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Sidnei Nehme: quanto ao dólar, nem tudo é EUA-China, há méritos do Brasil

17 dez 2019, 7:13 - atualizado em 17 dez 2019, 7:13
Dólar Câmbio
Há minimamente dois fatores pontuais que impactam na formação da taxa cambial no Brasil neste momento (Imagem: Gustavo Kahil/Money Times)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Há minimamente dois fatores pontuais que impactam na formação da taxa cambial no Brasil neste momento.

1. a disfuncionalidade que foi fruto de movimento especulativo absolutamente sem fundamentos sustentáveis, e que tem se ancorado com a estratégia do Banco Central de proceder a intervenção no mercado da forma “neutra”, sem antes ter tido foco na eliminação desta anomalia.

Não teria perdurado houvesse a autoridade monetária optado, inicialmente, somente pela intervenção com leilões de moeda unicamente à vista, e após a eliminação da disfunção tivesse dado sequência com a intervenção “neutra”.

A anomalia do dólar Não teria perdurado houvesse a autoridade monetária optado, inicialmente, somente pela intervenção com leilões de moeda unicamente à vista (Imagem: Beto Nociti/Banco Central/ Flickr)

Esta atipicidade vem sendo ajustada, ainda que o BC persista com a intervenção neutra, pela acintosa melhora das perspectivas econômicas para o Brasil, que vem se fortalecendo de forma rápida e com isto torna irreversível a eliminação da disfunção.

2. Outro é o fator externo que envolve com destaque o embate comercial entre China e Estados Unidos, e que interfere nos “ânimos” do mercado, embora, a rigor, tenhamos a opinião de que os malefícios já tenham sido precificados e tudo o mais que ocorra doravante serão benefícios.

O confronto, que tem grande relevância pela disputa da hegemonia no mercado global entre as duas potências, abalou fortemente a globalização e, por conseguinte, o comércio mundial.

Guerra Comercial
O confronto, que tem grande relevância pela disputa da hegemonia no mercado global entre as duas potências, abalou fortemente a globalização (Imagem: Reuters/Aly Song)

No nosso entender o preço da moeda americana no nosso mercado expurgada a disfuncionalidade, que reage ao cenário positivo em torno do Brasil, mas tem ainda fator de resistência decorrente da intervenção “neutra” do BC, estaria próxima ou em R$ 4,00.

Então, se e quando se tornarem sólidos os entendimentos entre China e Estados Unidos, os fluxos de recursos externos poderão se intensificar para o Brasil, importante opção para investimentos num momento em que a economia mundial não sugere crescimento além dos 2% em 2020 e pratica predominantemente juro zero ou negativo.

Consideramos que ao focar-se e atribuir todas as repercussões nos nossos ativos a questão sino-americana é desmerecer os méritos que vem sendo conquistados pelo Brasil e que vem sendo referendados pela percepção externa, que se faz mais notória ao atribuir ao país um CDS na iminência de romper historicamente os 100 pontos.

Brasil Rio de Janeiro América Latina
Notória é a atribuição ao país, um CDS na iminência de romper historicamente os 100 pontos (Imagem: Robert Nyman/Unsplash)

A visão externa nos parece mais assertiva em relação ao Brasil do que a visão interna, o que é contraditório, pois o sentimento de melhora é consistente. As agências de rating já sinalizaram esta percepção.

É verdade que o que impulsiona a melhora do sentimento em torno do Brasil são as perspectivas, ainda não materializadas em fluxos, mas que são consistentes e bem fundamentadas. É fundamental que se tenha foco nesta realidade quando se considerar a formação do preço da moeda americana no Brasil, um país sem quaisquer riscos de crise cambial.

A Bovespa repercute na mesma linha, ainda que não tenham sido retomados os fluxos externo.

O Boletim Focus vem fazendo correções semanais nas projeções para o PIB deste ano e de 2020, ainda discretas, mas na direção certa.

Porém, insiste na projeção do preço do dólar em R$ 4,15, certamente no aguardo de aumento da demanda ao final do ano, como contumaz, mas não nos parecer que vá ocorrer neste ano, salvo se os próprios bancos induzirem a este preço, contrariando a tendência.

Com base nos fundamentos presentes, continuamos com a convicção de que o preço da moeda americana fechará o ano em torno de R$ 4,00.

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