Dólar

Sidnei Nehme: Reforma da Previdência inviável? Crise fiscal séria! Bovespa é em SP e não em NY

05 fev 2018, 12:30 - atualizado em 05 fev 2018, 12:30

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

As perspectivas para aprovação da reforma da previdência, a despeito do empenho pessoal do Presidente Temer, parece fadada ao insucesso, sinalizando que tem agora menor apoio do que no momento anterior, quando foi postergada a votação para próximo dia 19 deste mês.

Em última esforço o governo poderá reduzir tanto o texto em suas ambições, transformando-a em quase nada, com uma mini-mini reforma. Seria uma vitória de Pirro, que como legado não teria valor algum, exigindo que o novo governo retome a discussão da matéria.

Por outro lado, sustentando o discurso de que sem este contingenciamento advindo da reforma da previdência o país terá data marcada para o ápice da crise fiscal, ao manter política fiscal extremamente expansionista o governo dá um exemplo negativo e, afora os percalços de um ano eleitoral em que políticos querem evitar desgaste, angaria mais posicionamentos contrários.

São posturas antagônicas, contraditórias mesmo, pois se há tanto aperto a política fiscal deveria ser de extremo rigor, constituindo-se assim num bom exemplo a “partir de casa”.

Este quadro que sugere que o governo também estará frágil para outras reformas, pode agravar a situação do país promovendo uma visão de maior rigor das agências de ratings, que assim poderão impor ao país no-vos “downgrades”, com repercussões nos fluxos financeiros estrangeiros, sejam para conta capital e/ou especulativos, provocando efetiva reversão às expectativas projetadas como inteiramente favoráveis, ancoradas pelos indicadores de riscos EMBI e CDS, que parecem um tanto quanto exacerbados positivamente neste momento.

O governo certamente não terá “vida fácil” na trajetória de 2018, pois pode ir convivendo com esta drástica situação fiscal, mas certamente ao preparar o orçamento para 2019, que será utilizado no novo governo, certamente terá que acomodar uma forma de descumprir a “regra de ouro”.

O ambiente eleitoral também deverá influenciar e criar muito antagonismos entre parlamentares candidatos e os pretensos postulante a candidatos presidenciáveis, tudo isto embalado pelas perturbações em torno da condenação do ex-Presidente Lula, que tende ao acirramento e pode até ter conturbação maior se o STF adotar decisões contra o que atualmente é considerado bom senso.

Então é importante observar que a Bovespa, que tem recebido projeções de atingir 100 mil pontos e até algumas mais entusiásticas, está em São Paulo, no Brasil, e não em New York, nos Estados Unidos, à qual é atribuído sinergia.

Poderá ocorrer um descolamento, até porque o que prevalece atualmente é frágil e conveniente para justificar alta acima das efetivas perspectivas econômicas brasileiras, que ainda não são sustentáveis.

Por enquanto as tendências de momento estão em linha, mas é bastante provável um descompasso causado por uma visão mais rigorosa sobre o Brasil e suas dificuldades presentes.

Esta semana haverá a reunião do COPOM e o mercado financeiro aposta que haverá mais uma redução do juro SELIC para 6,75%, mas nos parece que seria de toda conveniência e cautela a manutenção em 7,0%, porque teremos maior pressão inflacionária e é quase certo que o FED eleve a taxa de juro americana em março, o que poderá incrementar, além dos problemas pontuais do Brasil com a sua política fiscal, a saída de recursos que aqui estão com foco somente em rentabilidade.

A Bovespa opera em queda alinhada com o mercado americano, mas há o risco de manter esta tendência mesmo que mude a tendência nas bolsas americanas.

O dólar está com o preço em apreciação e esta tendência pode se acentuar, mesmo que o BC continue interferindo na formação da taxa, pois o contexto atual sugere que mudança de rumos dos fluxos financeiros externos é factível.

Este ano até o dia 26 a conta “movimento de câmbio” registra o ingresso líquido de US$ 796,0 mil, com um fluxo comercial líquido positivo em US$ 2,598 Bi e fluxo financeiro líquido negativo em US$ 1,802 Bi. Os bancos continuam com posições vendidas no total de US$ 22.460,0 Bi ao qual se agrega US$ 8,0 Bi de linhas com recompra fornecida pelo BC, elevando o total para US$ 30,460,0 Bi, que a rigor são tecnicamente redutoras das reservas cambiais do país, US$ 383.849,0 Bi pelo conceito de liquidez internacional, para US$ 353.389,0 Bi. Importante salientar, entretanto, que há um saldo comercial (diferença entre exportações e importações ainda sem contratação de câmbio) de US$ 14.150,0 Bi a realizar.

Naturalmente a exposição dos bancos naturalmente está “hedge”, mas este posicionamento os faz parceiros indutores de uma taxa cambial mais baixa.

Contudo, num quadro reversivo da tendência atual, e há inúmeros fatores externos que podem conspirar contra as projeções brasileiras além das mencionadas, a taxa cambial levará o preço do dólar à apreciação, mesmo que o BC intervenha de forma contundente, pois se for tendência será consistente.

Então, como temos salientado quase que cotidianamente, sensatez e precaução devem ser constantes neste momento.

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