Opinião

Sidnei Nehme: Política afasta racionalidade e fundamentos dos preços

01 abr 2019, 12:10 - atualizado em 01 abr 2019, 12:10

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Temos utilizado um dos conceitos do que seja “random walk” para buscar explicar a formação dos preços dos ativos, atualmente, no nosso mercado financeiro, qual seja “o preço de hoje é igual o de ontem agregando os fatos novos”, ou seja não há como realizar-se projeções ancoradas na visão racional e com base em fundamentos.

Os preços, sejam do dólar, sejam na Bovespa, estão à mercê dos humores emanados pelo embate político, e este tem sido uma fonte inesgotável de geração do imponderável.

Findo o 1º trimestre e o país ainda “patina” nos avanços para a medida fundamental para a sua viabilização econômica, de vez que a Reforma da Previdência é vital para recompor melhores perspectivas para a severa crise fiscal que assola o país, e que, tem impacto absolutamente neutralizador na atividade econômica na medida em que inibe os investimentos, que como consequência alavancaria o desenvolvimento, a geração de emprego, renda e consumo.

Num confronto em que Governo e Congresso Nacional tem um sentimento de “não responsabilidade principal” sobre o andamento da relevante matéria, cada um buscando atribuir a outrem a obrigação das iniciativas, falta protagonismo e sobra politicagem que acaba impactando fortemente no ambiente do mercado financeiro, que perde a racionalidade e se afasta dos fundamentos.

Então, os preços dos ativos oscilam de forma absolutamente “emocional”, ensejando oportunos movimentos especulativos, já que o ambiente fica propício.

O preço da moeda americana, sem que haja demanda justificável para impactos, passa a ser exacerbado e neste ambiente distante de fundamentos cria expectativas de que pode atingir este ou aquele preço desastroso, porém, sem que tenha uma razão fundamentada para tanto.

O Brasil tem uma situação absolutamente tranquila nas suas contas externas, reservas substantivas, BC tem adequada estrutura operacional para suprir eventuais pressões de demanda no mercado a vista ou no futuro, não havendo evidências de fuga de capitais do país, ocorrendo sem dúvida uma retração nos ingressos de investidores estrangeiros face à expectativa em relação aos avanços da Reforma da Previdência, mas este fato não é impactante na formação do preço da moeda americana no nosso mercado neste momento.

O fundamento não sugere exacerbação no preço do dólar, o país não tem risco de crise cambial, mas o que fomenta os excessos é a especulação a partir do mercado de dólar futuro valendo-se da “tradição” e afastando-se da “razão”, que está consubstanciada em números fortes que sanciona a normalidade.

O BC corretamente assiste e não intervém por saber que o movimento é absolutamente improcedente e insustentável.

Com este quadro presente é oportuno ressaltar o quão distante está o anseio manifestado pelo novo Presidente do BC, Campos Neto, de tornar o Real uma moeda conversível.

Mantega, quando Ministro, ao verificar o giro que envolvia o Real no mercado global também demonstrou este anseio.

O fato é que o Real tem giro por ser uma moeda típica para “especulação” e não reserva de valor, como seria se conversível, que exigiria estabilidade econômica do país para lastrear a credibilidade do país, que atualmente já é um problema para alguns países com moeda conversível após o fim de Bretton Woods e mesmo com a criação de um Bretton Woods II também com tendência de descontinuidade.

O Brasil não tem um quadro prospectivo consolidado que projete uma superação do quadro atual para um quadro de estabilidade econômica e rigoroso equilíbrio fiscal, por isso é vulnerável e ocorre a especulações na formação do mercado local do preço do dólar, embora os fundamentos sustentem, de forma pontual no quesito câmbio, que o país está bem defendido, mas para ser conversível é necessário muito mais do que isto.

O Boletim FOCUS continua projetando a taxa cambial para o US$ ao final do ano em R$ 3,70, que é também a nossa projeção e que consideramos a taxa de equilíbrio já presente com uma volatilidade até R$ 3,75.

O impasse em torno da Reforma da Previdência vem impactando de forma severa sobre os prognósticos para o PIB 2019, o Boletim FOCUS projeta 1,98%, o que parece realista tendo a FGV projetado em 2,0%.

A inflação ainda é vista comportada e isto mantém em linha a projeção para a SELIC em 6,50%.

Acreditamos que gradualmente, até por falta de fundamento que dê sustentabilidade, o preço da moeda americana tenda a retornar ao entorno de R$ 3,70 a R$ 3,75, mas continuando à mercê dos humores políticos.

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