Sidnei Nehme: Preço do dólar especulado esgotou capacidade de subir
Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
O BC continua agindo corretamente se mantendo alheio a volatilidade forjada pela especulação absoluta e transparente que é desenvolvida pelo mercado, sim sem exceções sobre a formação do preço do dólar.
Para decepção do movimento especulativo as sinalizações indicam que o preço da moeda americana, fortemente especulada e incompatível com a situação cambial do país, atingiu o pico em que estão precificados todo dos eventuais impactos das piores expectativas em torno do pleito presidencial.
Da mesma forma que o BC parece entender claramente o que ocorre no momento, tendo consciência de que o preço atual não é sustentável após as eleições, deverá ser coerente e não precipitar quaisquer mudanças na taxa SELIC, mantendo, contudo, a manifestação de que permanecerá atento ao cenário prospectivo, não sinalizando qualquer tendência, o que é correto e inteligente.
É verdade, na nossa percepção e já reiterado inúmeras vezes, que a especulação tem o seu fator propulsor o grande estoque de swaps cambiais em poder do mercado sem vínculo com proteção cambial, mas simplesmente adquirido por ocasião da excessiva oferta realizada pela autoridade monetária em junho passado.
O foco do movimento especulativo é forjado a partir de eventuais temores em razão do processo eleitoral, o que é infundado quanto ao câmbio, já que notoriamente o país está soberbamente defendido no quesito cambial seja qual for o candidato vitorioso.
Poderá até usar o argumento do novo candidato do PT agregar preocupações por ser competitivo, mas inegavelmente este já não era um fator fora do radar.
A realidade é que o país tem uma sólida situação que o deixa imune a uma crise cambial, certeza ancorada na exuberância de suas reservas da ordem de US$ 380,0 Bi e a existência de mecanismos operacionais que permitem ao BC ancorar a liquidez, seja por proteção seja no mercado a vista, além de um déficit em conta corrente bastante confortável.
Consideramos que as ilações de sinergia da situação de 2018 com 2002 são absolutamente tendenciosas para pregação de um contexto inexistente, e o que surpreende é que até alguns setores do mercado financeiro, supostamente interessados no fomento do cenário crítico, agreguem opiniões asseverando esta situação de absoluta irrealidade.
Já tivemos oportunidade de destacar o contraditório com o qual convive o Brasil. Séria crise na economia de revela baixo nível de atividade, soberba crise fiscal, desemprego, etc., etc…. e uma situação absolutamente tranquila na questão cambial.
A “memória de crises passadas” está sendo utilizada como elemento alavancador do preço da moeda americana, mas desta vez não é o dólar o melhor sensor do momento, por isso será insustentável e poderá ocasionar isto sim, perdas aos incautos a exemplo do que ocorreu em situações antecedentes.
Alta do juro e até uma realização mais acentuada na BOVESPA, o que ainda não ocorreu, até porque os investidores estrangeiros estão com seus recursos protegidos por “hedge”, podem ser considerados efeitos absolutamente sinérgicos com o momento, mas não o dólar.
O IBC-BR do mês de julho foi anunciado pelo BC em 0,57%, após 3,42% (revisado) de junho. Frente a julho de 2017 o crescimento é de 2,56 e ao longo dos 12 meses aponta 1,46%. A projeção do Boletim Focus esta semana foi reduzida de 1,40% para 1,36%, mas acreditamos que os próximos meses não serão promissores, por isso mantemos nossa projeção de 1,0%.
O Boletim Focus também revisa a sua projeção para o dólar ao final do ano de R$ 3,80 para R$ 3,83, porém continuamos mantendo a nossa projeção em R$ 3,80.
Por último um alerta, entendemos risco elevado aos “apostadores” no dólar com baixa capacidade de interferência no curso da formação do preço, pois o risco de perdas está se acentuando fortemente.