Sidnei Nehme: Projeção 2016/2017 revelou resultado melhor, já 2017/2018 tende a resultado pior
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
Chega-se ao final do ano de 2017 com a sensação de um ano inacabado e que não encontrou solução para seus problemas cruciais, principalmente em relação à questão fiscal que continua desestabilizadora, mas que cultivou uma melhora de humor com resultados ainda discretos e não sustentáveis, porém exaustivamente comemorados a ponto de criar um clima de otimismo exacerbado que conduz as análises e avaliações a desconsiderarem riscos efetivos existentes na trajetória de 2018.
Se compararmos as projeções para 2017 contidas no Boletim FOCUS de 30 de dezembro de 2016 com resultados quase efetivos de 22 de dezembro de 2017, verificamos que o concreto ficou muito melhor do que o abstrato.
O IPCA era projetado para 4,87% e o dado efetivo está em torno de 2,78%. O IGP-DI em 5,13% e o dado atual é de 4,44%. O IGP-M em 5,08% e o dado atual é -0,52%. O dólar era previsto para R$ 3,48 e tende a R$ 3,30. A SELIC em 10,25% e o dado atual é 7,0%. O PIB era 0,50 e deve fechar 2017 em torno de 1,0%. Produção industrial em 0,88% sinaliza 2,03%.
Pode-se contestar dizendo que o sentimento a respeito da inflação é bem diferente dos 2,78% ou que o preço do dólar foi fortemente administrado pelo intervencionismo do BC, etc. etc., mas o fato é no comparativo do instrumento que propaga as projeções medianas captadas pelo BC junto aos agentes do mercado financeiro fica evidente que ficou bem afastado do sentimento prevalecente no final de 2016.
Há inúmeros fatores que interagiram para que isto acontecesse, nem todos meritórios e positivos, mas o fato é que é difícil admitir-se que as formulações teóricas das projeções sejam sustentáveis frente aos inúmeros vetores com substantivas incertezas.
Neste dezembro de 2017 existe um otimismo cético que conduz a desconsideração e avaliação com maior acuidade os riscos em perspectiva para desempenho da economia brasileira.
Inicialmente, acreditamos que não tem sido bem ponderada a questão política que pode ser bastante perturbadora e desestabilizadora, levando a cena política a sobrepor-se à economia. O ano é eleitoral é há em curso disputas que passam pelo judiciário e chegam ao acirramento da disputa com possibilidade de grande perturbação popular. E isto pode ter início logo a partir de janeiro.
Há o risco do país não conseguir aprovar a reforma da Previdência, o que não conseguiu neste ano que se finda, e que poderá ser fortemente politizada para sua votação tendo em vista as prematuras candidaturas ou insinuações de parte de integrantes do governo atual e da proximidade maior das eleições o que exporá de forma mais intensas os pretensos candidatos a reeleição.
Já está presente o risco do país sofrer um “downgrade”, mas que se não acontecer agora em razão do enorme problema fiscal presente, tende a ocorrer se a reforma da Previdência se não for aprovada.
E pior, já há analistas especializados na questão que entendem que a solução não está unicamente na aprovação da reforma, indo ao rigor de admitir que o país pode ir ao default caso não consiga aprová-la, acentuando que as contas públicas irão piorar nos próximos anos mesmo se a reforma passar, mas que sem ela o contexto piorará muito mais.
Há fatores externos, principalmente em torno dos Estados Unidos, cuja economia revitaliza-se e o governo se empenha num ambicioso programa de repatriação de recursos das empresas americanas atualmente no exterior, falando-se em algo como US$ 400,0 Bi, o que poderá impactar fortemente nas moedas dos países emergentes, como o Brasil. Além disto, o FED sinaliza que em 2018 poderá ocorrer 3 elevações de juro.
O conjunto da obra – descontrole da política fiscal, risco de “downgrade” e acirramento da disputa politica prematuramente -, pode levar os investidores, nacionais e estrangeiros, neste caso especuladores ou não, a uma postura de precaução e deixar de investir neste ano no Brasil e os especuladores, que são expressivos, a saírem do país.
É um engano imaginar-se que o juro vantajoso seja catalisador por sí só da atratividade do país, sendo que o risco que o país possa representar por vezes tem maior peso.
Por outro lado, há muitas comemorações em torno de pequenos sinais de recuperação carentes de sustentabilidade. A questão do desemprego que voltou a registrar perda de postos de trabalho em novembro e que deve repetir em dezembro, e que tem até novembro um dado positivo de 299.000 novos empregos, mas que é inexpressivo frente a uma massa de desempregados da ordem de 12 milhões, sendo somente meritório o fato de ter estancado o crescimento da massa, mas que não justifica o euforismo com aumento de renda, etc. etc. que é conversa de palanque, pois é muito pouco para o nível ainda expressivo de inadimplência e estoque de dívidas dos consumidores.
A taxa SELIC caiu e é projetada em mais uma queda, mas o juro para pessoa física ao invés de cair continua subindo, com a justificativa de que o ambiente de incertezas determina este paradoxo. Neste momento é considerada a realidade do momento e não a euforia de que está tudo melhor.
O fato é que ainda não há fundamentos sustentáveis, sólidos, sobre o que ocorre na economia brasileira, prevalecendo a ideia de que “ está dando alguns sinais de acerto mas ninguém sabe exatamente o por que”.
Então, a melhor postura é o monitoramento dos fatos e atos internos e externos que ocorrerão e avaliar a intensidade do impacto na dinâmica do país, pois nada conduz a convicções efetivas.