Opinião

Sidnei Nehme: reações internas ao ambiente externo são emocionais e não racionais efetivas!

19 maio 2020, 13:43 - atualizado em 19 maio 2020, 13:44
Dólar
Colunista avalia a alta da Bolsa e queda do dólar no dia anterior (Imagem: REUTERS/Thomas White)

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Em termos efetivos o que há de positivo no Brasil, no momento, é o desempenho das exportações do agronegócio e outros alimentares, e, também os minérios e seus efeitos na cadeia de atividades no seu em torno, no mais, não é possível identificar focos otimistas ou meramente tranquilizadores, havendo um ambiente absolutamente conturbado nas diretrizes de enfrentamento da grave crise do coronavírus, que efetivamente não se sabe em que estágio está atualmente no país, e um ambiente muito hostil na área política, que torna predominante a dicotomia entre a saúde e a economia.

O mundo ontem “se viu melhor” com a ocorrência de alguns levantamentos de bloqueios em economias importantes e, naturalmente, repercutiu este fato nos segmentos econômicos que vinham sendo fortemente deprimidos.

Então, a moeda americana perdeu força ante as moedas emergentes e não emergentes havendo uma melhora de humor e proporcionando um discreto alívio no tenebroso ambiente prevalecente, não sem deixassem de haver temores quanto à recidiva da crise, o que levou a China a recomendar as suas empresas aumento substantivo de estoques de alimentos, fato especialmente positivo para incrementar ainda mais o setor da economia brasileira que tem se destacado.

Outros mercados sensíveis às mudanças como o petróleo sinalizaram recuperação de preços, fortemente debilitados ao longo da crise, e os produtores, espertamente, já anunciaram que podem reduzir a prospecção e oferta ao mercado global.

O que se viu é a reação forte da Bovespa, mas, como salientamos mais emocional do que racional, superando em intensidade a grande maioria das bolsas de economias mais articuladas e cujos países têm perspectivas e motivos de retomada mais breve do que o Brasil.

As agências de rating’s, Fitch e Moody’s, vem nos observando e identificam riscos em perspectiva, afinal a crise fiscal brasileira é dantesca e tende a maior agravamento com a crise da coronavírus.

As perspectivas em torno do Brasil são absolutamente crescentes negativas, e alguns fatores anteriormente perseguidos podem se tornar preocupantes como a queda incisiva da inflação e do juro que poderá exigir da política monetária práticas nunca vistas no país.

Há em perspectiva para o mercado financeiro todo um “modus operandi” na formulação de seus produtos diferente, e a crise atual pode sim demonstrar que há riscos nas instituições menores, que poderão ter que recorrer a “socorro” do Banco Central do Brasil e/ou de outras instituições maiores, visto que a seletividade criará problemas para captação e a qualidade do crédito que concedem é direcionada para grupos de maiores riscos.

O “dólar alto” vem sinalizando que “estragos” nos balanços de grandes empresas, embora o Brasil disponha de sofisticado mercado de “hedge”.

Mas este hiato no preço da moeda americana, que respondeu mais a influência externa do que a relativa mudança do BC que passou a focar atenuar o ímpeto do preço da mesma e não somente ter perfil profilático provendo liquidez, que, contudo, tem sido pontual para demonstrar que a autoridade monetária tem preocupações com o preço rondando os R$ 6,00.

E é imperativo que o BC tenha dado este sinal, tendo em vista que a ocorrência do “rompimento” do teto de R$ 6,00 teria forte potencial de motivação para que o “hedge” se acentuasse não somente em relação aos compromissos comerciais e financeiros em “ser”, mas passassem a agregar as contas de capital, face às incertezas crescentes em torno da recuperação econômica.

Em realidade, quando se observam as ações da Bovespa é possível se identificar oportunidades de preços de ações que estão, dolarizadas, “baratas”, mas o país por inúmeras causas, algumas colocadas como incógnitas por organismos renomados internacionalmente, perdeu credibilidade, atratividade e para muitos analistas internacionais é atualmente o “patinho feio”.

Então, as perspectivas de fluxos financeiros de investidores estrangeiros estão extremamente fragilizadas, mas com a economia “capenga” forte nas exportações agrícolas e fragilizadas as importações, a balança comercial deve continuar, ainda que modestamente, promovendo fluxo cambial discretamente positivo, e, melhorando o desempenho da balança comercial.

Mas nada que possa impactar na formação do preço da moeda americana no nosso mercado, nos parecendo que a projeção de R$ 5,28 do FOCUS está em linha para a realidade, que, acreditamos, possa ser elevada para R$ 5,50 ao final do ano.

O dólar alto ao que tudo indica veio para ficar e isto deve promover uma drástica mudança dos preços relativos dos ativos no mercado brasileiro, que ficarão baratos, mas ainda assim com baixa atratividade.

Inegavelmente, o Brasil tem um mercado interno pujante, mas a crise causou efeitos extremamente danosos na capacidade de consumo, até porque o nível de poupança da população é muito baixo.

É importante e extremamente relevante que se considere o conteúdo emocional destes movimentos na Bovespa e na formação do preço do dólar, pois a nível Brasil tem baixa sustentabilidade e estão se ancorando puramente no “contágio” externo de otimismo, do qual neste momento não fazemos parte, a areia por aqui ainda é predominante “movediça”.

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