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Sidnei Nehme: Prosperam incertezas e perspectivas ruins têm forte viés de piora

04 jun 2018, 11:53 - atualizado em 04 jun 2018, 11:53

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Embora esteja ocorrendo uma tentativa nefasta de se atribuir as causas da perda da dinâmica da economia brasileira à recente greve dos caminhoneiros, claro está que este analisado com seriedade será um falso álibi para justificar algo que já estava instalado com perspectivas ruins e que com o fato aflorou e, naturalmente, contribui para o relativo agravamento do que já não era bom.

Antes da crise o PIB de forma otimista já vinha sendo projetado por conceituados economistas não vinculados ao mercado financeiro em torno de 2%, consequente da notória perda de dinâmica da atividade econômica, nenhuma perspectiva de solução para a crise fiscal instalada, desemprego resistente o que inviabiliza crescimento de renda e consumo, afora as preocupantes perspectivas em torno da sucessão presidencial.

A crise dos caminhoneiros, assim denominado o movimento reivindicatório, trouxe forte e rapidamente à percepção geral da relevância das perspectivas para o país em 2018, que cada vez mais se distanciavam de forma sustentada das projeções otimistas propagadas ao início do ano. Naturalmente impactou na atividade econômica e por si só e pela percepção que provocou do “status quo” real e efetivo do país, causará algum efeito na atividade econômica, mas nem de longe poderá ser a “culpada” de todos os males que assolam o país.

A questão causou efeitos em cadeia que revelou a enorme falência do Estado brasileiro em todos os seus níveis, e uma ampla inabilidade no trato, já que elegeram a política da Petrobrás e o seu Presidente como grandes culpados.

No nosso ponto de vista, não é possível não existir política para os derivados de petróleo e seus preços, mas o ponto central que não foi seriamente abordado por não ser do interesse do governo é que a política de tributos sobre os derivados é puramente arrecadatória, quando deveria ser flexível e regulatória, assim equalizando a formação dos preços e evitando a volatilidade. O regime atual torna o governo beneficiário de expressiva elevação de arrecadação quando o preço se eleva e o silêncio em torno disto tem sido mantido com rigor. Fosse flexível e regulatório, partiria de um preço básico dos derivados utilizado na formulação do orçamento e a partir daí as alíquotas flexíveis se ajustariam de forma a tornar constante a arrecadação orçada pelo governo e o preço do produto, havendo somente uma variável que seria a demanda.

Esta abrupta mudança de percepção que vinha sendo protelada, embora já tivesse bastante evidente, precipita no tempo a mudança de perspectivas para o país que fatalmente ocorreria, mas de forma gradual, provavelmente mais perto do embate sucessório presidencial.

Naturalmente que o contexto para PIB fica mais fragilizado não somente pelo fato que foi de curtíssimo prazo, mas porque fez aflorar e se tornar transparente permitindo visão mais crítica e correta a respeito do momento futuro do país.

A questão do controle dos preços dos combustíveis muito provavelmente não encontrará uma solução adequada, racional e moderna, pois o momento é propício à tendência populista, principalmente quando se tem um governo com baixo apoio popular.

“Trazido a valor presente” o “status quo” do país para este ano, acentuam-se as dúvidas e incertezas e o ambiente deve se tornar cada vez mais defensivo por parte do setor produtivo do país e com isto travar bem a dinâmica da atividade econômica, pondo a maioria das decisões em espera para o momento posterior a sucessão presidencial.

No momento, face ao baque rápido e forte recente o mercado financeiro intentará alguma recuperação, mas ao que tudo sugere o movimento de saída dos investidores estrangeiros poderá se intensificar, já era prevista e estava em curso, e o preço da moeda americana deve ficar volátil, com viés de alta, sugerindo que o BC atue não somente com a oferta de swaps cambiais, pois a demanda por proteção deverá ser até cadente, mas com leilões de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, irrigando assim a liquidez do mercado a vista, nos parecendo até tardio nesta ação.

O Boletim FOCUS vem fazendo ajustes repercutindo as projeções apontadas pelas instituições financeiras, mas aparenta estar “atrás da curva” pela gradualidade quando o cenário já sugere mais rigor.

O dólar a R$ 3,50 é uma projeção abaixo da expectativa, mesmo se o país eleger um presidente alinhado com reformas que são fundamentais para o país, enquanto o crescimento do PIB em 2,18% já não se configura viável este ano, e mesmo a inflação a 3,65% já encontra fundamentos para colocá-la um pouco acima.

Enfim, o contexto prospectivo sugere o preço da moeda americana, a despeito das intervenções do BC, com viés sustentável de alta e a Bovespa nos parece inevitavelmente sujeita a um ajuste mais intenso colocando um viés sustentável de baixa.

O momento pós “crise dos caminhoneiros” pode apresentar comportamento atípico face às efetivas perspectivas, mas logo, acreditamos, retomará o contexto prospectivo que projetamos, mesmo que com alguma volatilidade.

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