai da perspectiva uma possível elevação da SELIC, que com o retorno do preço do dólar a sua normalidade deve expurgar parte da pressão ocorrida nos preços e que havia criado a ideia de que pudesse vir a ser elevada.

A despeito de matérias na imprensa mundial alertarem para saída de recursos dos mercados emergentes, este não é um problema que afeta o Brasil, seja porque não há fuga de capitais, seja porque tem sólida situação nas contas externas.

O volume de saídas financeiras em agosto e setembro refletiu deslocamento de recursos aqui aplicados em carteira, renda fixa, face à previsível elevação do juro americano, que foi confirmado, num claro “fly to quality” absolutamente natural.

O foco presente está muito centrado no contexto interno, e assim, não se espera movimentos e variações muito abruptas ao longo das próximas duas semanas, mas o “status quo” do mercado financeiro é otimista.

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