Opinião

Sidnei Nehme: pressão emocional perde ímpeto e o racional e fundamentos são recompostos

04 abr 2019, 7:40 - atualizado em 04 abr 2019, 7:40

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Ainda de forma gradual, mas até certo ponto consistente, observa-se que há um viés se acentuando no sentido do ajuste dos preços dos ativos na Bovespa e do dólar, na medida em que ocorre um esgotamento natural do movimento que induziu as distorções a partir do mês de março, consubstanciados em “temores” habilmente construídos e plantados no mercado que ancoraram quedas na Bovespa e depreciação do real frente ao dólar.

O movimento recorrente e já contumaz, mais uma vez, vai esgotando-se em si próprio pela absoluta falta de fundamentos, e desta forma, a Bovespa sinaliza que pode retomar posição no entorno dos 100 mil pontos e o dólar pode ainda perder mais uns 2,5% do seu preço e retornar aos R$ 3,75, que consideramos o seu preço de equilíbrio neste momento.

O Brasil está efetivamente à mercê do Brasil, e, até por inevitável, a Reforma da Previdência, mesmo com intensos ruídos e desencontros políticos no seu entorno, inevitavelmente cumprirá o seu percurso de rito e, ainda que possa ser desidratada ao longo dos debates, certamente proverá o novo Governo com bom volume de contenção de gastos, ajudando sobremaneira a superação da expressiva crise fiscal com que se defronta o país.

Por hábito e costume, ainda se atribui muitas das nuances no nosso mercado a este ou aquele movimento no mercado externo, até, por vezes, considerando favorável o que é exatamente o contrário.

Por vezes, se nota alguma euforia pelos avanços das negociações entre China e USA, quando na realidade poderá ser um evento absolutamente negativo para o Brasil, embora ambos sejam parceiros e concorrentes ao mesmo tempo, e cujo alinhamento pode nos colocar em desvantagem em itens relevantes de nossas exportações.

Será positivo para a economia global, mas longe de ser algo alvissareiro para o Brasil, e a despeito disto, deve ser salientada a preocupação expressada pelo FMI no sentido de que a economia global crescerá abaixo da projeção realizada de 3,5%.

A economia global está num momento de pouca euforia e muita preocupação em torno da questão USA/CHINA, Brexit, descompassos na União Europeia, etc…, e o Brasil neste momento tem substantivos problemas que dependem mais de si mesmo do que da economia global.

Inegável que o contexto político nervoso e desconexo afeta as projeções econômicas, e assertivamente só piora os cenários favoráveis que foram projetados ao início do novo governo, havendo já de forma consistente um desapontamento em relação ao PIB, semana a semana com projeção menor.

O contexto prospectivo ainda é binário, mas há um viés discreto de otimismo, já que a Reforma da Previdência, por inevitável, terá que ter evolução.

Este ambiente sugere uma disciplinada estabilidade decorrente do “estado de observação”, já que há efetiva inibição ao investimento que, quando e se ocorrer, motivará a retomada da atividade econômica, o desenvolvimento, e a recuperação do emprego, renda e consumo.

Por isso nos parece inconsequentes os movimentos mutantes nos segmentos do mercado financeiro, absolutamente desamparados de fundamentos concretos, e ainda pior, quando se busca agregar fatores externos importantes em relação à economia mundial, mas de pouca relevância para o Brasil neste momento.

A despeito da aparente desordem por vezes sinalizada com excesso, o BC corretamente tem se mantido ausente do mercado de dólar, certamente por entender que há instalado um movimento especulativo absolutamente insustentável por ausência de fundamentos.

Março encerrou o fluxo cambial com saldo positivo de US$ 3,132 Bi, sendo US$ 305,0 M no comercial e US$ 2,827 Bi no financeiro, não havendo evidências de “fuga de capitais” do país, mas sim de que os investidores estrangeiros, compreensivelmente, ainda se mantém retraídos em relação ao Brasil, postura que deveria predominar de forma mais ampla no nosso mercado financeiro, ou seja, observação, mantendo a sensatez, nem exacerbações para mais ou para menos, até que haja condições efetivas de visões prospectivas.

Os bancos fecharam março com posições vendidas no mercado a vista de US$ 20,435 Bi, parcialmente ancoradas por linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra.

Não vemos consistência nos movimentos recentes e nos parece inevitável que a Bovespa retorne para o entorno de 100 mil pontos e o dólar para R$ 3,75, de forma gradual.

Hoje, entretanto, o mercado deve sofrer o mal humor decorrente do embate entre o Ministro Paulo Guedes e os deputados, onde ficou patente que a grande maioria discute a importante matéria de forma emocional e não racional, deixando evidente o elevado grau de desconhecimento dos deputados deve ser considerado preocupante.

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