Sidnei Nehme: Pressão sobre o dólar é um equívoco sem fundamentos
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
Aproxima-se o dia do Ptax, a virada do mês, e isto enseja embates diários fortes e firmes entre “comprados” e “vendidos” no entorno dos posicionamentos em dólares no mercado financeiro.
Este fato pontual pode determinar fortes distorções no preço da moeda americana, afora volatilidade intensa.
É bem provável que a exacerbação do preço vá além dos parâmetros atuais, pela prevalência dos comprados, mas, se ocorrer, será algo pontual, pois na realidade as ações, puramente especulativas ancoradas num falso argumento que decorrem das incertezas políticas, não têm capacidade de se sustentar com fundamentos, mesmo que seja o argumento o desapontamento em torno dos indicativos das pesquisas eleitorais, pois o país não tem vulnerabilidades na área cambial.
A “emoção está prevalecendo sobre a razão”, mas continuamos com a firme percepção de que o movimento especulativo vai acabar se esvaziando por si só no momento em que os fomentadores do movimento especulativo tomarem consciência que, desta vez, não há como fazer do preço do dólar no mercado brasileiro o sensor mais efetivo do elevado grau de insegurança advinda das dúvidas e incertezas.
Desta vez não há sustentabilidade para expressar os “receios” em torno da sucessão presidencial aviltando o preço da moeda americana. Forçar a repetência de fatos de momentos de eleições sucessórias presidenciais anteriores pode se revelar um erro crasso e provocar perdas relevantes.
Como temos salientado não há como se identificar qualquer sinergia entre o ambiente prevalecente em 2002 e o atual em 2018. Os contextos preocupantes são absolutamente inversos, antagônicos mesmo, já que, por mais contraditório que possa parecer, o Brasil não tem riscos de crise cambial, convivendo mesmo com um ambiente absolutamente folgado neste segmento.
O BC está corretíssimo ao dar evidência que o que se presencia nada tem a ver com movimentos concretos de oferta e demanda no mercado de câmbio, e que, não havendo demandas efetivas não há necessidade de quaisquer intervenções no mercado de câmbio.
Desta forma, mantém a observação sem insinuar intervenção, que só deve ocorrer se houver sinalização de demanda por proteção cambial, bastante improvável com o preço da moeda americana no patamar atual e até porque os demandantes, na sua grande maioria, devem estar adequadamente protegidos da variação cambial, e, se houver necessidade esta advirá do mercado à vista, para lastrear a saída de recursos de estrangeiros do mercado financeiro, neste momento mais acentuado das carteiras de aplicação em renda fixa, mas que em perspectiva devem se acentuar na saída de recursos do mercado acionário.
A despeito de ainda demonstrar certa resistência, acreditamos que doravante deva merecer especial atenção a propensão a movimentos de saída de recursos do mercado acionário, que afora a necessidade de posicionamento defensivo por parte dos investidores, há como um esvaziamento nas perspectivas de curto/médio e talvez de longo prazo para que a economia brasileira retome nível de atividade que justifique os preços das ações brasileiras e isto fortalece a ocorrência de movimento de realização.
Movimentos de alta recentes na Bovespa podem ter sido somente uma forma de dar um “up” nos preços para melhorar as perspectivas de saída com realização de lucros, não indicando nenhuma tendência de retorno do otimismo em torno do nosso mercado de ações.
Tudo indica que após a saída dos estrangeiros das aplicações em carteira, fortemente acentuado neste mês de agosto, agora ocorrerá também a saída dos investimentos na Bovespa.
Como temos salientado o dólar nesta oportunidade não é o ativo sensor do eventual “pânico” que possa se instalar no mercado financeiro, não há absolutamente “por que”, já que é a deteriorada situação da economia com grave situação fiscal o foco dos destemperos e preocupações em torno das capacidades dos candidatos em implementar reformas e medidas corretivas focando a reversão deste quadro.
Então, o impacto negativo e preocupante deve ser direcionado para o desempenho da atividade econômica e das empresas que nela militam e isto está direcionado diretamente com o preço dos papéis na Bolsa.
É preciso ficar atento, nem tudo que se está presenciando é efetivo e procedente, há riscos presentes verdadeiros nos segmentos do mercado financeiro que poderão ganhar viabilidade e visibilidade com fundamentos, no curto prazo.
O exterior tem baixa influência no comportamento dos preços dos nossos ativos neste momento, o foco é preponderante no ambiente interno, e o dólar, salvo erro, já havia precificado todas as expectativas em torno do FED e dos fatores internos efetivos quando atingiu o preço de R$ 3,80, estressando até abaixo de R$ 4,00.