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Sidnei Nehme: Otimismo retorna. Ruídos e reações em torno de Lula são maiores que precificados

24 jan 2018, 12:02 - atualizado em 24 jan 2018, 12:02

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Após discreta insinuação de postura defensiva ocorrida ontem, o mercado financeiro denota recuperar o otimismo, mas é inegável que os ruídos e reações em torno do julgamento do ex-Presidente Lula extrapolam as perspectivas havidas, e, isto é preocupante no sentido de que podem, independente do resultado, continuar conturbando o ambiente negocial brasileiro até, pelo menos, o mês de agosto.

Da forma que for proferido o veredicto a intensidade das repercussões poderá ser maior ou menor, mas é inegável que atitudes reacionárias poderão se revelar amplamente perturbadoras, pois entre o momento da decisão e o prazo em que o ex-Presidente, se condenado, possa ser declarado inelegível, mês de agosto, há um grande intervalo para que continue em campanha pelo Brasil, até porque ainda poderá recorrer ao STJ e STF, arrastando o assunto até meados de setembro, ou seja, quase às vésperas das eleições.

Esta perspectiva do impedimento prematuro, mas com continuidade da campanha até ser declarado inelegível, gerará um ambiente tenso no país e, caso venha a ser inocentado, hipótese tida como totalmente improvável, o impacto no otimismo do mercado financeiro será absolutamente negativo, com forte reversão das expectativas, até porque segundo as pesquisas o ex-Presidente vem liderando de forma consistente.

Desta forma, o ambiente político tende a ocupar as manchetes da mídia e, caso seja efetivamente condenado, apontará para os políticos atuais a perspectiva de serem os “Lula´s” em 2019, caso não sejam reeleitos, o que será perturbador e desconfortante.

Além do fato pontual, o contexto político ainda haverá muito que se resolver no campo político, como a definição de candidatos à Presidência, além de, no curtíssimo prazo, o governo conseguir construir uma base sólida de apoio às reformas, sem o que a crise fiscal poderá se agravar seriamente e o país sofrer novos “downgrade”.

A dantesca crise fiscal é de uma gravidade enorme para o país, e isto nem sempre é considerada de forma mais realista pelo mercado, da mesma forma que o julgamento do ex-Presidente Lula que aparentemente não vinha sendo visto como um risco desestabilizador do cotidiano neste 2018.

Então, cada vez mais se nota que a liquidez ainda forte no mercado internacional e os índices CDS e EMBI podem estar mitigando a visibilidade das incertezas e dúvidas vislumbradas pelas agências de rating.

Há de fato incertezas e dúvidas quando se foca o Brasil e seus problemas e que estão sendo mitigados pelo entusiasmo advindo da presença forte de investidores estrangeiros especulativos no país, mas há também riscos efetivos que podem surgir com a mudança do cenário externo em relação aos emergentes.

Se o Brasil tiver mais um downgrade seja por parte da Moody’s ou FITCH ou até por parte de ambas, o “apetite” pelo país poderá ser diminuído, ainda que o CDS e o EMBI não sejam sensibilizados de imediato.

Acreditamos, que o julgamento do ex-Presidente Lula e suas reações será o primeiro de inúmeros fatos ou fatores perturbadores na trajetória do país neste ano de 2018.

O otimismo é uma postura bastante positiva, mas não pode estar amparado em anseios e sinais ainda frágeis, por isso é recomendável que haja um posicionamento cautelar, lembrando sempre que a direção é mais importante do que a velocidade.

Consideramos bastante improvável que, a despeito da intervenção do BC, o preço da moeda americana não sofra impactos e seja apreciado ainda neste 1º trimestre.

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