Sidnei Nehme: Percepção externa prospectiva sobre o Brasil está melhor que a interna
Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio
Pontos relevantes como um CDS de 119 pontos, inflação baixa com viés de continuidade da tendência, juro baixo, ações do governo com sucesso na implementação da Reforma da Previdência e iniciando a Reforma Tributária, planos de desestatização da economia, reforma administrativa em foco, imunidade a crise cambial face deter soberbas reservas cambiais, etc.
Parecem fatos pouco considerados internamente no país que está fortemente absorvido pelo confronto ideológico que não reconhece o lado positivo mas tão somente o negativo, que na grande maioria das vezes absorve a atenção maior relegando a plano secundário o que mais acontece de efetivamente importante.
A despeito de todo o imbróglio que se faz presente no burburinho do dia a dia brasileiro, há avanços substantivos e meritórios em andamento, e isto parece merecer melhor consideração quando visto do exterior, por parte dos investidores estrangeiros, que denotam estar com o Brasil “sob observação”; porque conhecem também as dificuldades fiscais do país, o grave problema do desemprego e suas consequências e a combalida atividade econômica.
Mas o mundo como um todo está com desajustes magnânimos e que estão ensejando revisões das políticas monetárias das suas principais economias, não afastando de muitas o risco de recessão, o que atenua a baixa projeção do PIB brasileiro, num ambiente absolutamente adverso.
A economia global sofre os reflexos diretos do embate comercial entre EUA e China, há perdas para todos e ganhos temporários pontuais para um ou outro, mas há mesmo incertezas e riscos para a globalização, visto que o “protecionismo” ressurge com força e este fato é na realidade um retrocesso.
Há um questionamento do tipo “o que será do amanhã?”, sem que se possa ter uma visão consistente e sustentável.
A projeção para crescimento do PIB brasileiro circunda o 0,8% e era tido como drástico, como de fato o é ante a necessidade do país para solver seus problemas mais imediatos, mas já é mais “tolerado” na medida em que economias fortes revelam a fragilidade do baixo crescimento ou até mesmo da recessão. Não é bom, mas compreensivelmente não mais caótico.
Pelo que se lê e se observa de manifestações de organismos e instituições internacionais o Brasil começa a ser mais detidamente observado e é bem possível que reverta a falta de atratividade.
O Banco Mundial estimou que o país precisa de R$ 290 bilhões de investimentos estruturais e que o governo só tem capacidade para realizar R$ 130 bilhões, então, num tempo em que os recursos externos estão sendo “punidos” com juro negativo, o Brasil aparece como um “oásis” de oportunidades.
Basta que o governo implemente as ações e conquiste apoio político, porque junto com o fluxo do capital estrangeiro acontece a recuperação do emprego e a geração de renda e consumo, e na margem, absoluta melhora fiscal. O governo fala muito em privatizações, mas precisa sair do discurso para a ação efetiva e objetiva.
Há inúmeras opções para fomentar a recuperação da atratividade e atrair fluxos de recursos estrangeiros não especulativos, mas construtivos, e já não parece haver tanta aversão ao risco Brasil, visto o CDS é um excelente indicativo.
Cabe ao governo sinalizar efetivamente as oportunidades e agir de forma melhor articulada, pois plagiando Roberto Campos, há todo o risco de dar certo.
Por enquanto o dólar a R$ 4,10/R$ 4,15 repercute a realidade conjuntural do momento, mas não é improvável que o real retome a linha de apreciação gradual na medida em que os fluxos de recursos se acentuem para o país, ancorados na atratividade.
Visto que não é possível imaginar-se novo “boom” das commodities que inundaram o país com recursos externos e afora o acúmulo de reservas cambiais com aumento da dívida pública, não foram consolidados avanços concretos, havendo tão somente um sentimento de riqueza que foi tão efêmero quanto a sua irrealidade.
O Brasil vive experiências novas como juro interno e externo baixo, inflação baixa, risco baixo etc.. que no passado tinham perfil bem diferente e permitiam o ganho fácil e a atratividade especulativa.
Poderemos ter o dólar com preço em patamar expressivamente mais baixo, não de forma tão imediata, mas numa conjuntura que o faça acontecer de forma sustentável, pois o BC já deu mostras de que não há risco cambial e que, o que era teoria funcionou na prática, quando necessário utilizará adequadamente as reservas cambiais.