Dólar

Sidnei Nehme: Refém de sua própria estratégia no câmbio, BC agora tenta sair!

25 jun 2018, 11:02 - atualizado em 25 jun 2018, 11:02

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A atitude do BC até 6ª feira última deixava evidente que só usava erraticamente uma ação definida para tentar conter o viés de alta consistente e fundamentado do preço da moeda americana no mercado brasileiro.

Praticando uma incessante oferta de contratos de swaps cambiais que acabam sendo absorvida pelo mercado, com bastante evidência, face ao estoque já colocado, de que o instrumento de proteção já não se presta a esta finalidade, mas está sendo objeto de trato como se fora uma aplicação financeira em transação de risco variável com grande perspectiva de lucro no curto/médio prazo para os tomadores.

Há a convicção de que o preço da moeda americana esteja sendo estabelecida a partir da ação dos agentes compradores destes instrumentos no mercado, que assim o molda de forma a fortalecer a convicção de lucro no momento futuro.

A estratégia operacional do BC até então para enfrentamento do consistente viés de alta presente do preço do dólar tende a perder eficácia quanto ao objetivo primordial, e, como salientado, a retração ou contingenciamento que se observa no preço se situando abaixo de R$ 4,00 decorre de ação intencional dos demandadores dos contratos de swaps cambiais, procurando assim colocar parâmetros que evitem riscos sobre o lucro focado.

Esta tendência está ancorada em fundamentos que decorrem de perspectivas bastante desfavoráveis para o Brasil a partir da percepção da inércia da sua atividade econômica e seus reflexos imediatos, com indícios de agravamento no curto/médio prazos, e mais uma antevisão de um cenário político em torno da sucessão presidencial que, neste momento, se mostra conturbado e muito indefinido contra a absoluta necessidade do país encontrar diretrizes que o recoloquem numa situação de equilíbrio fiscal e perspectivas de retomada do dinamismo de sua atividade econômica.

Esta é a dura realidade que até mesmo a manifestação do COPOM, após a recente reunião do último dia 20, procura omitir e poupar menção mais incisiva que seria mais efetiva, ao invés de salientar que o ambiente externo continua desafiador. O desafio está aqui, internamente, inconteste e é perturbador.

Retomar a dinâmica de ofertar mais do mesmo poderia acentuar o custo elevadíssimo aos cofres governamentais, sem alcançar os objetivos e aumentar em muito os riscos, num processo sem fim e que em algum momento implodiria seja pela necessidade de interrupção da oferta por parte do BC, ou seja, pela interrupção da demanda por parte dos compradores, que operam com a convicção de que a alta é absolutamente certa quando isto acontecer.

Agora, embora no nosso entendimento bem tardiamente, o BC corrige sua dinâmica e entra com oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

Esta é a “perna que faltou” na estratégia que foi concentrada somente na oferta de swaps cambiais, pois cria a influência da taxa à vista que são fixadas nas operações de linhas sobre a visão em perspectiva da taxa do mercado futuro.

Primeiro porque o BC deveria, tão logo surgiram os ruídos sobre os impactos nos mercados emergentes, a exemplo da Argentina, Turquia, etc, dar consistente evidência de que o Brasil era um emergente diferente, a despeito de seus problemas internos na área econômica e política, pois está imune de uma crise fiscal, visto que tem instrumentos derivativos para proporcionar proteção aos passivos em moeda estrangeira e ampla capacidade de gerar liquidez do mercado a vista, não havendo nenhuma dificuldade para os investidores que desejem retirar seus recursos do país.

A timidez na ação que exigia contundência com abrangência (ação no mercado futuro e no mercado a vista conjuntamente) proporcionou que alguns “experts” do mercado internacional, num crasso erro de análise, colocassem o Brasil como a “bola da vez” após Argentina e Turquia, e que o risco CDS do país fosse atingido e agravado.

O BC, a exemplo do que realizará a partir de hoje tardiamente, deveria ter ofertado linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra antecipando-se à demanda que é tida como certa e que deve ir se acentuando gradativamente doravante, pois criaria referencial com suas ofertas de linhas a taxas no mercado a vista e estas seguramente afetariam as expectativas quanto a taxa futura.

O interesse dos bancos por estas linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra despertam sempre interesse dos bancos, visto que não só lhes provém de liquidez no mercado à vista, como proporcionam excelente operação de tesouraria, pois viabilizam captação de reais a custo interessante que podem alocar nas suas carteiras mais rentáveis.

Desde o início das perturbações sobre os emergentes temos destacado a necessidade da oferta conjunta com os swaps que deveria tender a redução e acentuar as ofertas de linhas de financiamento em moeda estrangeira proporcionando ampla liquidez no mercado a vista, o que de certa forma inibiria a “futurologia especulativa” que se acentuou desde o momento em que os tomadores de swaps cambiais passaram a serem os formadores do preço, que no fundo transparecia ser decorrente da ação do BC.

O fato é que contraditoriamente tem um quadro no Brasil bastante dispare, visto que a economia vai mal e suas consequências são relevantemente negativas e há um imbróglio político sério, mas no contexto cambial temos um ambiente que tem tudo para ser tranquilo e imune à crise ou ataques especulativos.

Por ser tardia a ação do BC, certamente, haverá uma certa resistência à estabilidade da taxa cambial que deve se revelar volátil, visto que devido ao elevado estoque em poder do mercado de swaps cambiais, que nos leva a acreditar que exista um grande volume adquirido como especulação e não para proteção, os tomadores destes ainda pressionarão mantendo um viés de alta que é o que esperam para realizar ganhos com os contratos de swaps assumidos, mas certamente a perspectiva de elevação do preço do dólar será bastante atenuada pela mudança da estratégia do BC.

E, entendemos que o BC não deva ser discreto, pelo contrário, deva ser muito incisivo na oferta de linhas de financiamento de linhas com recompra, para realmente afetar as expectativas.

A oferta de linhas com recompra não afeta as reservas cambiais do Brasil que as lastreiam sob o conceito de liquidez internacional, pois há o casamento com a recompra, alterando somente pelo período o conceito de liquidez caixa.

É importante o entendimento deste contexto operacional, para evitar o contumaz erro de se abordar a oferta de swaps cambiais, que são liquidadas em reais por diferença entre variação cambial e juro, não envolvendo moeda física e que acabam por ganhar manchetes de que o BC está despendendo “x” bilhões de dólares, como se moeda fosse, e alguns até calculam o percentual de redução das reservas.

Consideramos este ajuste na intervenção como altamente relevante, e entendemos que será natural a redução gradual de oferta de swaps cambiais e aumento da oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

A considerar e lamentar que o BC tenha sido tardio na adoção de correção da ação estratégica de intervenção técnica no câmbio.

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